quarta-feira, 21 de abril de 2010

Estado e Religião - Uma separação de interesse público

 Edilsom Farias

Observa-se no país um crescente interesse do público em geral pela discussão sobre o princípio do Estado laico e a preservação da liberdade religiosa. A última polêmica surgida envolve, especificamente, o caso da ostentação de símbolos religiosos nas repartições públicas por todo o Brasil.

Uma evidência desse interesse social pela temática têm sido as constantes solicitações endereçadas a órgãos do Poder Judiciário e ao Ministério Público, requerendo a retirada dessas insígnias exibidas nos prédios dos governos federal, estaduais e municipais. Por exemplo: o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) foi recentemente demandado a se manifestar sobre o assunto; o Ministério Público Federal, por meio da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão de São Paulo, moveu ação judicial para obrigar a União a retirar todos os símbolos religiosos fixados em repartições públicas federais no estado; e o Ministério Público do Piauí (MP-PI) está celebrando acordos com órgãos estaduais e municipais sobre a questão.

Neste último caso, o MP-PI recebeu representação subscrita por mais de uma dezena de organizações religiosas e leigas, que reivindicava que fossem investigados dispêndios de recursos públicos para subvencionar cultos religiosos autorizados por agentes estaduais ou municipais e, caso comprovada a existência de gastos dessa natureza, que se adotassem as medidas necessárias para a devolução aos cofres públicos do montante. Requereu-se ainda que os dirigentes dos órgãos públicos fossem instados a retirar destes qualquer emblema identificador de determinada religião ou seita. As citadas organizações argumentaram que tais situações e práticas violavam o princípio do Estado laico, insculpido no artigo 19, I da Constituição Federal.

Ajustamento de conduta
Assim, tendo em vista que é dever institucional do Ministério Público zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos aos direitos assegurados na Constituição Federal, promovendo as medidas necessárias à sua garantia, e considerando que, no exercício de suas atribuições, incumbe àquele órgão receber notícias de irregularidades, petições ou reclamações de qualquer natureza, promover as apurações cabíveis que lhe sejam próprias e dar-lhes as soluções adequadas (Lei nº 8.825/93, art. 27, parágrafo único), o MP-PI optou pela estratégia de instaurar procedimento administrativo e realizar audiência pública, com o objetivo de colher subsídios e, alcançado acordo com as autoridades, formalizá-lo por meio de Termo de Ajustamento de Conduta, que tem força legal e enseja a sua execução judicial na hipótese de eventual descumprimento.

É oportuno, então, indagar quanto à conveniência e relevância desse elevado interesse público sobre o assunto colocado, que começa a tomar corpo por todo o país. Contudo, para formular um juízo de valor a respeito da relevância da matéria, é útil relembrar quando e como surgiu a ideia de Estado laico no mundo ocidental.

Como é sabido, em seus primórdios o poder político era absoluto. As funções estatais executiva, legislativa e judiciária eram concentradas nas mãos do governante. Consequentemente, o soberano detinha o monopólio dos poderes temporal e religioso. Vale ressaltar que, além de exigir obediência sem contestação à sua autoridade, obrigava os governados a prestar culto ao seu deus, bem como a adotar a sua fé. Ai daqueles que ousassem manifestar crenças diferentes das práticas religiosas dos donos do poder. Normalmente custava muito caro: pagavam até mesmo com a própria vida. Um famoso exemplo dessa triste história é o caso de Sócrates. O filósofo grego foi condenado à morte justamente porque foi acusado de desobedecer ao deus da cidade.1

Além disso, convém evocar que o fundamento do próprio poder político era divino. Os governantes simplesmente argumentavam que eram escolhidos por Deus e que, portanto, detinham o direito natural de mandar.

Essa modalidade de despotismo político dominou por muito tempo a história das sociedades humanas. Entretanto, sobretudo a partir do século XVI, na Europa ocidental, começaram a surgir diversos tipos de contestação, pelo que se convencionou denominar de renascimento, iluminismo, humanismo, liberalismo político, constitucionalismo etc.2 Precedente paradigmático dos conflitos e tensões oriundos desses movimentos transformadores foi o caso de Galileu, o pai da ciência moderna. Ao reavaliar as posições da Igreja a respeito da situação da Terra em relação ao Sol, iniciou a revolução científica.

O epílogo desse período histórico é conhecido: as ideias revolucionárias vão culminar com a derrubada do absolutismo político. Os Estados Unidos e a França serão os pioneiros desse processo, pondo em prática a democratização do poder político.

Com efeito, após a proclamação da independência, a Constituição dos Estados Unidos da América foi a primeira Carta moderna a consagrar a soberania popular, não tendo mais, o poder, origem sobrenatural (“Nós, o Povo dos Estados Unidos, a fim de formar uma União mais perfeita, estabelecer a Justiça, assegurar a Tranquilidade interna, prover a defesa comum, promover o Bem-Estar geral, e garantir para nós e para os nossos descendentes os Benefícios da Liberdade, promulgamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América”). A partir daí passa a ser natural o reconhecimento da separação entre os poderes estatal e religioso, institucionalizada na primeira emenda do texto constitucional do EUA: “O Congresso não legislará no sentido de estabelecer uma religião, ou proibindo o livre exercício dos cultos”.

Tais princípios foram proclamados também pela Revolução Francesa e ficaram imortalizados na famosa Declaração dos Direito do Homem e do Cidadão de 1789 e nas Constituições posteriores daquele país.

Por seu turno, uma fundamental conquista da cidadania resultante desse processo histórico será o reconhecimento da liberdade religiosa. Doravante, as Constituições modernas irão prescrever a separação entre Estado e religião, bem como garantir a liberdade de crença e consciência. E esta liberdade poderia muito bem ser considerada como a primeira de todas, porquanto, junto com a liberdade de crença, se obteve também a de opinião, de crítica, de ciência etc. Portanto, a liberdade religiosa inspirou o surgimento dos direitos humanos modernos.

Por outro lado, é importante frisar que a liberdade religiosa fará parte da vida privada do cidadão, implicando que no âmbito da esfera pública o Estado não mais terá religião. Por conseguinte, o governo deve respeitar as manifestações religiosas dos cidadãos, bem como tratar com imparcialidade e igualdade todos os credos.

Convém esclarecer no que a forma de Estado laico que se vem descrevendo na sua evolução histórica difere das formas de Estado teocrático: neste último caso há união entre Estado e religião, com a instituição de religião oficial. É igualmente divergente do Estado ateu, em que a doutrina oficial é a de que Deus não existe, impondo-se obstáculos ao funcionamento das religiões.

Em suma, desse escorço histórico infere-se que uma das grandes conquistas da cultura ocidental nos últimos séculos foi o reconhecimento da separação entre Estado e religião. Ademais, pode-se até mesmo asseverar que a cultura laica emancipada desse distanciamento seja responsável por inúmeras e importantes conquistas que se mantêm nos dias atuais, tais como o respeito aos outros, inviolabilidade dos direitos fundamentais, liberdade da ciência, aceitação do pluralismo religioso e democracia política.3
Vale registrar que o princípio do Estado laico foi introduzido no Brasil a partir da proclamação da República, em 1889. Antes disso, vigia a união entre Estado e religião. Essa junção vai perdurar por todo o período colonial e se estender até após a independência, em 1822, porquanto a Constituição imperial brasileira de 1824 consagrou a religião católica como oficial – o que implicava, por exemplo, que crentes de outras religiões só podiam professar a sua fé em ambiente doméstico.

A partir de 1988
Com o advento da república, contudo, a separação entre Igreja e Estado veio finalmente se concretizar. Formalizada no ano de 1890, por meio de decreto expedido pelo governo republicano provisório e redigido por Rui Barbosa, o patrono dos advogados brasileiros, a institucionalização do princípio do Estado laico trouxe, como resultado imediato, a mudança da administração dos cemitérios para a competência do poder público, e o casamento passou a ser civil. A primeira Constituição republicana brasileira de 1891 recepcionou, então, o referido princípio, que se mantém presente em todas as Constituições sucessivas.

Na Constituição Federal de 1988, vigente hoje, a cláusula da separação entre Estado e religião encontra-se disciplinada no art. 19, I, textualmente: “É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”.

Ao comentar o texto constitucional transcrito, o renomado jurista Pontes de Miranda esclarece que “estabelecer cultos religiosos está em sentido amplo: criar religiões ou seitas, ou fazer igrejas ou quaisquer postos de prática religiosa ou propaganda. Subvencionar cultos religiosos está no sentido de concorrer, com dinheiro ou outros bens da entidade estatal, para que se exerça atividade religiosa”4. Entretanto, além das proibições mencionadas, observa-se que o dispositivo admite a colaboração de interesse público entre órgãos estatais e igrejas, conquanto remeta à lei o poder de conformar o nível dessa colaboração.

