FóRUM
Alethea Aires Pecora* Cristina Angelini Melchior**
Alethea Aires Pecora* Cristina Angelini Melchior**
No momento da entrevista, a Dra.Bettina Schmidt estava alocada como
pesquisadora em Estudos das Religiões na Universidade de Bangor, Escola de
Teologia e Estudos Religiosos1. Seu mestrado foi em Antropologia e Estudos
Religiosos e sua tese foi sobre a medicina tradicional da Purhépecha, no México;
o doutorado com tese sobre etnicidade e religião, com referências à Santeria e ao
Espiritismo em Porto Rico. O pós-doutorado foi em teorias culturais e religiões
caribenhas, todos pela Universidade de Marburg. Bettina tem trabalhado como
conferencista em Antropologia para várias universidades alemãs. Foi professora
convidada na Universidade de Nova York e na Universidade Nacional de San
Antonio Abade em Cusco, no Peru. No momento, ela é membro do conselho dos
editores da revista Indiana, publicação anual do Instituto Ibero-americano em
Berlim, e da revista Curare, de Antropologia Médica e Psiquiatria Transcultural,
publicada pela AG Ethnomedicine. Recentemente, Bettina transferiu-se para a
Universidade de Wales Trinity Saint David, no país de Gales. O departamento
em que atua combina Teologia, Estudos das Religiões e Estudos Islâmicos, e reúne
dezenove pesquisadores com diferentes especializações. Em 2010, a pesquisadora
publicou o livro Spirit Possession and Trance: New Interdisciplinary Perspectives (Conti-
nuum Advances in Religious Studies Series) (Londres, Continuum).
REVER: Bettina, fale um pouco do seu trabalho e por que escolheu viver e trabalhar
fora da Alemanha.
BES: Após o término do meu pós-doutorado, devido à dificuldade de en-
contrar uma oportunidade nas universidades da Alemanha, eu me candidatei a
uma vaga na Universidade de Oxford para o departamento de Estudos Religiosos e Antropologia. De início, eu achava que não teria chances porque era a única
candidata estrangeira. No entanto, isso não parece ter sido um impedimento, uma
vez que fui convocada e contratada por três anos. Para mim, estar num ambiente
de língua inglesa e, particularmente, em Oxford, foi uma grande oportunidade
profissional para sair do sistema alemão. Anteriormente, eu já havia feito pesquisas
e ministrado aulas nos Estados Unidos, mas sempre acabava retornando para a
Alemanha. Graças a essa experiência em Oxford, fui contratada pela Universi-
dade de Bangor, afiliada à Universidade de Marburg, na Alemanha. Trabalho
com religião afrocaribenha há 20 anos, comecei em 1990. Fui pela primeira vez
a Porto Rico quando decidi fazer meu doutorado sobre os caribenhos. Durante
minha visita, decidi trabalhar com as religiões. Desde então, estudo as religiões
afrocaribenhas analisando diferentes áreas e questões, mas geralmente questões
sobre a identidade, imigração e diáspora. Foi então que observei algumas possessões
espirituais pela primeira vez e decidi escrever um pequeno artigo sobre o assunto,
focando os praticantes e sua performance, enfatizando o quanto isso era fascinan-
te. Então, quando voltei para a Inglaterra, percebi que não era hora de entrar na
questão de possessões espirituais, porque eu teria que me aprofundar mais sobre o
assunto. Em Oxford comecei a estudar a possessão na África e a história europeia
da possessão espiritual. Foucault escreveu sobre isso, muitos pensadores franceses
trataram do assunto. Eu decidi delimitar meu campo. Então, como antropóloga,
percebi a necessidade de entrar no campo empírico, não só no campo teórico.
Decidi mostrar para outras pessoas no que eu estava trabalhando.
REVER: Como você vê a situação da Antropologia na Inglaterra e na Europa em geral?
BES: Por muito tempo a França e a Alemanha seguiram uma Antropologia
Cultural, enquanto a Escandinávia e o Reino Unido seguiam mais o caminho
da Antropologia Social. Hoje, essa delimitação já não existe e tanto a Inglaterra
quanto os outros países europeus dedicam-se às duas áreas da Antropologia. Ago-
ra, as duas correntes antropológicas são capazes de tratar de religião e conceitos
culturais, diferentemente de antes, quando o foco estava nas hierarquias sociais
e políticas. Recentemente a Europa tem se dedicado mais aos estudos antropoló-
gicos que seguem a linha de pesquisa norte-americana, e eu vejo isso com pesar.
