GT
6 – Escolas das Religiões Afro-brasileiras e diálogos
Jociane
Neves Negrão
Transe,
possessão e êxtase religioso nas religiões afro-brasileiras
Jociane
Neves Negrão[1]
Introdução
[...] o transe é um fenômeno que acontece
no mundo inteiro, e não está restrito somente a um contexto cristão, mas em
todas as religiões aparecem alguns aspectos do transe espiritual. Às vezes
esses aspectos são tidos como uma manifestação mais demoníaca, em outros, são
vistos como divino. Mas estão no mundo inteiro, em diferentes religiões e
culturas. Eu acho que esse, no fundo, é o ponto central de algumas experiências
religiosas. (Dra. Betina Schimidt in PECORA, 2011, p. 186)
Aqueles que
buscam contato com o sagrado por meio dos estados alterados de consciência[2]
(EACs ou estados superiores de consciência[3]
(ESCs), sempre causaram curiosidade, respeito e temor. Chamados de médiuns por
serem considerados os intermediários entre o plano material e espiritual, usufruíram
em todas as épocas da história humana de grande influência e poder. Fonte
direta para o Sagrado, ocupavam posição de destaque, ou até mesmo a posição
mais importante de seus povos. O Pajé em sua tribo, o Sacerdote no clã, o
Curandeiro para o povo[4].
Por mais
primitivo que fosse o povo, sempre existiu uma forma de contato com a
divindade, que emoldurava o comportamento do grupo, e que unificava e
fortalecia o coletivo. A maioria destes povos chamados primitivos,
caracterizava-se pelo politeísmo, pelo transe e pela magia. Com o advento do
monoteísmo (Judaísmo, Cristianismo e Islamismo), o politeísmo perdeu força, e
com ele, o mediunismo/transe[5]
foi perseguido, combatido e reprimido como manifestação maléfica, ignóbil e
impura. A Inquisição foi apenas o ápice de um processo de mudança de paradigma:
do Pajé para o Padre, do Politeísmo para o Monoteísmo. O poder religioso
deslocou-se das muitas e inumeráveis mãos, para poucas e rígidas mãos, as da
Igreja. Por mil anos (Idade das Trevas) toda a religiosidade ocidental girou em
torno dos mosteiros.
Com o
Mercantilismo e as Grandes Navegações[6], o
Velho Mundo (representado basicamente pela Europa cristã) começava a explorar o
Novo Mundo. Inúmeros interesses nortearam as decisões que viriam a determinar
os séculos seguintes. Novamente, o monoteísmo judaico-cristão se defrontou com
as culturas ditas primitivas e politeístas, desta vez no Novo Mundo. Conflitos
já resolvidos na Europa, renasceram. Os valores religiosos do homem branco
europeu chocaram-se com a riqueza cultural e religiosa dos povos indígenas
americanos. Mas é fato que os EACs ou ESCs foram observados pelos colonizadores
europeus que, a princípio, resumiam-se nos padres jesuítas[7].
Toda esta
realidade da etnia indígena somou-se à realidade da etnia africana, que chegou
trazida pelo português colonizador como escrava ao Brasil. A riqueza de suas
culturas e religiosidades foram determinantes para a formação do povo
brasileiro. Em suas religiosidades, o transe e possessão eram fundamentais.
E, embora esteja
bastante claro que os EACs[8] ou
ESCs existiram e se mantiveram na cultura popular durante todos estes séculos,
antes e depois da colonização portuguesa, foi apenas no século XIX com o
advento do Espiritismo, que o transe voltou a ser discutido na Europa e no
Brasil. Portanto, justificado pela elite europeia, o transe começou a ser
tratado como algo merecedor de estudo e pesquisa.
O objetivo deste
artigo é compreender a importância do transe, possessão e êxtase religiosos
para as religiões afro-brasileiras, discutindo, de forma aberta, a construção
do preconceito neste tipo de experiência religiosa.
Para a compilação
deste artigo serão utilizados revisão bibliográfica e artigos científicos. Ao
abordar a Umbanda, serão utilizados os autores renomados no meio umbandista, W.