Outra importante norma constitucional vigente, relacionada com o citado art. 19, I, está contida no art. 5º, VI, que outorga as liberdades de crença e de consciência. É de fácil compreensão essa relação, conforme visto, porque o pleno gozo da liberdade religiosa depende da efetiva realização do princípio do Estado laico. Talvez isso explique o fato de os membros da Igreja Batista terem elegido, dentre as prioridades a ser defendidas pelos evangélicos no processo constituinte de 1986-1988, justamente o princípio da separação entre a Igreja e o Estado e a garantia da liberdade de consciência.5

Resta então examinar se a destinação de espaços públicos subvencionados com dinheiro do povo ou a ostentação de símbolos religiosos em órgãos estatais constitui prática violadora do princípio do Estado laico. Do ponto de vista lógico-formal é muito difícil negar que o estabelecimento de “postos de prática religiosa” financiados pelo erário ou a realização de “propaganda” por meio de fixação de símbolos religiosos em repartições públicas não se chocam com o núcleo básico do conceito de Estado laico. Sob a perspectiva jurídico-constitucional é igualmente difícil contestar que a Constituição Federal em vigor autoriza apenas a excepcional colaboração isonômica entre o poder público e as igrejas, em homenagem ao princípio do interesse público.

Interesses públicos primário e secundário
Não obstante, a defesa da manutenção dos símbolos religiosos nas repartições públicas conta com muitos adeptos. O principal fundamento invocado é o apelo à tradição: afirma-se que a referida exibição está de acordo com a cultura religiosa da maioria do povo brasileiro. Esse foi o argumento esgrimido pelo Conselho Nacional de Justiça.

Com base na doutrina jurídica italiana que propõe a divisão entre interesse público primário (interesse da sociedade) e interesse público secundário (interesse dos órgãos estatais), opinou o CNJ que a ornamentação de prédios do Poder Judiciário com símbolos religiosos não viola o princípio do Estado laico, sobretudo, porque estaria consoante os valores religiosos/culturais da maioria do povo.
Seria esse argumento pragmático o suficiente para manter o status quo vigente? Pelo menos duas objeções podem ser apresentadas para reflexão a esse respeito.

A primeira refere-se ao citado núcleo básico da noção de Estado laico. Como este significa, essencialmente, que as autoridades públicas têm que tratar com neutralidade as diversas religiões professadas pelos cidadãos, logo, devem mostrar igual consideração tanto pela religião da maioria quanto pela das minorias6.

A segunda objeção diz respeito à concepção contemporânea de democracia, sintetizada na seguinte fórmula: a democracia é governo da maioria com respeito às minorias. Por conseguinte, recorrer à vontade da maioria religiosa para justificar privilégios desta em relação às minorias parece chocar-se com o presente ideário de democracia.

Para concluir, vale a pena destacar os dois requisitos basilares na relação Igreja-Estado, segundo o filósofo americano Sidney Hook: (1) os indivíduos, qualquer que seja sua religião ou ausência dela, estão intitulados aos mesmos direitos e deveres como cidadãos de uma democracia; (2) numa sociedade pluralista quanto à religião, as crenças e os atos resultantes da observância destas devem ser matéria privada. O Estado não apoia, não estabelece nenhuma religião em particular e nem todas em conjunto7.

Com relação ao primeiro requisito, não há duvida de que a Constituição brasileira vigente confere direitos e deveres iguais a todas as pessoas, independentemente de suas convicções religiosas. A discórdia aqui narrada reporta-se, obviamente, ao segundo requisito.
Desse modo, constitui verdadeiro “desafio cognitivo” demonstrar que o Estado não apoia nenhuma religião em particular ou em conjunto, apesar de exibir vistosamente em seus estabelecimentos abertos ao público em geral símbolos religiosos. Não seria essa ostentação de símbolos religiosos “resquício de um passado terminado”?


Edilsom Farias
doutor em Direito, professor da Universidade Federal do Piauí, promotor de Justiça e membro do Movimento do Ministério Público Democrático.


1   Edilsom Farias. Liberdade de expressão e comunicação. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2004, p. 58.
2   Jüngen Habermas e Joseph Ratzinger. Dialética da secularização: sobre razão e religião. Ideias & Letras, 2007, p. 43.
3    Umberto Eco e Carlo Maria Martini. Em que creem os que não creem? Rio de Janeiro: Record, 2002, p. 130.
4   Apud, José Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo. 32 ed, São Paulo: Malheiros, 2008, p. 252.
5   Luziano Pereira Mendes de Lima. A atuação da esquerda no processo constituinte: 1986-1988. Brasília: Câmara dos Deputados, 2009, p. 60.
6   Ronald Dworkin. Virtù sovrana: teoria Del`uguaglianza. Milano: Feltrinelli, 2002, p. I.
7   Apud, Cecilia Caballero Lois et al. A Constituição como espelho da realidade: interpretação e jurisdição constitucional em debate – Homenagem a Silvio Dobrowolski. São Paulo: LTr, 2007, p. 47.

França apresentará projeto de lei para proibir véu integral

 Uol Notícias - AFP


O governo francês anunciou nesta quarta-feira que apresentará em maio um projeto de lei que contemple a proibição do uso do véu islâmico integral - burca e niqab - em todos os espaços públicos e não apenas nos prédios estatais.

O anúncio foi feito pelo porta-voz do governo, Luc Chatel, após uma reunião de gabinete com o presidente Nicolas Sarkozy, que mais uma vez declarou que o véu integral é um "atentado à dignidade das mulheres".

"O objetivo é impedir que o fenômeno avance. Legislamos para o futuro, o uso do véu integral é um sinal de recolhimento comunitário e uma rejeição de nosso valores", afirmou o porta-voz do governo, antes de recordar que 2.000 muçulmanas usam o véu integral na França.

A decisão do Executivo francês significa que o projeto de lei deve ser submetido ao Conselho de Estado, a principal instância administrativa na França, que no fim de março advertiu que uma proibição total da burca e do niqab poderia ser rejeitada do ponto de vista jurídico.

O Conselho de Estado rejeitou uma proibição geral e absoluta do véu islâmico integral, mas admitiu que "exigências próprias de determinados serviços públicos justificariam a obrigação de manter o rosto descoberto". 


PS:  Essas mulheres que já vivem o jugo da submissão ainda terão que enfrentar o conflito entre a cultura do país onde vivem e a religião que nasceram e professam. Muitas não acham a Burca e o Niqab uma violência contra seus direitos. A maioria delas acredita no que estão fazendo. Nasceram, cresceram e vivem os valores do Islamismo, mesmo que sejam radicais.
       São  valores que nós ocidentais achamos muito rígidos??? O problema é nosso. Nós nos colocamos na posição de juízes e sentenciamos essas mulheres a maior sofrimento, o isolamento doméstico.
       Ontem li que um Sheik islamico culpou as mulheres pelas tragédias mundiais, alegando que o comportamento feminino é inaceitável, levando o homem ao afastamento de Alah. Se no Islamismo existem líderes religiosos que assim falam publicamente, certamente existe um público que os apóia. Imaginem então as esposas e filhas desse público em particular, como vivem????
       O fato é que nós ocidentais temos dificuldade em compreender culturas tão diversas da nossa. E acreditando que temos a posse da verdade, queremos a todo custo garantir que todos se comportem do mesmo jeito que nós, achamos que isso é Igualdade.
       Mas o que é Igualdade mesmo????
i.gual.da.de
sf (lat aequalitate) 1 Qualidade daquilo que é igual; uniformidade. 2 Conformidade de uma coisa com outra em natureza, forma, qualidade ou quantidade. 3 Relação entre coisas iguais. 4 Completa semelhança. 5 Paridade. 6 Identidade. 7 Mat Expressão da relação entre duas quantidades iguais; equação. 8 Polít Identidade de condições entre os membros da mesma sociedade. 9 p us Eqüidade, justiça.
       Se pegarmos apenas as duas últimas definições do Michaelis, igualdade é identidade de condições entre os membros da mesma sociedade, e Equidade/justiça.  Vejamos. Os franceses são protestantes, na sua maioria. Todos os franceses têm o direito de expressar sua religiosidade. Só os franceses? E todos os demais credos religiosos que existem naquele país? Devo entender que são aceitos desde que se mantenham inexpressivos? Afinal, e os Direitos Humanos?
        Falamos aqui em Intolerância Religiosa, que está velada pelas doces e nobres palavras Dignidade e Igualdade. Oprimir as minorias, alegando que elas rejeitam os nossos valores, é inaceitável. Impingir os valores ocidentais a uma minoria, não é garantia de direitos a elas, mas sim violência oficializada.
       É melhor nos lembrarmos dos abusos cometidos em nome de ideologias no decorrer da História. A Santa Inquisição, Hitler, Bin Laden, e se nos esfoçarmos mais, veremos que a lista é imensa. Todos estavam muito bem intencionados, e desejavam que houvesse uma única cartilha, a sua.
       O que me impressiona mais é o fato de nunca aprendermos com nossos fracassos. As derrotas não ensinam. A História é estudada nas escolas desde meninos, e mesmo assim, repetimos os mesmos fatos, apenas mudamos os nomes para que fiquem mais palatáveis. Em nome de Deus, Em nome da Lei, Em nome dos Direitos Humanos...

