Stela Guedes Caputo Loguncy |
Eu não
tenho leucemia. Não peguei piolho. Não passei um produto na cabeça que fez meu
cabelo cair. Fui raspada. Eu me iniciei no candomblé por escolha e por amor
depois de uma vida dedicada à pesquisa de suas crianças. "Amada no amado
transformada", sou candomblecista. Filha, com o coração transbordado em
honras, de Daniel ty Yemonjá, do Ilè Asé Omi Laare Ìyá Sagbá, em Santa Cruz da
Serra, Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Durante mais de 20 anos ouvi essas
respostas de crianças e jovens candomblecistas que, ao serem perguntadas do
porquê rasparam a cabeça, inventavam e inventam maneiras de menos sofrer.
Muitos adultos também precisam ocultar seu amor para permanecerem em empregos
ou conquistarem um. Para serem aceitos, às vezes, em sua própria família e até por
"amigos". Não significa que sejam pessoas fracas, gostem menos dos
Orixás, ou de seus terreiros. O problema não está nelas. O problema está nessa
sociedade racista, hipócrita, preconceituosa e nada nada laica. Sonho com um
mundo em que um dia todos possam viver e publicizar seu amor, seus modos de
acreditar ou não acreditar, seus modos de ser. Sonho e luto por uma sociedade
de verdade laica. Por uma escola pública laica e sem Ensino Religioso que
aumenta, todos os dias, a discriminação de nossas crianças e jovens de
terreiros. (Stela Guedes Caputo - Dofonitinha de Lógunède - professora do
Programa de Pós-Graduação em Educação - PROPED/UERJ).Foto: Flávio Mota.
Um comentário:
Adoro a escrita de Caputto, principalmente por tratar de uma temática tão sensível e pertinente, o respeito com as diferenças. Kolofé.
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