W. da Mata e Silva e Francisco Rivas Neto.
Revisão dos estudos históricos sobre os
EACs/ESCs
“A medicina está envolvida em profundos
laços de competição com a religião há milhares de anos. Ambas procuram espaços
para validar as suas práticas em áreas contíguas das relações sociais. É muito
difícil saber onde começa uma e termina a outra”. (BOTELHO, 1991, p. 178)
O século XIX e
início do século XX foram particularmente tumultuados no Brasil, principalmente
para as vertentes religiosas que tinham o transe como parte de seus rituais.
Nesse momento, a recém-nascida
comunidade psiquiátrica brasileira começava a olhar com curiosidade este
fenômeno que tomava mais destaque com a chegada do Espiritismo.
Posturas mais
rígidas e medicalizantes foram adotadas pelos médicos do eixo Rio de Janeiro-São
Paulo, tendo como grande incentivador Belford Roxo[9]
(1938, p. 59-72). Roxo também exigia maior atuação do poder público na repressão
às “práticas tão deletérias”, dizendo que o combate às práticas mediúnicas
seria uma medida de promoção da higiene mental. (ALMEIDA, 2007, p. 3).
Os médicos do
eixo Bahia-Pernambuco defendiam uma posição mais antropológica, apesar de
reconhecerem o caráter patológico e primitivo do fenômeno. Valorizavam os
aspectos socioculturais do fenômeno e a necessidade de entendimento do comportamento
humano. Defendiam um maior respeito às
práticas consideradas religiosas, étnicas ou culturais. Nina Rodrigues[10] (1935,
p. 109) considerava que o estado de santo estava relacionado ao sonambulismo
provocado por sugestão (música, ritmada, monótona, que impelia à dança, e esta
ao estado de possessão)[11].
Sobre o Candomblé, Rodrigues (1935, p. 109) atribuía ao transe e possessão a um
mecanismo mental patológico, mas considerava que esses fenômenos poderiam ter
valor psicológico positivo, por seus efeitos catárticos, e por se apresentarem
de forma ritualizada e altamente controlada pelo grupo religioso, em especial
pelos pais-de-terreiro. Além disso,
pensava que tais manifestações religiosas satisfariam as necessidades
emocionais primitivas dos seus adeptos, e não deveriam ser reprimidas. Franco
da Rocha[12] já falava das práticas
mediúnicas desde 1896.
De uma forma
geral, as práticas mediúnicas eram acusadas pelo meio médico de desencadear a
loucura, de induzir ao suicídio (CALDAS, 1929, p. 159-159), ao estupro (PEIXOTO,
1909, p. 78-94), ao homicídio e à desagregação familiar (RIBEIRO e CAMPOS, 1931,
p. 12; OLIVEIRA, 1931, p. 27)[13].
Um bom exemplo
disto foi o médico Carlos Eduardo Fernandes (1939 a, d, g; 1939 b, c, e, f; 1939)
que solicitou ao governo punição para os espíritas que praticassem medicina
ilegalmente e intervenção policial nos centros, para enquadrar os médiuns
receitistas[14]. Portanto, há também uma
rejeição quanto às atividades de curas promovidas pelos espíritas, sendo
chamado de charlatanismo e curandeirismo desde 1830 (SCHWARCZ, 2001, p. 222). Convém
lembrar o caso de Juca Rosa (Rio de Janeiro, 1860)[15] que
foi preso e desapareceu. Conhecido como feiticeiro, serviu como exemplo para
que se criasse uma legislação (Código Penal de 1890[16])
específica contra os curandeiros e os feiticeiros. As práticas mediúnicas
passaram a ser consideradas crimes contra a saúde pública e muitas casas de
culto foram fechadas e médiuns presos ou internados em manicômios. Outro caso
foi João de Camargo (São Paulo, final século XIX) que foi preso inúmeras vezes,
desprezado, considerado alcóolatra e louco, tentativas de destruir sua
reputação e respeitabilidade. Por fim, João de Camargo registrou-se como espírita
em 1921, sendo então deixado em paz. Tanto Juca Rosa, quanto João de Camargo[17]
tinham características em seus cultos daquilo que viria a ser chamada Umbanda[18].