Essa eu tinha que publicar!!! rsrsrsrs


Por que as mulheres são tão inteligentes???
Peter Moon
O repórter especial de ÉPOCA vive No mundo da Lua, um espaço onde dá vazão ao seu fascínio por aventura, cultura, ciência e tecnologia. petermoon@edglobo.com.br
 

Ou melhor, por que as mulheres são mais inteligentes que os homens?
É uma pergunta que me faço há 20 anos, desde o dia em que tive uma revelação.

Ao contrário de tudo o que minha família, a escola, os meios de comunicação e a sociedade haviam me ensinado (ou me levado a acreditar), constatei que pertencia ao sexo fraco. As mulheres não só eram mais inteligentes... ELAS SÃO O SEXO FORTE!

Naquele dia, acho que tinha 21 anos, entrei em depressão.

Lembro da minha vontade de não sair do quarto. Como faria para enfrentar e sobreviver naquele novo mundo infestado de feras com ar de sereias que me aguardava na porta da rua? Precisei de um mês para me recompor, um mês para abandonar minha visão adolescente, machista e chauvinista do mundo, e tentar começar a enxergá-lo sob a lente correta. Eu tinha perdido a fantasia de predador, membro de um gênero dominante. Mas me recusava – e ainda me recuso! – a virar presa.

As mulheres são mais inteligentes que os homens. Tenho certeza que a maioria delas concorda com esta afirmação - assim como a imensa maioria dos homens jamais o fará. Intuitivamente, as mulheres sabem que são mais espertas. Afinal, não são elas que se queixam dos homens como sendo seres “muito básicos”, “simplistas”, grossos, incapazes de realizar diversas tarefas ao mesmo tempo, enquanto elas precisam (e conseguem) se dividir entre o trabalho, os filhos e o casamento? A inteligência feminina salta aos olhos. Só não vê quem não quer. Ela é perceptível na mais tenra infância. As meninas andam antes - e tiram a fralda primeiro.

Há dois traços definidores da espécie humana: a razão e a fala.
Pois bem, as meninas aprendem a falar mais cedo (e, depois que aprendem, não param mais).
E quanto à razão? “As mulheres aprendem mais rápido,” me disse ontem uma amiga. “Elas são mais práticas em resolver problemas.” Ao ouvir sua resposta, disse: “Você sabia que acabou de me dar uma definição bastante precisa de inteligência?”. Segundo o “Mainstream Science on Intelligence”, um documento publicado por um grupo de acadêmicos no The Wall Street Journal, em 1994, inteligência é “uma capacidade mental bastante geral que, entre outras coisas, envolve a habilidade de raciocinar, planejar, resolver problemas, pensar de forma abstrata, compreender idéias complexas, aprender rápido e aprender com a experiência”.

Lembro de uma conversa com um professor da USP, quando ele constatou com indisfarçável pesar: “Na graduação, quase todos os melhores alunos são mulheres. Elas são também a maioria entre os ingressantes da pós-graduação. Mas a maior parte dos que defendem teses são homens. Muitas alunas trocam a pós pela maternidade.”

As mulheres são mais inteligentes. Não importa quantos gênios da humanidade, todos eles homens, se enumere, a inteligência da média das mulheres será sempre maior que a da média dos homens.

A maioria dos homens jamais enxergará (ou admitirá) que ocupa um pedestal inexistente. A reação masculina é natural. Somos criados acreditando que existe um sexo forte – o nosso. Logo, por que acreditar que a realidade é exatamente oposta? Razões não faltam.

Mulheres têm maior resistência à dor (ver meu filho nascer foi emocionante. E também didático. Percebi que homem algum sobreviveria a um parto). Também é ponto pacífico entre os médicos que as mulheres são mais saudáveis. Afinal, elas vivem mais, não vivem? Homens morrem mais cedo.


Por séculos, a longevidade feminina foi explicada como decorrência da sua aparente “fragilidade”. Como exemplares do sexo forte, os homens sempre se expuseram às tarefas que exigem força física e envolvem riscos, como lutar na guerra. Este mito acabou. Com o avanço da medicina e a elevação da expectativa de vida, foi ficando claro que, mantidas as mesmas condições de acesso aos serviços de saneamento, saúde e prevenção, as mulheres continuam sobrevivendo aos homens. A razão estaria na constituição genética feminina. Sob a ótica da sobrevivência da espécie, as mulheres (que nascem com cerca de 400 óvulos) são indispensáveis. Já os homens, que produzem mais de 100 milhões de espermatozóides por dia, são absolutamente descartáveis.

“Por que as mulheres são tão inteligentes? O efeito do QI maternal sobre a mortalidade infantil pode ser um fator evolutivo relevante” é o título de um interessante artigo da revista Medical Hypotheses. A questão que se coloca não é saber por que as mulheres são tão inteligentes, mas de que forma a seleção natural favoreceu o aumento da inteligência entre as fêmeas da espécie Homo sapiens – que bem poderia ser chamada Mulier sapiens (do latim mulier)?

Os autores pertencem a uma corrente da antropologia chamada Psicologia Evolutiva – com a qual não concordo. Para tentar explicar a evolução do comportamento humano, os psicólogos evolutivos partem de um cenário que é resultado de mais de um século de descobertas arqueológicas e antropológicas.

A espécie humana evoluiu na África há mais de 200 mil anos e lá permaneceu confinada até 50 mil anos atrás. Durante aqueles 150 mil anos, o Homo sapiens aprendeu a falar e aperfeiçoou seus métodos de caça até se tornar o mais eficiente predador do planeta. Só então, há 50 mil anos, nossos ancestrais saíram do berço africano para povoar o planeta. Há 10 mil anos, inventamos a agricultura e criamos as primeiras cidades.

Segundo os psicólogos evolutivos, nenhum dos quase 7 bilhões de seres humanos evoluiu para viver em cidades numa civilização global. Não houve tempo para nossa espécie se adaptar às mudanças tecnológica provocadas desde a invenção da agricultura. O comportamento humano foi forjado naqueles 150 milênios de isolamento africano, numa luta diária pela sobrevivência. Naquelas circunstâncias, dizem os autores, mulheres mais rápidas para resolver problemas e se adaptar às restrições do meio ambiente, encontrando comida, água e abrigo durante uma seca, por exemplo, teriam mais chance de garantir a sobrevivência dos filhos. Já as mulheres menos espertas teriam desaparecido sem deixar descendentes. A seleção natural favoreceu a sobrevivência de mulheres mais inteligentes. Elas também procuravam casar com homens mais inteligentes, aqueles que poderiam assegurar a sobrevivência dos filhos. E estes, por hereditariedade, também eram inteligentes.  Ao longo de milhares de gerações, defendem os autores, a inteligência feminina, mas não a masculina – somos descartáveis, lembram-se? – se tornou um traço dominante da nossa espécie. Hoje, tudo mudou.

Numa civilização tecnológica não há pressão ambiental para selecionar a sobrevivência das mulheres mais inteligentes. Mas elas ainda o são.

Toda esta história faz sentido, mas a mim não convence. Os psicólogos evolutivos são deterministas demais para o meu gosto. Defendem suas teses com um fervor ideológico. Sou ateu, portanto avesso a quaisquer formas de fé ou ideologia. Defendo a teoria da evolução, e graças a ela me sinto irmanado com todas as formas de vida na Terra. Mas não acho que, mesmo inconscientemente, eu seja um caçador africano. É verdade que sou básico, às vezes meio grosso (sim, meninas, vocês têm razão), e posso ser violento. Mas definitivamente eu não sou um caçador africano. Sou um jornalista científico e um pesquisador da história da ciência. Minha formação acadêmica me leva a duvidar de qualquer afirmação científica que não possa ser testável ou reproduzida, como é o caso. Obviamente, não se pode manter um bando de gente no meio do mato por gerações para verificar se, de fato, as moças espertas prevalecerão.

É nestas horas que a formação humanista faz a diferença.
Sim, as mulheres são mais inteligentes. Para mim, não se trata de ciência, mas de um fato.
Para entender este belo mistério, prefiro continuar com a explicação que descobri há vários anos. Seu autor é o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard (1813-1855).

Kierkegaard é o filósofo do amor, um eterno apaixonado pelas mulheres. Ele dedicou a maior parte da sua obra ao desejo e à sedução. Há um livrinho intitulado O banquete ou In vino veritas (“no vinho, a verdade”, seu título original, em latim). É uma paródia do famoso Banquete de Platão, onde Sócrates e uma roda de amigos, inebriados pelo vinho após uma ceia, resolvem fazer um elogio ao belo. No caso de Kierkegaard, quatro amigos fazem um almoço no campo. Enlevados pelo vinho, decidem fazer um elogio à mulher. Cada um toma a palavra. O último, e o mais sábio, encerra o discurso. O pequeno trecho que selecionei abaixo sintetiza tudo. Grande Kierkegaard. Ele sabia das coisas.