A França tem tradições maravilhosas, assim como o Reino Unido. E, antes, eles
tinham orgulho dessas tradições. Da minha parte, não sei se isso é um bom de-
senvolvimento, eu sempre tento me aproximar e trabalhar mais com as ideias da
América Latina. Nas minhas publicações sempre cito estudiosos e pesquisadores
da universidade da Cidade do México e das universidades brasileiras para mostrar
que a Antropologia é uma tradição de destaque na América Latina e não somente
nos Estados Unidos. Entretanto, esse tipo de estudo não é tão apreciado em todas as partes da Europa, pois há uma tendência enorme em se voltar somente para o que está acontecendo nos Estados Unidos.
REVER: Como você vê a relação entre as áreas da Antropologia e da Ciência da
Religião?
BES: A Inglaterra não adota a mesma terminologia da Alemanha e do Brasil.
Lá não se fala Ciência ou Ciências da Religião e sim Estudos Religiosos. Uma vez
que a Antropologia estuda a cultura e a identidade de um povo, ou seja, aquilo
que as pessoas fazem, resolvi me dedicar tanto à Antropologia quanto às Ciências
da Religião. Isto porque acredito que não podemos entender o que as pessoas
fazem se nós não compreendermos primeiro aquilo em que elas acreditam. Esta
é minha abordagem da religião: compreender o outro através do seu sistema de
crenças. É claro que nas Ciências da Religião se utilizam diferentes métodos: as
pessoas analisam textos, estudam as línguas, interpretam textos antigos em sâns-
crito, em aramaico, realizam estudos bíblicos. Outras, ainda, olham através da
Sociologia, das dinâmicas sociais. Entretanto, mais e mais pessoas procuram por
métodos usados por décadas na Antropologia, daí eu pensar que a Antropologia e
as Ciências da Religião têm uma forte relação. Claro que, quando ensino Ciências
da Religião, não fico só na Antropologia, mas menciono os outros campos das
Ciências da Religião, justamente para mostrar essa diversidade, tudo o que tem
impacto na religiosidade. Mas, como sou antropóloga, é claro que levo mais para
o meu campo.
REVER: No seu artigo em “O espectro disciplinar da Ciência da Religião”, seu
público-alvo era o leitor brasileiro. Caso seu artigo fosse endereçado ao leitor europeu,
sua abordagem teria sido diferente?
BES: Eu publiquei recentemente um texto didático de Antropologia da Reli-
gião para os estudantes alemães. Parte dele foi similar ao artigo – eu usei a mesma
estrutura -, mas é claro que também incluí muito mais sobre o desenvolvimento
alemão, o desenvolvimento europeu e também autores que não mencionei nesse
artigo do Brasil. No livro, eu tive oportunidade de escrever muito mais. Incluí
autores brasileiros, de maneira a mostrar o que acontece em outras regiões. Ao final
de cada capítulo incluí uma lista de recomendações bibliográficas, mencionando
autores brasileiros e o desenvolvimento da Antropologia no Brasil.
REVER: Como você avalia a sua área, Antropologia, nos estudos atuais sobre a
religiosidade no Brasil?
BES: Eu penso que no Brasil a Antropologia da Religião é relativamente
forte. Conheci diversas pessoas que trabalham em Antropologia da Religião em Florianópolis e Porto Alegre, desenvolvendo uma Antropologia mais sociológica
como nos movimentos pentecostais brasileiros, mostrando a importância desse
campo nas universidades no Brasil. Acredito que isso se deva à forte influência
da herança francesa, já que Strauss e Bastide estudaram religião, o que justifica
a continuação dessa tradição no Brasil. Isto para mim é bom porque é difícil ter
informações na Europa sobre as publicações brasileiras. Estou compilando todas
as informações para levar para casa.
REVER: Do que trata a sua pesquisa, quais os seus objetivos?