Artur Ramos
publicou sua tese de doutoramento intitulada Primitivo e Loucura (1926) onde
defendia uma visão evolucionista e racista do transe. Já em A cultura negra no
mundo (RAMOS, 1937) enfatizou fatores culturais, deixando para trás a
perspectiva racista. “Manteve, como Nina Rodrigues, o referencial teórico em
que aproximou possessão à histeria vista na época segundo uma perspectiva
psicodinâmica, influenciada por autores como Freud e Jung”. (ALMEIDA, 2007, p. 9)
Ulisses
Pernambuco[19] “defendia uma visão
tolerante em relação aos cultos afro-brasileiros, pois não via neles a origem
de transtornos mentais, mas a manifestação cultural das camadas pobres da
população” (PERNAMBUCO in ALMEIDA, 2007, p. 10). Ulisses Pernambuco e Artur
Ramos defendiam um controle médico sobre as religiões com fundamentos no transe,
mas sem apoio policial, pois acreditavam que a educação era o único meio para
afastar a população deste comportamento primitivo. (ALMEIDA, 2007, p. 10)
René Ribeiro
dizia que as dissociações produzidas pela experiência religiosa tinham, entre
outras, a finalidade de operar como um mecanismo de escape perante uma situação
de forte pressão externa. Portanto,
concluiu ser a possessão um fenômeno normal, compreendido mediante a
identificação de padrões culturais dos participantes e dos condicionamentos que
as normas grupais impunham. (RIBEIRO, 1937; 1952; 1956; 1957).
Segundo Câmara
(1995, p. 624), foi Jacques Mongruel que primeiro reconheceu a função
terapêutica do transe e possessão, no I Congresso Interamericano de Medicina,
ocorrido em 1946, no Rio de Janeiro, a isto ele chamou Transe Psicoautônomo, ou
seja, uma manifestação psíquica espontânea de natureza autônoma.
Álvaro Rubim de
Pinho (1975, p. 211-224) analisou a sobreposição entre a experiência mística e
transtorno mental. Para ele “a ideia e o sentimento religioso são de todos os
momentos da história[...] [...]em todos, terão existido psicoses e comportamentos
desviantes.” Segundo Almeida (2007, p.
11):
Pinho reconhece também que místicos não
psicóticos, frutos quase exclusivos de fatores socioculturais existiram
individualmente ou agrupados, em todas as seitas e todas as eras. Faz críticas
à visão medicalizante e estreita da psiquiatria em relação a fenômenos como
possessão, demonopatia, transes mediúnicos, e os estados de santo. Segundo ele,
a psiquiatria sempre identificou esses estados como dissociação histérica. Diz que se os histéricos utilizam mecanismos
dissociativos, de alteração da consciência, nada impede, entretanto, que
pessoas psiquicamente sadias, quando acionadas por fatores culturais e
religiosos, desenvolvam estados alterados de consciência sem significação
patológica.
[...] populações dos centros espíritas e
candomblés incluem imensa maioria de pessoas normais, simultaneamente com a
minoria de anormais, estes em parte levados pela expectativa das curas. (PINHO,
1975, p. 211-224)[20]
Portanto,
após toda essa revisão histórica, podemos concluir que, para a Psiquiatria do
final do século XIX ao início do século XX, o transe foi considerado
patológico, merecedor de intervenção medicamentosa, internação e repressão
policial[21].
Após
inúmeros embates entre os religiosos e psiquiatras, o conceito psiquiátrico
sobre transe e possessão sofreu imenso progresso e hoje, no conceito médico atual
(DSM IVR e CID 10), o transe e possessão, se adequados à realidade e cultura
local, não são considerados patológicos[22],
mas se desprovidos de significação cultural, deslocados da realidade daquele
povo, devem ser tratados como patologia psiquiátrica. (NEGRAO, 2008, p. 18)
Dra. Bettina
E. Schmidt (in PECORA, 2011, p.185-192) deixa bem claro que possessão
espiritual não está relacionada à saúde mental. Portanto, a Ciência Médica e a
Antropologia já concordam que transe e
possessão não estão relacionados à doença mental.