“No principio havia só um sexo; dizem os gregos que era o sexo masculino. Dotado de faculdades magníficas, era uma criatura admirável em que se reviam os deuses; os dons eram tão grandes que aconteceu aos deuses o mesmo que por vezes acontece aos poetas que gastaram todas as forças nas criações de uma obra: tiveram inveja do homem. O pior é que tiveram receio dele; temeram que ele não estivesse disposto a aceitar de bom grado o jugo divino; tiveram medo, embora sem razão para isso, que o homem chegasse a abalar o céu. Haviam feito surgir uma força nova que lhes parecia ser indomável. A inquietação e a perplexidade dominavam então no concílio dos deuses. Mostraram-se primeiro de uma generosidade pródiga ao criarem o homem; mas agora tinham de recorrer aos meios mais violentos para legítima defesa. Os deuses pensavam que o seu poderio estava em perigo, e que não podiam voltar atrás, como um poeta que renegue sua obra. O homem já não poderia ser dominado pela força, porque se o pudesse ser, os deuses teriam facilmente resolvido o problema; e era isso precisamente o que lhes causava desespero. Era preciso cativá-lo pela fraqueza, por um poder mais fraco e mais forte do que ele, capaz de subjugá-lo. Que poder espantoso e que poder contraditório não havia de ser! A necessidade também ensina os deuses a transcenderem os limites do engenho. Pensaram, meditaram, encontraram. A nova potência foi a mulher, maravilha da criação, que aos próprios olhos dos deuses era superior ao homem; e os deuses, ingênuos e contentes, mutuamente se felicitaram pela nova invenção. Que mais poderei eu dizer em louvor da mulher? A mulher foi tida capaz de fazer o que parecia impossível aos deuses; além disso, a verdade é que desempenhou admiravelmente o seu papel; que maravilha não deve ser a mulher para conseguir tais fins! Tal foi a astúcia dos deuses. A encantadora foi dotada de uma natureza enganadora; mal encantou o homem, logo se transformou, envolvendo-o entre todas as dificuldades do mundo finito; era isso mesmo o que os deuses queriam. Que seria possível imaginar de mais fino, de mais atraente, de mais arrebatador, do que este subterfúgio dos deuses que querem salvaguardar um império, do que este processo para seduzir o homem? Tal é a realidade; a mulher é a sedução mais poderosa do céu e da terra. Comparado a ela, homem é um ente muito imperfeito.”

terça-feira, 6 de abril de 2010

A IGREJA E A MÍDIA - Entre o silêncio e o crime

Observatório da Imprensa

A IGREJA E A MÍDIA



Entre o silêncio e o crime

Por Alberto Dines em 6/4/2010




O Vaticano está desnorteado. Como Estado e como religião. A inédita situação ficou visível na Sexta-Feira Santa, quando o reverendo Raniero Cantalamessa – pregador da Casa Papal há 30 anos – comparou as críticas mundiais à hierarquia católica com as acusações e calúnias que sofreram os judeus durante séculos.

"O uso de estereótipos, a passagem da culpa e responsabilidade pessoal para a culpa coletiva lembram os aspectos mais vergonhosos do anti-semitismo", disse o pregador. Horas depois ele foi desautorizado pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.

Intelectual de alto nível, o sacerdote franciscano Cantalamessa serviu-se de uma metáfora no mínimo insultuosa: ao longo de mais de um milênio as acusações aos judeus de praticarem assassinatos rituais (justamente na época do Pessach sempre próximo da Páscoa cristã) partiram de delirantes pregadores que percorriam a Europa clamando por castigos para os assassinos de Cristo. Impossível registrar o número depogroms, chacinas, linchamentos, violações e expulsões que se seguiram às desvairadas prédicas.

Uma coisa é certa: o preconceito cristão anti-semita solidificou-se e tornou-se institucional. Sobre ele erigiram-se nos séculos 15 e 16 as inquisições ibéricas e, no fim do 19, o anti-semitismo nacionalista e "científico" do qual o nazismo é o fruto mais sanguinário.


Jogo político


O reverendo Cantalamessa, não obstante os atributos intelectuais e espirituais, pecou: mentiu, caluniou, tentou subverter a história imaginando que com isso barraria a onda de críticas contra a tibieza da hierarquia católica diante dos abusos praticados por sacerdotes.

Foi um ato desesperado de um Estado que, de repente, se sente sitiado e vê-se obrigado a apelar para a religião que o sustenta. Desvendou a grande contradição que a ambos fragiliza. Religiões veneram monumentos sagrados, mas transcendem o espaço e o tempo; os mandamentos da fé não podem impor-se à legalidade dos Estados onde é praticada.

A omissão da hierarquia católica diante da avassaladora onda de abusos sexuais partiu de uma premissa enganosa que as Concordatas do Vaticano com países católicos – inclusive o Brasil – só aumentaram: as leis canônicas devem reger apenas a comunidade espiritual, os códigos civis regem as relações sociais. Abuso sexual é pecado, mas antes disso é crime e os crimes devem ser punidos mesmo quando praticados porcidadão especiais, os sacerdotes.

O celibato e os votos de castidade têm sido apontados como os principais responsáveis pelos desvios sexuais, pelos casamentos clandestinos de sacerdotes, pelo desestímulo às novas vocações e, sobretudo, pela evasão de religiosos já ordenados.

Esta é uma questão para os teólogos. O que tem garantido a impunidade dos pecadores e criminosos é uma questão política: raros são os Estados rigorosamente seculares. Nos Estados Unidos há um pseudo-secularismo que se mantém apenas como fator de equilíbrio confessional, controlador de eventuais hegemonias. Neste território semi-secular, vagamente laico, a igreja católica impõe os seus parâmetros, seus valores e suas leis. O mesmo acontece na Irlanda e na Alemanha. Nestas circunstâncias, até mesmo a mídia torna-se pseudo-secular, acomodando-se às dubiedades e ao jogo político delas resultantes.


Fanatismo e politização


Esta é a explicação para uma impunidade cínica que estimulou e agigantou a pedofilia. De repente, por casualidade ou causalidade estatística, a revelação e o choque nos dias mais sagrados do cristianismo.

Culpar o papa Bento 16 por esta situação é pérfido. O pontífice João Paulo 2º foi o grande protetor do padre Marcial Maciel, criador da Legião de Cristo. Quem puniu o mexicano e enquadrou publicamente sua entidade foi Bento 16 (ver "A `Legião´ desmorona, ninguém noticia").

A igreja católica enredou-se na sua hegemonia, esta é a verdade. A saída irônica, paradoxal, seria abrir mão dela. O que poderia reverter a atual dinâmica antivaticanista e amenizar o estresse seria a compreensão de que Estados e instituições verdadeiramente seculares – sobretudo a imprensa – são capazes de divulgar com serenidade e punir com severidade os abusos cometidos sob o manto da religião.

Esta não é uma questão que se situa apenas no âmbito teológico ou canônico da igreja católica. Esta é uma questão política capaz de reforçar a espiritualidade das religiões e torná-las menos sujeitas ao fanatismo e à politização.

Martinho Lutero surgiu e fortaleceu-se no meio de um terremoto de idêntica dimensão.

domingo, 4 de abril de 2010

Superinteressante difama Chico Xavier!!!



Carta enviada por Richard Simonetti à Revista Superinteressante, pela matéria publicada sobre Chico Xavier em Abril/2010




Senhor Sérgio Gwercman

Diretor de redação da revista Super Interessante



Sou assinante dessa revista há muitos anos. Sempre a encarei como publicação séria, fonte de informações a oferecer subsídios para meu trabalho como escritor espírita, autor de 49 livros publicados.

Essa concepção caiu por terra ao ler, na edição de abril, infeliz reportagem sobre Francisco Cândido Xavier, pretensiosa e tendenciosa, objetivando, nas entrelinhas, denegrir e desvalorizar o trabalho do grande médium.

Isso pode ser constatado já na seção “Escuta”, com sua assinatura, em que V.S. pretende distinguir respeito de reverência, como se reverência não fosse o respeito profundo por alguém, em face de seus méritos.

Podemos e devemos reverenciar Chico Xavier, não por adesão de uma fé cega, mas pela constatação racional, lúcida, lógica, de que estamos diante de uma personalidade ímpar, que fez mais pelo bem da Humanidade do que mil edições de Superinteressante, uma revista situada como defensora do bom jornalismo, mas que fez aqui o que de pior existe na mídia – a apreciação superficial e tendenciosa a respeito de alguém ou de uma notícia, com todo respeito, como pretende seu editorial, como se fosse possível conciliar o certo com o errado, o boato com a realidade, o achincalhe com o respeito.

Para reflexão da repórter Gisela Blanco e redatores dessa revista que em momento algum aprofundaram o assunto e nem mesmo se deram ao trabalho de ler os principais livros psicografados pelo médium, sempre com abordagem superficial, pretendendo “explicar” o fenômeno Chico Xavier, aqui vão alguns aspectos para sua reflexão e – quem sabe? – um cuidado maior em futuras reportagens.

De onde a repórter tirou essa bobagem de que “toda essa história começou com as cartas dos mortos?”

Se as eliminarmos em nada se perderá a grandeza de Chico Xavier. A história começa bem antes disso, com a publicação, em 1932, do livro Parnaso de Além-Túmulo, quando o médium tinha apenas 22 anos.

A reportagem diz: “Ele dizia que não escolhia os espíritos a quem atenderia, só via fantasmas e ouvia vozes. Mas parecia ser o escolhido por celebridades do céu. Cruz e Souza, Olavo Bilac, Augusto dos Anjos e Castro Alves lhe ditaram versos e prosa.”