BES: Há cerca de dois anos, organizei uma conferência sobre a interpretação da possessão espiritual e do transe, reunindo pessoas que trabalham com este
tema. Depois nos utilizamos dessas comunicações para realizar uma conferência
internacional na minha universidade, Bangor. Dessa conferência resultou um
livro. Em artigos, procuro escrever sob um ponto de vista mais teórico, tentando
unir o relato pessoal da prática com a teoria existente sobre o assunto. Eu quero
obter informações sobre a dinâmica desse conceito e o ponto de vista dos crentes,
porque a interpretação da possessão espiritual vem do ponto de vista ético. Tenho
tentado coletar informações dos praticantes para entender de dentro aquilo em
que eles acreditam, o que eles sentem. Eu penso que essa prática é enormemente
importante para o nosso estudo das Ciências da Religião porque é um fenômeno
que acontece no mundo inteiro, e não está restrito somente a um contexto cristão,
mas em todas as religiões aparecem alguns aspectos do transe espiritual. Às vezes
esses aspectos são tidos como uma manifestação mais demoníaca, em outros, são
vistos como divinos. Mas estão no mundo inteiro, em diferentes religiões e culturas.
Eu acho que esse, no fundo, é o ponto central de algumas experiências religiosas.
REVER: Como é desenvolver uma pesquisa de campo em uma sociedade à qual não
se pertence?
BES: Temos na tradição da Antropologia europeia sempre essa regulamen-
tação não oficial de que o trabalho de campo tem que ser feito em diferentes con-
textos, no contexto exterior, para experimentar a visão do outro. Um dos debates
nos anos 1990 na Antropologia era de que não poderíamos encontrar o outro em
nossa própria terra natal. Estudantes, para se iniciarem em Antropologia, tinham
que viver fora do seu contexto, sozinhos, fora do país. Isso vem mudando nas úl-
timas décadas, porque agora um estudante pode fazer seu trabalho de campo em
grandes cidades. Eu fiz meu pós-doutorado em Nova York, que é um ambiente
diferente de uma pequena vila no México, onde fiz minha primeira pesquisa. Ago-
ra, a Antropologia feita dentro de casa também é possível. Às vezes, pesquisando
pessoas que moram nas ruas da sua própria cidade, você pode identificar o outro, porque você pode ter uma distância social maior desse indivíduo do que de um
indivíduo que vive na Europa, ou seja, distante de você. O trabalho de campo,
para mim, é inspirador.
REVER: Diferentemente de se trabalhar com povos tribais, como é trabalhar com
grandes sociedades como São Paulo?
BES: No México eu precisava de uma conexão familiar, eu morei na casa de
uma família e pertencia a esta família. Percebi mais tarde que essa família tinha
problemas com outras famílias dessa mesma vila, por isso eu não era aceita pela
comunidade. Isso significa que nas sociedades tribais sua posição dentro dessa
comunidade abre ou fecha as portas de comunicação. E claro, em outros ambien-
tes, isso é diferente. O mais difícil algumas vezes, nas áreas urbanas, é conseguir
informação sobre as cerimônias, o local onde vão acontecer. Na vila todo mundo
sabe de tudo. São os altos e baixos na pesquisa de um e de outro.
REVER: Por que para a sua pesquisa você escolheu a cidade de São Paulo?
BES: Eu gosto de São Paulo desde quando vim pela primeira vez, alguns
anos atrás. Provavelmente porque fui bem recebida e alguns estudantes me apre-
sentaram a cidade. Eu também achei São Paulo semelhante a Nova York. Antes,
já tinha ido para Salvador, que também é um centro urbano interessante, mas é
muito mais restrito para minha pesquisa, pois lá predomina o Candomblé. Em
São Paulo coexistem diversas tradições religiosas. E porque eu queria investigar
as diferenças existentes entre essas manifestações, penso que São Paulo tenha sido
uma boa escolha.
REVER: Qual a relevância do povo brasileiro para a sua pesquisa de campo?
BES: O suporte do povo brasileiro faz com que a pesquisa seja possível.
Eu também tive boas experiências com os brasileiros porque eles gostam de falar
sobre religião. Em Nova York há um controle maior ao se falar de religião porque
muitas das práticas são ilegais, então, normalmente, eles não gostam de falar com
uma pessoa estranha sobre suas práticas. Mas aqui as pessoas são mais abertas e
isso tem a ver com o modo brasileiro de ser. E, para mim e para a pesquisa, isso
é maravilhoso.
REVER: Quais as contribuições eventuais que os resultados das suas pesquisas poderão
oferecer para o campo científico das religiões?