Etnias e suas contribuições
A etnia branca
trouxe ao Brasil basicamente o monoteísmo, representado pela Bíblia e pelo
Torah, e também a herança da magia europeia, com toda a sua simbologia. A etnia
africana, representada por muitos povos diferentes, trouxe uma cultura
islamizada pelo Alcorão, mas alguns povos africanos trouxeram seus conceitos
politeístas, sem livro sagrado, transmitidos pela tradição oral, contados em
seus mitos e ritos. A etnia indígena, assim como alguns povos africanos, não
possuíam livro sagrado, e também se mantinham por meio da tradição oral, seus
mitos e ritos.
As práticas
religiosas africanas e indígenas causaram repúdio por suas diferenças marcantes
quando comparadas às culturas europeias. Por não possuírem um livro sagrado e
não utilizarem a escrita tradicional, as culturas africanas e indígenas foram
denominadas primitivas[23].
Nestas culturas de tradição oral[24],
o conhecimento é passado de geração em geração, de mestre a discípulo, por meio
de um processo iniciático.
Nas
religiões de tradição oral, o tempo é o tempo mítico, ou seja, o tempo
vivenciado pelo mito. Não há marco inicial, o mito é revivido em cada rito. E o
rito reatualiza o mito. É comum ouvir a expressão no início dos tempos
como referência nas historietas desta tradição como exemplificam os Itans do
Ifá. A ideia de tempo era bastante diferente, própria de cada povo[25].
Normalmente, o tempo era determinado pelas colheitas, pelas estações do ano ou
pela necessidade de comercialização dos produtos[26].
Portanto, se a ideia de tempo era algo pouco importante na tradição oral, como
se deu a passagem do atemporal para o temporal? Do tempo circular para o
sequencial/linear?
A
cultura mercantilista, e depois a industrializada necessitavam de uma marcação
temporal específica, uma forma de determinar lucro e produtividade. Não havia
mais o interesse apenas pelo sustento do clã, da prole, do coletivo. O
interesse agora era o enriquecimento individual, a exploração dos processos
produtivos, a hegemonia do poder. A riqueza determinava o poder. A escrita, que
era apenas um método, passou a ser o método, tornando-se referência de
progresso cultural, avanço social e poder.
Na
tradição oral, o conhecimento está livre para ser interpretado, modificado e
ritualizado conforme a compreensão de cada época e de cada povo. Não há rigidez
conceitual, permitindo a mobilidade que inclui todas as formas de compreender o
sagrado. Na tradição oral o Homem é visto como sagrado.
No
desejo de documentar, enrijeceram-se os conceitos anteriormente abertos e
livres para ressignificação. E então, para a manutenção e exercício do poder
por meio da opressão sob os demais, produziu-se o dogma. E é por este dogma que
se perseguem e condenam até hoje todos os valores das tradições orais. É
necessário agora ter um único deus, o politeísmo não é mais tolerável. É
necessário um livro sagrado para se seguir rigidamente (normas e leis morais).
E se há um livro ditando as regras, não se pode mais questionar, é necessário apenas
obedecer. A liberdade é definitivamente trocada pela obediência. A interação com o Sagrado agora é substituída
pela submissão ao represente do Sagrado na Terra. É a Institucionalização do
Sagrado, afastando o religioso da Transcendência. A imanência já não atinge a
transcendência.
Outra
característica importante das culturas orais é a valorização do contato direto
com a divindade/natureza, e seus intermediários (médiuns, sacerdotes,
pitonisas, pajés e afins). Se o contato se dava assim, o transe, a possessão e
o êxtase religioso tinham caráter primordial e determinante na religiosidade e
na experiência religiosa dos povos não cristãos.
Quando os
jesuítas chegaram ao Brasil utilizaram técnicas de catequização para destruir as
imagens dos seres míticos dos indígenas, transformando-os em santos ou em
demônios. Associaram as técnicas de cura
do Pajé à feitiçaria e à superstição[27].