Afirmativa maliciosa, sugerindo o pastiche, a técnica de copiar estilo literário. O repórter não se deu ao trabalho de observar que no próprio Parnaso há, nas edições atuais, 58 poetas desencarnados, menos conhecidos e até desconhecidos, como José Duro, Alfredo Nora, Alma Eros, Amadeu, B.Lopes, Batista Cepelos, Luiz Pistarini, Valado Rosa… Poetas do Brasil e de Portugal que se identificam pelo seu estilo, em poesias personalíssimas enriquecidas por valores de espiritualidade.

Não sabe ou preferiu omitir a repórter que Chico psicografou poesias de centenas de poetas desencarnados, ao longo de seus 75 anos de apostolado, na maior parte poetas provincianos, conhecidos apenas nas cidades onde residiam no interior do Brasil. Pesquisadores constatam que esses poemas não são “razoavelmente fiéis ao estilo dos autores”. São totalmente fiéis.

Não tem a mínima noção de que a técnica do pastiche, a imitação de estilo literário, é extremamente difícil, quase impossível. Pastichadores conseguem imitar uma página, uma poesia de alguém, jamais toda uma obra ou as obras de centenas de autores.

Afirma que Chico foi autodidata e leitor voraz durante toda a vida, sempre insinuando o pastiche. Leitor voraz? Passava os dias lendo? Só quem não conhece sua biografia pode falar uma bobagem dessa natureza, já que Chico passava a maior parte de seu tempo atendendo pessoas, psicografando, participando de reuniões e atendendo à atividade profissional. Não conheço um único documentário, uma única foto mostrando Chico lendo “vorazmente”. Ah! Sim! Para a repórter Chico certamente escondia isso.

Fala também que Chico teria 500 livros em sua biblioteca e que “a lista inclui volumes de autores cujo espírito o teria procurado para escrever suas obras póstumas, como Castro Alves e Humberto de Campos”.

E as centenas de poetas e escritores que se manifestaram por seu intermédio. Chico tinha livros deles? E de poetas que sequer publicaram livros?

Quanto a Humberto de Campos, cuja família tentou receber na justiça os direitos autorais pelas obras psicografadas por Chico, o que seria ótimo acontecer, o reconhecimento oficial da manifestação dos Espíritos, esqueceu-se a repórter de informar que Agripino Grieco, o mais famoso crítico literário de seu tempo, recebeu uma mensagem do escritor, de quem era amigo. Reconheceu que o estilo era autenticamente de Humberto de Campos, mas que o fato para ele não tinha explicação, já que, como católico praticante, não admitia a possibilidade de manifestação dos espíritos.

Esqueceu ou ignora que Chico, médium psicógrafo mecânico, recebia duas mensagens simultaneamente, com ambas as mãos sendo usadas por dois espíritos. Desafio Superinteressante a encontrar um prestidigitador capaz de fazer algo semelhante.

Uma pérola de ignorância jornalística está na referência sobre materialização de Espíritos: “seria necessário produzir um total de energia duas vezes maior do que é hoje produzido pela hidroelétrica de Itaipu por ano, segundo os cálculos feitos por especialistas exibidos por reportagens sobre Chico nos anos 70.” Seria superinteressante a repórter ler sobre as pesquisas de Alfred Russel Wallace, Oliver Joseph Lodge, Lord Rayleigh, William James, William Crookes, Ernesto Bozzano, Cesare Lombroso, Alexej Akzacof e muitos outros cientistas respeitáveis que estudaram o fenômeno da materialização e o admitiram. Leia, também, sobre quem eram esses cientistas, para constatar que não agiam levianamente como está na revista.

A repórter reporta-se às reuniões mediúnicas das quais Chico participava como shows que o tornaram famoso e destila seu veneno. Cita o sobrinho de Chico que, dizendo-se médium, confessou que era tudo de sua cabeça, o mesmo acontecendo com o tio. Por que passar essa informação falsa, se o próprio sobrinho de Chico, notoriamente perturbado e alcoólatra, pediu desculpas pela sua mentira? Joga penas ao vento e espera que o leitor as recolha? Omitiu também a informação de que ele confessou que pessoas interessadas em denegrir o médium pagaram-lhe pela acusação.

Eram frequentes nas reuniões a ocorrência de fenômenos como a aspersão de perfumes no ambiente, algo que, deveria saber a repórter, costuma ocorrer com os médiuns de efeitos físicos. No entanto, recusando-se a colher informações mais detalhadas sobre o assunto, limitou-se a dizer que em 1971 um repórter da revista Realidade, José Hamilton Ribeiro, denunciou que viu um dos assessores de Chico Xavier levantar o paletó discretamente e borrifar perfume no ar. Sugere que havia mistificação, aliás, uma tônica na reportagem. Por que não foram consultadas outras pessoas, inclusive centenas que tiveram seus lenços inexplicavelmente encharcados de perfume ou a água que levavam para magnetizar, a exalar também um olor suave e desconhecido que perdurava por muitos dias?

Na questão das cartas, milhares e milhares de cartas de Espíritos que se comunicavam com os familiares, sugere a repórter que assessores de Chico conversavam com as pessoas, anotando informações para dar-lhes autenticidade. Lamentável mentira. E ainda que isso acontecesse, Chico precisaria ser um prodígio para ler rapidamente as informações e inseri-las no contexto de cada mensagem, de cada espírito, mistificando sempre.

E as mensagens dirigidas a pessoas ausentes? E os recados aos presentes? Não eram só mensagens. Eram incontáveis recados. A pessoa aproximava-se de Chico e ele, sem conhecer nada de sua vida, transmitia recados de familiares desencarnados, na condição de um ser interexistente, que vivia simultaneamente a vida física e a espiritual, em contato permanente com os Espíritos.

Lembro o caso de um homem inconformado com a morte de um filho. Ia toda noite deitar-se na sepultura do rapaz, querendo “ficar com ele”. Não contava a ninguém, nem mesmo aos familiares. Em Uberaba recebeu mensagem do filho pedindo-lhe que não fizesse isso, porquanto ele não estava lá.

Durante muitos anos Chico psicografou receituário mediúnico de homeopatia. Perto de 700 receitas numa noite. Ficava horas psicografando. E os medicamentos correspondiam à natureza do mal dos pacientes, sem que o médium deles tivesse o mínimo conhecimento. Na década de 70 tive uma uveíte no olho esquerdo. Compareci à reunião de receituário. Escrevi meu nome e idade numa folha de papel. Não conversei com ninguém. Após a reunião recebi a indicação de dois medicamentos. Tornando a Bauru, onde resido, verifiquei num livro de homeopatia que o dois medicamentos diziam respeito ao meu mal. Curaram-me.

Concebesse a repórter que, como dizia Shakespeare, há mais coisas entre a Terra e o Céu do que concebe nossa vã sabedoria, e não se atreveria a escrever sobre assuntos que desconhece, com o atrevimento da ignorância.

Outras “pérolas” da reportagem:

Oferece “explicações” lamentáveis para o fenômeno Chico Xavier.

Psicose, confundindo mediunidade com anormalidade.

Epilepsia, descarga elétrica que “poderia causar alheamento, sensação de ausência, automatismo psicomotor”, segundo a opinião de um médico. Descreve algo inerente ao processo mediúnico, que não tem nada a ver com desajuste mental, ou imagina-se que o contato com o Espírito comunicante não imponha uma alteração nos circuitos cerebrais, até para que ocorra a manifestação? E porventura o médico consultado sabe de algum paciente que produza textos mediúnicos durante a crise epilética?

Criptomnésia, memórias falsas, lembranças escondidas no subconsciente do médium, ao ouvir informações sobre o morto. Inconscientemente ele “arranjaria” essas informações para forjar a “manifestação”.

Telepatia. Aqui o médium captaria informações da cabeça dos consulentes e as fantasiaria como manifestação do morto. Como dizia Carlos Imabassahy, grande escritor espírita, inconsciente velhaco, porquanto sempre sugere que é um morto quem se manifesta, não ele próprio.

Informa a repórter que “acuado pelas críticas na Pedro Leopoldo de 15 mil habitantes, Chico resolveu fazer as malas e partir para Uberaba, um polo do Espiritismo onde contaria com um apoio de amigos”.

Mentira. Ele deixou Pedro Leopoldo, onde tinha muitos amigos, não por estar “acuado”, mas simplesmente seguindo uma orientação do Mundo Espiritual, em face de tarefas que desenvolveria em Uberaba que, então sim, com sua presença transformou-se em “polo do Espiritismo”.

Na famoso pinga-fogo a que Chico compareceu, em 1971, na TV Tupi, um marco na história das entrevistas televisivas, com uma quase totalidade de audiência, diz a repórter que Chico foi “bombardeado por perguntas. Mas se safou.” Bombardeado? Safou-se? O que foi essa entrevista, um libelo acusatório contra um mistificador? Se a repórter se desse ao trabalho de ver a entrevista toda, o que lhe faria muito bem, verificaria que o clima foi de cordialidade, de elevada espiritualidade, e que em nenhum momento os entrevistadores “bombardearam” Chico. E em nenhum momento ele deixou de responder as perguntas com a sobriedade e lisura de quem não está ali para safar-se, mas para ensinar algo de Espiritismo.