BES: Eu espero desenvolver uma nova forma de entendimento sobre a pos-
sessão espiritual e o transe. Eu não quero associar isso a doenças mentais. Quero
atingir o público em geral, e fazer com que esse estudo não fique restrito ao campo acadêmico, desenvolvendo um novo modo de compreensão da possessão. No ano
passado eu falei em uma conferência dirigida a pessoas que tratam de doenças
mentais para dizer a elas que a possessão espiritual não está relacionada à saúde
mental. E quero continuar a fazer isso. Espero trazer uma contribuição não só
para adicionar uma outra história sobre o Brasil, mas também para mostrar como
isso se encaixa no debate geral sobre a possessão em diversos países.
REVER: Quais os aspectos positivos e negativos que você aponta ao se realizar uma
pesquisa de campo no Brasil?
BES: A primeira dificuldade é obter a informação. Às vezes, leva-se muito
tempo para obter informações sobre as cerimônias, onde elas acontecem, conseguir
que as pessoas envolvidas concordem em dar entrevistas. No começo elas dizem
que sim, são amigáveis, sem problemas; mas então as pessoas viajam, não aten-
dem, não respondem. Eu acho que o problema é que o brasileiro se compromete
e depois não cumpre. Eu não tenho muito tempo, não posso esperar até o Natal
para ter as respostas. Outro problema em fazer pesquisas em São Paulo é o tráfego,
o problema de locomoção. Um aspecto positivo é que a maioria das cerimônias
é aberta. Eu posso comparecer, sou convidada a participar porque eles não têm
medo uma vez que não fazem nada ilegal.
REVER: Como você avalia a sua pesquisa até aqui? De uma forma geral o trabalho
de campo em São Paulo foi o que você esperava?
BES: Até agora tenho 23 entrevistas gravadas, o que é representativo para
uma antropóloga. Além das entrevistas, tenho todo o material pesquisado em
bibliotecas e sites aqui no Brasil que vou levar de volta para casa. Nesse aspecto,
o estar em São Paulo preenche minhas expectativas. Continuo não vendo um
resultado final, até este ponto não cheguei a uma conclusão. Preciso mais tempo
para compilar os dados e discutir o resultado com outras pessoas da área. Volto
para casa com a ideia de escrever um livro.
REVER: Como pesquisadora, as questões de Gênero influenciam na sua pesquisa?
BES: No Equador, por exemplo, eu visitei uma vila na qual eu queria fa-
zer a pesquisa sobre diferentes religiões. Primeiro, eu tinha que me apresentar e
conseguir permissão para fazer a entrevista. Em uma das vilas que fui, um jovem
estudante mostrou-me o caminho da vila e me acompanhou na entrevista. Quando
fui entrevistar o ancião, ele respondia para o estudante e não para mim, embora
eu fizesse as questões. Isto é típico de algumas sociedades tradicionais nas quais
as mulheres são simplesmente ignoradas. O homem só se dirige ao homem, eles
só confiam nos homens. Frequentemente as pessoas se organizam dessa maneira.
No Brasil, um pai de santo, talvez por medo, não se sentiu confortável em falar comigo sozinho. Em duas ou três vezes ele se dirigiu ao estudante que me apre-
sentou a ele, que era homem, mas eu o interrompi de uma forma polida para dizer
que a entrevista era minha. Às vezes isso acontece, mas não é frequente. Aqui no
Brasil esse tipo de situação é um pouco melhor. A parte negativa é que às vezes as
cerimônias têm uma longa duração e a dificuldade é o transporte público - pelo
fato de eu ser mulher e de os cultos acabarem tarde.
REVER: Com quais religiões você trabalha? Assinale as diferenças que você percebe
entre elas.
BES: Há grandes diferenças entre as três tradições religiosas com as quais eu
trabalho: Umbanda, Candomblé e o Centro Espírita. É claro que, às vezes, elas se
misturam. Pessoas que tenho entrevistado frequentam o Candomblé e a Umbanda
ao mesmo tempo, mas, normalmente, estão divididas. Diferentes hierarquias,
cerimônias, mesmo a possessão espiritual é diferente. Algumas estruturas e
funções, no entanto, são idênticas, o conteúdo da prática é que difere. Os orixás,
por exemplo, são diferentes. Eles se apresentam de forma diferente no Candomblé
e na Umbanda. Já o Espiritismo é uma mistura. A Umbanda é uma mistura, claro.