Aos poucos, os jesuítas minaram as crenças indígenas em seus deuses, substituindo-os
pelo deus e mitos cristãos. Quando os
negros chegaram ao Brasil, os povos que ainda não eram islamizados traziam seus
mitos, seus ritos, seus deuses. Foram obrigados a se converterem ao
cristianismo, e para manterem suas crenças, sincretizaram seus deuses com os
santos católicos, escondendo-se sob a égide das confrarias e irmandades
católicas, ou sob as manifestações como
a Congada e a Folia de Reis. Suas danças, ritos e rezas eram reprimidos
e castigados. (PRIORE, 2004, p. 33-46) Em suas manifestações religiosas, o
transe ainda se manteve presente, chegando até os dias atuais como traço
fundamental em sua religiosidade.
Apesar de todos
os esforços empreendidos pela Igreja, com perseguição, violência, repressão, e
mortes, o transe seguiu firme na religiosidade brasileira, sincretizada e
disfarçada, sobrevivendo ao longo dos séculos e mostrando sua força enraizada
no povo brasileiro. E mesmo hoje, quando o movimento religioso neopentecostal
se fundamenta na perseguição ao transe, ele se mantém.
O Transe nas religiões afro-brasileiras
Segundo Gadamer
(2000, p. 227) estudar, refletir e escrever sobre religião é trabalhar sobre o
mesmo material de que ela é feita, da experiência humana nos seus limites,
assim como de símbolos culturais, que constituem, alimentam, constrangem,
enriquecem e viabilizam nossos espíritos e nossa existência neste mundo. Todos,
crédulos e incrédulos, de uma forma ou de outra, somos tocados pelo espírito da
religião e dele dificilmente escapamos.[28]
Diante disso, pode-se
concluir que a religiosidade é uma característica da espécie, independente da
religião, inerente, mas variável de indivíduo para indivíduo[29].
Mas, como seria definido
o transe por estudiosos das religiões afro-brasileiras?
Para o Prof. Dr.
Volney J. Berkenbrock[30]
(2011, p. 17):
A palavra experiência é utilizada para
designar algo pessoal, individual, intransferível, irrepetível, incontrolável,
único. O indivíduo, o sujeito, tem experiências como momentos únicos em sua
vida. Estas podem ser relatadas, racionalizadas, interpretadas, mas não podem
ser transferidas de uma pessoa para outra. Experiência ocorre no âmbito do mais
íntimo do sentimento e por isso mesmo só pode ser sentida. O falar sobre, o
relatar, o racionalizar ou interpretar, de forma alguma irá repetir este
momento ou transferí-lo para quem ouve o relato.
Berkenbrock
(2011, p. 24) ressalta a importância da
experiência religiosa para as religiões afro-brasileiras:
Se o textos sagrados têm para as diversas
tradições cristãs um status ímpar de referência, para as tradições das religiões
afro-brasileiras, este status é ocupado pela experiência religiosa. A
experiência religiosa não é apenas uma possibilidade, como nas tradições
cristãs. Ela é um fator estruturante para a religião. Assim, por exemplo, tanto
na Umbanda quanto no Candomblé, a experiência do transe com a entidade
espiritual estrutura o ritual, a hierarquia da comunidade, a ética (ou moral)
dos fiéis, a compreensão do lugar de cada fiel no mundo religioso, o sistema
simbólico da religião, etc. Todo o sistema religioso tem a experiência
religiosa como referência, como ponto de culminância e ponto de partida.