Falando da indústria (?) Chico Xavier, há um box sobre “Dieta do Chico Xavier”, que jamais seria veiculada por Chico. Usaram seu nome. Por que incluí-la nas inverdades sobre o médium, simplesmente para denegrir sua imagem, aqui sugerindo que seria ingênuo a ponto de conceber semelhante bobagem? Se eu divulgar via internet que Superinteressante recomenda o uso de cocô de galinha para deter a queda de cabelos, seria razoável que alguma revista concorrente citasse essa tolice, mencionando a suposta autoria, sem verificação prévia?

Falando dos 200 livros biográficos sobre Chico Xavier, a repórter escreve: “Tem até um de piadas, Rindo e Refletindo com Chico Xavier”. Certamente não leu o livro, porquanto não conhece nem o autor, eu mesmo, Richard Simonetti, nem sabe que não se trata de um livro de piadas, mas um livro de reflexão em torno de ensinamentos bem-humorados do médium.

Não fosse algo tão lamentável, tão séria essa agressão contra a figura respeitável e venerável de Chico Xavier, eu diria que essa reportagem, ela sim, senhor redator, foi uma piada de péssimo gosto!

Doravante porei “de molho” as informações dessa revista, sem o crédito que lhe concedia.

A repórter Gisela Branco esteve em Pedro Leopoldo e Uberaba com o propósito de situar Chico Xavier como figura mitológica. É uma pena! Não teve a sensibilidade nem o discernimento para descobrir o médium Chico Xavier, cuja contribuição em favor do progresso e bem estar dos homens foi tão marcante que, a exemplo do que disse Einstein sobre Mahatma Gandhi, “as gerações futuras terão dificuldade para conceber que um homem assim, em carne e osso, transitou pela Terra.”

E deveria saber que não vemos Chico Xavier como um mártir, conforme sugere. Não morreu pelo Espiritismo. Viveu como espírita. E se algo se aproxima de um martírio em seu apostolado, certamente foi o de suportar tolices e aleivosidades como aquelas presentes na citada reportagem.

Finalizando, um ditado Zen para reflexão dos redatores da Super:

O dedo aponta a lua.

O sábio olha a lua.

O tolo olha o dedo.





Richard Simonetti

Bauru, 3 de abril de 2010.



OBS: Lamentável!!!

Relacionamentos em Rede - Qual é o limite???

29/03/2010
Prospect
Nicholas A. Christakis e James Crabtree*
 

 
Se os amigos dos seus amigos começam a engordar, é provável que aconteça o mesmo com você – mesmo que você não os conheça e mesmo que more a centenas de quilômetros de distância. A obesidade se espalha como um modismo; e é contagiosa.


Esta surpreendente descoberta, resultado de um estudo de 30 anos em Massachusetts, foi descrita por Nicholas A. Christakis e James H. Fowler em seu novo livro, “Connected: The Surprising Power of Social Networks and How They Shape Our Lives” [algo como “Conectados: O Surpreendente Poder das Redes Sociais e Como Elas Moldam Nossas Vidas”]. A pesquisa mostra que o mesmo fenômeno se aplica a fumar e a uma série de outros comportamentos e atitudes como o vício em bebida, a depressão, doações caritativas, práticas sexuais – e até decisões de se casar, divorciar, ter filhos ou votar.

Por que isso é importante? Porque desde o cuidado com a saúde até a mudança climática, os governos de hoje enfrentam uma variedade de problemas em que precisam persuadir as pessoas para mudar seu comportamento. Mas em vez de se fiar em seus poderes de persuasão, os políticos deveriam considerar estudar a ciência das redes.

A ideia básica da ciência das redes é simples. As pessoas se juntam em grupos com padrões de laços específicos, e esses padrões têm efeitos importantes na forma como se comportam. Um exemplo improvável são os musicais da Broadway.

Brian Uzzi é sociólogo na Universidade Northwestern, em Chicago. Ele também é um grande fã de musicais. De “Cats” até “Spamalot”, os musicais são um bom negócio há décadas, mas os investidores sempre precisam adivinhar quais peças farão sucesso. Intrigado, Uzzi usou a ciência das redes para descobrir por quê. Ele reuniu um conjunto de dados sobre 321 musicais que foram lançados na Broadway entre 1945 e 1989, verificando especialmente se as equipes formadas por produtores, coreógrafos, roteiristas e diretor haviam trabalhado juntas antes ou não.

Depois de processar as estatísticas, ele descobriu algo notável. Equipes que nunca haviam trabalhado juntas não tiveram tanto sucesso: suas fracas redes implicavam a falta de visão criativa e uma série de desempenhos insatisfatórios. No outro extremo, equipes que haviam trabalhado juntas com sucesso também tinham uma tendência a produzir fracassos. Às vezes, por uma falta de ideias criativas vindas de fora, a equipe simplesmente reelaborava as mesmas ideias que funcionaram no último espetáculo; outras vezes, por falta de gente nova, elas desenvolviam sua visão de formas absolutamente excêntricas. De qualquer forma, dificilmente o sucesso se repetia.

Mas, entre esses dois grupos, Uzzi descobriu algo importante. Ele encontrou um ponto de equilíbrio: grupos com a mistura exata de participantes novos e antigos produziam sucessos com uma frequência confiável. Essa variação na profundidade dos laços permitia a facilidade de comunicação e alimentava uma criatividade maior – as novas ideias das pessoas de fora se misturavam à experiência dos antigos. Não importava qual era o tema do musical ou quem o estivesse estrelando. Seu sucesso se espalhava pela estrutura da rede, unindo a equipe. O mesmo foi comprovado nas áreas da invenção científica e da inovação nos negócios.

Juntando esses dois insights – de que a informação que flui nas redes sociais pode mudar o comportamento, e de que o formato das redes muda dramaticamente seus resultados –, surgem algumas implicações intrigantes. Se é possível fazer musicais lucrativos simplesmente configurando a equipe de produção de forma adequada, por que a mesma estratégia não funcionaria para quem comanda escolas, hospitais, até mesmo um departamento do governo? E se é possível fazer com que as medidas antifumo levem em conta a capacidade das pessoas de influenciarem umas às outras, não há nenhuma razão para que as mesmas técnicas de redes não sejam usadas para cortar problemas como o alcoolismo, a obesidade ou reforçar a segurança do trabalho.


Expandindo essa ideia, se criar o tipo certo de redes sociais ajuda as pessoas a se relacionarem de forma mais eficaz, será que o Estado não deveria procurar pessoas que ajudassem a construir essas ligações? Especialistas na teoria do capital social difundiram essa ideia durante anos, sem muitos resultados. Mas eles têm um ponto importante: os governos deveriam tentar construir novos sistemas sociais que apoiem os laços sociais, e elaborar políticas que os levem em consideração.

Por que parar por aqui? As políticas de rede poderiam ajudar a incentivar novos tipos de crescimento que ajudem a nos tirar da recessão. A inovação nos negócios é fortemente influenciada pela estrutura de redes de equipes de projeto e pela comunicação entre parceiros comerciais ou cientistas. As políticas poderiam tirar vantagem disso, assim como poderiam tentar estabelecer novas normas sociais para a conservação de energia doméstica.

Talvez a perspectiva mais excitante de tudo isso seja o potencial para acabar com o isolamento social. A pesquisa mostra que não ter amigos, ou mesmo ter uma rede social pobre, pode ter um custo assustador: é mais provável que uma adolescente cujos amigos não se dão bem pense sobre suicídio do que uma outra cujos amigos se dão bem – independentemente de quem são os amigos, ou de como ela se dá com eles.

Os conservadores costumam se preocupar com as liberdades individuais, enquanto os liberais se preocupam com o bem-estar dos grupos sociais. A ciência das redes mostra que uma discriminação como esta é, no mínimo, extremamente simplista. Observe como os indivíduos se juntam em grupos e você também perceberá como o fato de participar de um grupo afeta os indivíduos. Ver os dois lados pode não só melhorar a política e economizar dinheiro, mas também ajudar nossos políticos a serem mais persuasivos – do jeito certo.

*(Nicholas A Christakis é professor de medicina, política de saúde e sociologia na Universidade de Harvard e co-autor de “Connected” com James H. Fowler. James Crabtree é editor-executivo da Prospect.)

Tradução: Eloise De Vylder

Lamentável!

''O best seller “Orixás, caboclos e guias, deuses ou demônios?”, do bispo Edir Macedo, volta a ser comercializado mais de 10 anos após o lançamento da primeira edição.



Até o ano de 2006, quando a obra parou de ser produzida, foram vendidos mais de 3 milhões de exemplares só no Brasil. Nesta nova edição, espera-se mais um sucesso de vendas.


“Sentir-me-ei realizado se este livro for uma verdadeira mensagem transformadora”, diz o bispo, que descreve a obra como um trabalho simples, sem pretensão, senão a de ajudar pessoas que vivem sofrendo por estarem enganadas e entrelaçadas por espíritos malignos.