Mas um recebe a influência do outro.
REVER: Como você pretende superar as barreiras impostas pela comunicação, no
caso, as questões das traduções e do entendimento de uma cultura estrangeira?
BES: Eu gravo as entrevistas procurando não interromper a pessoa no mo-
mento em que ela está dando seu depoimento. Não quero interromper o fluxo.
Dessa forma, se eu não entendo o que a pessoa fala, posso recorrer a terceiros para
me auxiliar na tradução. Minha experiência aqui em São Paulo é que as pessoas
estão abertas a diferentes sotaques e ao meu “portunhol”. Fora de São Paulo as
pessoas têm mais dificuldade, pois não estão acostumadas com quem fala espanhol.
Em Porto Alegre é diferente porque eles estão mais próximos da fronteira. Depende
de cada pessoa. Às vezes eles não têm problema nenhum em me compreender e
tentam explicar de diferentes maneiras para que eu possa compreender. Eu também
procuro nas literaturas específicas de outras tradições religiosas para conferir nos
glossários os termos que não consigo entender nas gravações e também checar a
escrita e o significado. Às vezes consulto colegas para me explicar termos que não
encontro em lugar nenhum.
REVER: É possível fazer a pergunta em inglês?
BES: Não. Não é possível entrevistar em inglês. Eu penso que quando você fala sobre religião, deve falar na sua própria língua, utilizando-se de termos
familiares.
REVER: A partir das palestras e das aulas que você ministrou no Brasil, como você
descreve o alunado brasileiro?
BES: Eu ministrei cursos para diferentes públicos. Em Recife, por exem-
plo, eram estudantes universitários, alguns pós-graduados, membros do staff e
profissionais de ciências aplicadas nas áreas de Psicologia e Psiquiatria. O curso
teria a duração de três horas por dia no período da tarde, durante uma semana,
só para mim. A audiência estava mais interessada na terapia de saúde mental e
não em teorização, harmonização ou em debates. Tive que mudar a apresentação
que havia preparado para me concentrar mais naquilo que eles estavam interes-
sados em ouvir, ou seja, o modo como a possessão e o transe impactam a terapia
de saúde mental. E as pessoas vieram, começaram a falar e ficou uma atmosfera
barulhenta. Mesmo com o microfone, estava difícil para mim. Parecia que eu
estava falando para uma barreira de ruídos. Isso foi uma experiência negativa. Já
em outras partes do Brasil, no Departamento de Antropologia, como em Floria-
nópolis e Porto Alegre, foi interessante falar das minhas experiências e as pessoas
faziam perguntas interessantes. Dei uma preleção por mais de uma hora e depois
tive mais uma hora de perguntas. Foi interessante e algumas perguntas foram até
desafiadoras, de um nível relativamente bom. Em Londrina, no Departamento das
Ciências Sociais, as questões foram mais básicas. Eles queriam saber mais sobre os
detalhes que apareciam nos slides e não sobre as ideias. E depois do debate recebi
algumas questões escritas que também eram de um nível relativamente bom. Em
São Paulo fiz uma comunicação na Universidade de São Paulo, infelizmente, du-
rante uma greve. Não havia muitas pessoas, não passavam de vinte. Mas não foi
tão ruim. Foi sobre Antropologia. Eu acho que o nível intelectual dos estudantes
de Antropologia no Brasil é similar ao da Europa.
REVER: Quais os seus planos para o futuro e o que você pretende fazer com o material
pesquisado no Brasil?
BES: Minha primeira oportunidade será em uma conferência da Interna-
tional Association for The History of Religions (IAHR) em Toronto, quando
organizarei uma mesa-redonda com o tema Mente, Corpo e Religião. Essa será
minha oportunidade de apresentar algumas das minhas ideias. Também fui con-
vidada a escrever um capítulo de um livro sobre mediunidade, mas antes disso
vou escrever sobre minha experiência em Porto Rico. Mas o trabalho final mesmo,
como resultado da minha pesquisa realizada aqui no Brasil, será uma monografia.
* Mestranda em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
** Mestre em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
1 Atualmente (2011): University of Wales Trinity Saint David - School of Theology, Religious Studies and Islamic Studies.
Rever • Ano 11 • No 01 • Jan/Jun 2011
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