Berkenbrock
(2011, p. 23) ressalta como a experiência religiosa foi desprezada após a
Teologia Escolástica, por ser um processo individual e subjetivo,
valorizando-se a partir daí uma Teologia baseada nos textos escritos e na
racionalidade. Veja:
[...] a experiência
religiosa individual recebeu – principalmente após a estruturação da Teologia
Escolástica – muito pouco espaço ou importância como elemento da reflexão
teológica. A experiência religiosa foi relegada ao campo da piedade ou devoção
pessoal, ao campo da vivência da espiritualidade e não da reflexão; por outro,
a experiência religiosa era entendida como algo tão subjetivo que não poderia
contribuir para a objetividade (e certa neutralidade cientifica) exigida por
uma determinada ciência, como a teologia. Há também um componente político
nesta compreensão, pois a teologia cultivada pela instituição não dava espaço
ao sentimento subjetivo, entendo a compreensão teológica como uma reflexão
sobre a verdade instituída. Esta
situação tem se modificado desde fins do século XX, quando aos poucos, a
experiência religiosa tem ganho paulatinamente cidadania [...] [...]
Independente de quão valorado é hoje a experiência religiosa, uma coisa é
certa: ela não mais pode ser desprezada na reflexão teológica como um dos
elementos para se pensar a lógica religiosa.
De fato, segundo Gonçalves
e Jorge (2012, p. 5-10) o transe é elemento fundamentante para a cosmovisão das
religiões afro-brasileiras. É uma prática ritual complexa, mas não é acessível
a todos, pois requer características individuais[31].
Segundo as
autoras[32],
“o transe pode ser facilitado pelos sacerdotes e magos, por seus cânticos, encantamentos
ou mesmo por bebidas rituais, como é o caso da bebida jurema, álcool e tabaco.”[33] De
acordo com suas pesquisas, há coisas que são de cunho coletivo (aprendizagem)[34], como
por exemplo, as danças. Esses atos não são reproduzidos mecanicamente, mas são
observados, apropriados e vivenciados. Segundo a sacerdotisa entrevistada por
essas pesquisadoras, o corpo é expressão da espiritualidade. A música, o canto,
a dança, o transe e a possessão são vistos como expressão da espiritualidade. O
corpo é conexão do homem com o mundo dos Orixás. É o corpo que promove o
encontro entre essas duas dimensões, a material (hominal) e a espiritual (Orixás).
A
mesma sacerdotisa, ao ser questionada como sentia o corpo no momento do transe
diz:
Você tem durante o transe uma redução do
seu estado de consciência pleno, então você não tem o controle absoluto do seu
corpo. É importante frisar que há diferença entre a incorporação e o transe em
si, são coisas distintas. Mas é impossível ensinar algum filho de santo a
entrar em transe, a ter uma incorporação porque o transe possibilita o encontro
de dois planos de existência e a liberação do inconsciente individual e
coletivo, o que torna impossível você ter controle, cada pessoa tem uma
expressão particular e cada Orixá ou entidade vai se manifestar também segundo
as particularidades das pessoas. Aprender a dançar é uma coisa, aprender o
transe é impossível. (GONÇALVES; JORGE, 2012, p. 8)
Portanto,
o transe depende de características que não são adquiridas nos terreiros, e não
pode ser ensinado. “O corpo no momento do transe é um veículo para manifestação
do transcendente e este irá guiar o indivíduo, a entidade espiritual é quem
ensina e domina seu cavalo de santo ou médium”. (GONÇALVES; JORGE, 2012, p.
10). E mais, os parâmetros norteadores do médium e de sua atuação mediúnica são
os aspectos espirituais e a entidade espiritual atuante. Não há aprendizado
nisso.
O
conceituado autor W. W. da Mata e Silva (1987, p. 58-70) enfatiza a importância
da mediunidade/transe na Umbanda:
[...] ser um médium de Umbanda, isto é, um
veículo dos espíritos de caboclos, preto-velhos e outros de dentro da faixa é
uma condição excepcional, por ser, por sua vez, consequência de uma escolha
especial, feita no plano astral antes mesmo do espírito encarnar [...] [...]
função mediúnica exclusiva militar na Corrente de Umbanda e sobre aparelhos
pré-escolhidos, desde quando desencarnados [...]
Francisco
Rivas Neto (2012, p. 116) afirma que:
As Religiões afro-brasileiras são de
transe, seja ele de possessão, mediúnico ou anímico. Não entraremos nos
pormenores desse tema agora, mas afirmamos que todos eles se aliam a fatores
terapêuticos, pois permitem que o material do inconsciente transite traduzido e
decodificado para o consciente, possibilitando um estado superior de
consciência (consciência ampliada).