Durante a narrativa, ele ensina como os indivíduos podem se livrar do mal que os domina.


“Quero ver milhares de pessoas – que antes eram escravas ou ‘cavalos’ dos demônios –, por intermédio destas palavras e da ação do Espírito Santo em suas vidas, tornarem-se verdadeiras servas do Deus Altíssimo, adorando o Senhor Jesus em Espírito e em Verdade”, completa o autor.''



OBS:
        Este livro tinha sido retirado de circulação, em respeito às religiões afro-brasileiras. Mas voltou a ser vendido, e seu site vincula esta mensagem descrita acima.
http://folha.arcauniversal.com.br/integra.jsp?codcanal=987&cod=148870&edicao=938
        Respeito muito o direito de todas as crenças em realizarem seus cultos, ensinarem sua doutrina, e orientarem seu corpo de doutrina, seus fiéis. Todos têm o direito irrestrito, garantido pela Constituição Brasileira de 1988, artigo V, inciso 6.
        Podemos pensar o que quer que seja, mas acho que assim como temos o direito, temos também o dever de fazer o mesmo, respeitar a crença do outro.
        Este livro avilta os cultos afro-brasileiros, insulta nossos Orixás,  e incentiva atos de intolerância e violência contra nossos Templos.
        Espero que logo a Lei novamente retire este livro de circulação. E que o respeito vença a intolerância.
        Chega!!!

sábado, 3 de abril de 2010

Proibir a Burca ajuda na Integração Cultural???

Uol notícias Internacional
03/04/2010


Opinião: Não faz sentido proibir a burca
DER SPIEGEL
Yassin Musharbash



Apesar da oposição ao véu islâmico ser compreensível nas sociedades democráticas ocidentais, proibi-lo não resolverá os problemas fundamentais de integração.


O Islã é basicamente aquilo em que os muçulmanos acreditam. Alguns acreditam que sua fé é perfeitamente compatível com cerveja. Outros acreditam que a única roupa adequada para uma mulher é a burca. A maioria dos muçulmanos se enquadra em um ponto intermediário entre esses dois extremos.


Se essas convicções religiosas se transformam em um problema depende do contexto social. No Afeganistão, a cerveja é um problema, mas a burca não. Na Bélgica, é o oposto. Há no momento uma ampla coalizão na Bélgica, incluindo verdes, liberais, democratas-cristãos, socialistas e a extrema direita, que quer impor uma proibição legal ao uso da burca e do véu que cobre o rosto chamado de niqab. Essa proibição seria aplicada por meio de multas ou até mesmo pena de prisão.


Uma proibição semelhante foi proposta na França e não causaria surpresa se o debate da burca logo se estendesse a outros países europeus, incluindo a Alemanha. E isso apesar de pouquíssimas mulheres que vivem no Ocidente usarem de fato a burca ou o niqab.


Impedindo a integração


Uma das ideias fundamentais da modernidade ocidental é o de que o mundo seria um lugar melhor se os países fossem mais parecidos com a Bélgica e menos como o Afeganistão. Homens e mulheres deveriam ser iguais, ninguém deveria ser excluído ou se sentir excluído, a religião deveria ser um assunto em grande parte privado. E os parlamentares belgas obviamente sentem que a burca e o niqab violam esses princípios fundamentais.


Isso é compreensível. Segundo esses padrões, a prática de tornar as mulheres –e nunca os homens– irreconhecíveis em público é uma provocação. E frequentemente há a suspeita de que algumas dessas mulheres são forçadas a vestir essas coberturas. Também pode ser presumido que as crianças nessas famílias não estão sendo criadas com ideias particularmente emancipadoras. Há certamente pouca dúvida de que esses véus atrapalham a integração.


Todavia, não faz sentido proibir a burca e o niqab. Essa proibição seria simplesmente atacar um sintoma, ignorando o problema real. Em questão não está o véu que cobre a cabeça, mas aquele que está dentro da cabeça.


Para qualquer mulher que é forçada a vestir a burca, uma proibição apenas asseguraria que ela não mais seria autorizada a sair de casa. Ninguém está seriamente sugerindo que ela teria um efeito instrutivo ou esclarecedor sobre o marido. E é arriscado especular que ela se sentiria apoiada por esta declaração legislativa.


Proibições não derrubam barreiras


Certamente é verdadeiro que as burcas parecem deslocadas na Europa. Afinal, a Europa representa a ideia de uma sociedade democrática, dinâmica e aberta. Quando parte da sociedade se remove (ou é removida) desses ideais, então isso é um problema.


Entretanto, proibições não tornam esses ideais mais claros ou mais palatáveis, não encorajam a participação e não derrubam barreiras. Elas fazem sentido quando envolvem ações concretas, como mutilação genital de meninas ou incitação à violência, nenhum dos quais são problemas exclusivamente muçulmanos.


Aqueles que gostariam de ver a burca e o niqab desaparecerem das ruas da Europa, entretanto, precisam procurar por outras soluções. A integração em uma sociedade aberta só pode ocorrer por meio de contato e troca. A frequência compulsória de crianças nas pré-escolas faria muito mais sentido, combinada com a obrigação por parte de ambos os pais de estarem presentes nos encontros de pais e mestres. E é melhor ir vestindo uma burca do que não ir.


A vantagem de propostas como estas é que não visam apenas as mulheres, nem apenas as famílias nas quais a mulher veste uma burca. Nem toda mulher vestindo uma burca ou um niqab se sente oprimida. E a prisão em que muitas mulheres muçulmanas sem dúvida vivem também pode ser invisível. Ela não é feita de tecido, mas de ideias.

Tradução: George El Khouri Andolfato


PS: Até quando nossas atitudes de intolerância continuarão violentando o direito religioso das minorias??? Violência, agressão, desrespeito passaram a ser chamados de Integração Cultural. Bélgica, França e outros países europeus ditos civilizados, colocam-se na posição de juízes inquisitores. Repetirão os acontecimentos da Idade Média quando a Igreja, em nome de Deus, colocava a todos nas Fogueiras da Santa Inquisição?

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Pedofilia e Antissemitismo são comparáveis?

Uol notícias
02/04/2010 - 19h18




Vítimas de pedofilia e líder judeu rejeitam comparação de críticas à Igreja com antissemitismo

Uma associação americana de vítimas de padres pedófilos e um líder judeu desaprovaram, nesta sexta-feira, as palavras de um pregador do Vaticano que comparou, durante celebração da Semana Santa, as críticas recebidas pela Igreja Católica devido aos casos de abusos sexuais de menores com o antissemitismo.

Na presença de Bento XVI, que presidia a liturgia da Paixão de Cristo na basílica de São Pedro, o sacerdote Raniero Cantalamessa leu uma carta de "solidariedade" ao Papa e à Igreja, que disse ter recebido recentemente de um "amigo judeu".

Os ataques atuais à Igreja, abalada por escândalos de pedofilia, fazem lembrar "os aspectos mais penosos do antissemitismo", afirmou o padre Cantalamessa.

"Com desgosto, acompanho o ataque violento e direcionado contra a Igreja e o Papa", disse o religioso franciscano, ao mencionar trechos da carta.

"O uso de estereótipos e a transferência de responsabilidades e culpas pessoais para coletivas me lembram os aspectos mais vergonhosos do antissemitismo", continuou o religioso, cujo sermão foi dedicado à violência, em particular à dirigida contra a mulher e cometida no seio familiar.

"Faz mal ao coração ver que um responsável de alto escalão do Vaticano, uma pessoa informada, faz observações tão duras que são um insulto tanto às vítimas das agressões sexuais quanto aos judeus", declarou, em um comunicado, David Clohessy, que dirige um grupo de defesa das vítimas de sacerdotes pedófilos, o SNAP (Survivors Network of those Abused by Priests).

"É moralmente errado comparar a violência física real e o ódio contra um grande número de pessoas inocentes com o que não é outra coisa senão o exame público dos atos de um pequeno grupo de responsáveis cúmplices", acrescentou Clohessy.

O rabino Gary Greenebaum, encarregado de relações interreligiosas no âmbito do Comitê Judaico Americano, qualificou de "maliciosas" as declarações do padre Cantalamessa.

"Não é uma comparação adequada, é evidente e claro para a maioria das pessoas", declarou à AFP.

O porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, falando sobre a postura de Cantalamessa, disse que se tratava "de uma carta lida pelo pregador e não a posição oficial do Vaticano".

O pregador do Papa, que tem a função de escrever o sermão durante o rito dedicado à "Paixão do Senhor" da Sexta-feira Santa, que se celebra poucas horas antes da Via Crúcis, havia advertido que não iria abordar o tema dos abusos cometidos por padres contra menores "porque deles já se fala muito do lado de fora".

No entanto, ao citar a carta de solidariedade de seu amigo judeu e comparar os ataques contra a Igreja aos preconceitos e à hostilidade dirigida aos judeus como grupo generalizado, o padre Cantalamessa acabou reavivando o debate.

Durante a solenidade dos ritos da Semana Santa, o Papa continuou recebendo mensagens de solidariedade de vários episcopados em função das críticas sobre sua gestão de casos de pedofilia por parte de sacerdotes.

O Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) acusou alguns meios de comunicação internacionais de divulgar "reconstruções falsas" e "caluniosas" sobre a atitude do papa Bento XVI frente aos casos de abusos sexuais de menores por parte de sacerdotes na década anterior, informou a entidade em um comunicado assinado pelo arcebispo brasileiro Raymundo Damasceno Assis.

"Ao contrário do que alguns veículos de imprensa divulgaram, a atitude do então cardeal Joseph Ratzinger com relação ao caso de abusos sexuais sobre menores por parte de clero foi sempre muito severa, como testemunham as pessoas que trabalharam com ele", destaca o comunicado do CELAM.

Para o bispo paraguaio Jorge Livieres Plano, de Alto Paraná, as denúncias de pedofilia amplamente divulgadas pela imprensa internacional "em sua maioria são falsas" e representam uma perseguição organizada contra a Igreja porque esta se opõe ao aborto e à homossexualidade.

"Há mais homens infiéis às suas esposas, pedófilos e homossexuais do que sacerdotes infiéis à sua vocação, pedófilos e homossexuais", argumentou o religioso.

Os bispos do Canadá também lamentaram, em uma mensagem enviada por ocasião da Páscoa, "a atenção que a mídia tem dado a tais informações" sobre casos de pedofilia na Igreja, apesar de que seus representantes tenham agido de forma "sábia e responsável".

Na França, mais de 70 intelectuais pediram aos meios de comunicação maior "ética" e "responsabilidade", em carta publicada em uma página na internet e reproduzida pelo jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

CATACUMBAS DO SILÊNCIO - De pecados e crimes


Roseli Fischmann

30/3/2010
Reproduzido da Folha de S.Paulo, 29/3/2010; intertítulos do OI


O noticiário sobre pedofilia, atingindo religiosos da Igreja Católica, inclusive da alta hierarquia, traz tantos dados que chocam, que o Vaticano publicou editorial atacando a imprensa internacional por cumprir seu papel, qual seja, o de informar. Acostumada a tratamento diferenciado, muitas vezes privilegiado, por parte da mídia, com desvantagem para os demais grupos religiosos, a hierarquia católica reage de forma hostil à impossibilidade que teve a imprensa de postar-se como cúmplice de crimes inaceitáveis, por omissão.

É certo que as relações das religiões com os poderes terrenos são assunto delicado e polêmico. Investidos de aura suprahumana, para os que crêem neste ou naquele culto, com facilidade pode ocorrer de buscarem transbordar, para o plano meramente político, o poder espiritual que lhes é atribuído pela religião, como instituição humana.

Decorre daí a facilidade de, em nome da divindade, fazer acordos internacionais (como a concordata com a Santa Sé a que se curvaram políticos do Brasil), desenvolver articulações políticas e facilmente ganhar espaço, onde outros dependem do voto e da legitimidade. O uso do poder espiritual para obter benesses humanas é tanto mais perigoso, quanto mais confunde argumentos que invocam caridade, para alcançar privilégios materiais, suprimindo direitos de outros.

Contra a doutrina

Ao potencializar o poder espiritual pela união ao poder político, mera e complexamente humano, a expectativa é de reunir os benefícios das duas esferas. Engendrada nas altas hierarquias, repercute em outros níveis de forma imprevisível. Enquanto alguns religiosos tomam o compromisso de defesa dos direitos, outros enveredam por caminho oposto. Copiando a má prática humana na política, esperam a máxima visibilidade dos méritos e a completa impunidade dos erros. Quando ocorre alguma "escorregada", que em outros seres humanos, "comuns", será chamado de crime, considera-se "natural" a invisibilização e o silêncio, garantindo a impunidade, pelo desconhecimento público.

Vale lembrar que a Igreja Católica, por sua associação milenar, desde Constantino, ao poder terreno, tem digerido mal a independência e autonomia laica dos Estados em relação aos cultos, processo fortalecido a partir da Revolução Francesa – e conseqüentemente, digere mal a autonomia da cidadania e a soberania do Estado.

Por ser instituição burocratizada altamente complexa, a diversidade interna da Igreja Católica lhe permite um portfólio de exemplos de religiosos com atuação religiosa e social impecável, para contrapor aos abusos agora denunciados. O reconhecimento do drama vivido pelas vítimas, mesmo a indenização pecuniária, nada retira do caráter irreversível do dano causado a quem sofreu a violência sexual, em particular sendo criança, que perdeu o direito à inocência, pela ação de quem supunha ser seu guia. O uso da autoridade como forma privilegiada de cometer o abuso é aviltante para as relações de autoridade e para o próprio sentido educativo dessas relações.

A lentidão em reconhecer os casos de abuso e pedofilia, em diferentes países, como o Brasil, é a outra face da moeda, que credita à Igreja Católica o poder de a tudo julgar e tudo determinar na vida humana, inclusive interferindo em políticas públicas. É o caso das pressões sobre o 3º PNDH, para os temas de retirada dos símbolos religiosos de estabelecimentos públicos, reconhecimento da autonomia das mulheres, em caso de aborto, e das uniões homoafetivas, incluindo adoção de filhos. Ignora que seus fiéis, se convictos, não serão obrigados a coisa alguma que contrarie sua doutrina, por uma lei que se proponha como possibilidade.

Investigar e julgar

Porque a lógica do interesse público precisa pautar-se por atender a toda a cidadania, sem discriminação, cabendo às denominações religiosas convencer seus membros a que atendam as determinações morais que pregam, definindo o que é pecado, e não ao Estado, que lida apenas com o que é crime. Quem for convicto seguirá os ditames da religião sem titubear, ainda que as leis ofereçam possibilidades a si vetadas pelas normas religiosas. Se uma denominação religiosa proíbe o álcool, não será a existência de bares que convencerá o seu adepto a provar da bebida.

Ao tomar conhecimento de infratores em suas fileiras, e imediatamente encobri-los, o que o Vaticano reitera é sua disposição de ser soberano por sobre a ordem humana, que é plural do ponto de vista religioso e de consciência, mesmo quando os atos cometidos – pecados ou não – são terrível e simplesmente enquadráveis como possíveis crimes, cabendo, pois, ao Estado investigar e julgar, de forma pública e transparente, o que apenas engrandecerá a instituição religiosa por abrir-se com coragem, prevenindo semelhantes situações.


PS: Disse tudo!!! Paó Roseli Fischmann!

Páscoa

Luiz Fernando Veríssimo





-Papai, o que é Páscoa?

-Ora, Páscoa é... Bem... é uma festa religiosa!

-Igual ao Natal ?

-É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e

na Páscoa,

Se não me engano, comemora-se a sua ressurreição.

-Ressurreição?

-É, ressurreição. Carmen, vem cá!

-Sim?

-Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o

meu jornal.

-Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido.

Foi o que

aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele

Ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu?

-Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?

-O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho!

Jesus Cristo é

o Papai do Céu ! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge,

esse menino

não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo menos aos

domingos. Até

parece que não lhe demos uma educação cristã! Já pensou se ele

solta uma

besteira dessas na escola ? Deus me perdoe ! Amanhã mesmo vou

matricular

esse moleque no catecismo!

-Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus?

-É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso

no

Catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

-O Espírito Santo também é Deus?

-É sim.

-E Minas Gerais?

-Sacrilégio!!!

-É por isso que a ilha de Trindade FICA perto do Espírito Santo?

-Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu

filho, é o

Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a

mamãe entende

direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica

tudinho!

-Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho DA Páscoa?

-Eu sei lá! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao

invés de

presente ele traz ovinhos.

-Coelho bota ovo?

-Chega! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais!

-Papai, não era melhor que fosse galinha DA Páscoa?

-Era... Era melhor, sim... Ou então urubu.

-Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né? Que dia ele morreu?

-Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.

-Que dia e que mês?

-Sabe que eu nunca pensei nisso? Eu só aprendi que ele morreu na

Sexta-feira

Santa e ressuscitou três dias depois, no Sábado de Aleluia.

-Um dia depois!

-Não três dias depois.

-Então morreu na Quarta-feira.

-Não, morreu na Sexta-feira Santa... Ou terá sido na Quarta-feira

de Cinzas?

Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na Sexta mesmo e

ressuscitou no

sábado, três dias depois! Como ? Pergunte à sua professora de

catecismo!

-Papai, porque amarraram um Monte de bonecos de pano lá na rua?

-É que hoje é Sábado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a

malhação do Judas.

Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

-O Judas traiu Jesus no Sábado?

-Claro que não! Se Jesus morreu na Sexta!!!

-Então por que eles não malham o Judas no dia certo?

-Ui...

-Papai, qual era o sobrenome de Jesus?

-Cristo. Jesus Cristo.

-Só?

-Que eu saiba sim, por quê?

-Não sei não, mas tenho um palpite de que o Nome dele era Jesus

Cristo

Coelho. Só assim esse negócio de coelho DA Páscoa faz sentido,

não acha?

-Ai coitada!

-Coitada de quem?

-Da sua professora de catecismo!


PS: Em meio a tanto consumismo, é bom pararmos um pouco para refletir.

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