Considerações Gerais
Discutir o valor
do transe para as religiões afro-brasileiras pressupõe encarar o desafio de
reconstruir o inconsciente das três etnias que formaram o povo brasileiro, compreender
as diferenças fundamentais entre tempo linear e circular, tradição escrita e
tradição oral, monoteísmo e politeísmo, religiosidade e experiência religiosa
nas diferentes culturas.
Se analisarmos
tão e exclusivamente as diferenças existentes entre as duas formas de se tratar
o transe pela ciência e pelas religiões afro-brasileiras, já podemos notar o
quanto é difícil chegar a um consenso. O transe é definido pela ciência como
estado alterado de consciência (EACs), algo que altera o estado consciente,
vigil. As religiões afro-brasileiras definem o transe como estado superior de consciência
(ESCs), considerando que o transe eleva o nível de consciência. Enquanto um o rebaixa,
o outro o eleva.
Também foi fácil
notar que o transe, quando ocorre em religiões afro-brasileiras ou culturas
ditas politeístas, é visto com algo primitivo e negativo. Contudo, se o transe
ocorrer entre as culturas monoteístas, ele será considerado divino, superior,
místico.
Também foi fácil
perceber como os médiuns foram tratados de diferentes formas ao longo da
história. A princípio, enquanto predominavam as culturas politeístas,
desfrutaram de prestígio e poder. Na medida em que as culturas politeístas foram
sendo dominadas, e o monoteísmo implantado, eles foram desprezados,
desacreditados, difamados, e posteriormente perseguidos, presos e até mesmo
mortos. E ainda hoje sofrem perseguições
de alguns segmentos religiosos e preconceito social.
Nas religiões afro-brasileiras,
o adepto é considerado importante fonte e meio para o contato com o sagrado, confrontando
com as religiões monoteístas que apresentam um vínculo de dependência à vontade
de Deus e seus representantes. O conhecimento, ao ser transmitido oralmente,
permite uma maior mobilidade e uma ressignificação contínuas.
Quando se analisa
o transe, possessão e êxtase religioso nas Tradições Orais e Escritas, observa-se
o desmonte da Tradição Oral pela Tradição Escrita. Repudia-se o transe, porque
ele possibilita o contato direto com a divindade, dispensando intermediário. Esse
contato direto com o sagrado passa a ser
demonizado pelo monoteísmo, que passou a ensinar que somente se chega à
divindade por meio do exercício das leis e das práticas religiosas e morais.
Convém também
considerar que o transe só foi estudado com a chegada do Espiritismo no Brasil,
visto que foi trazido pela alta estirpe brasileira, culta e rica, representando
a cultura europeia, com entidades normalmente respeitáveis, educadas e nobres, que
destoavam sobremaneira dos modos simples das entidades dos cultos afro-brasileiros,
representados por sua vez, pelos caboclos, pretos velhos, crianças, boiadeiros,
marinheiros, baianos, e o que dizer de Exu?
Há evidências de
que este repúdio ao transe das religiões afro-brasileiras, que expressa a
religiosidade popular, é mais uma forma de exclusão, que ultrapassando a
barreira social, atinge neste momento, também a religiosa.
Transe “cheirando
a perfume francês” é mais aceitável que “cheirando a arruda e guiné”.
Referências
ALMEIDA, A. A. S. et al. O olhar dos psiquiatras brasileiros sobre os
fenômenos de transe e possessão. Rev. Psiq. Clin. 34, supl 1; 34-41,
2007.
ARMSTRONG, K. Em
Nome de Deus – O fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
ASSUNÇÃO, Luís. O
reino dos mestres – a tradição da jurema na umbanda nordestina. Rio de
Janeiro: Pallas Editora, 2006.
BERKENBROCK, Volney
José. Experiência Religiosa e Teologia. In: Revista Eletrônica Teologia da Convergência – Ênfase nas
Religiões Afro-brasileiras, São Paulo, ano II n 2 março 2011. Disponível em
<http://issuu.com/teologiadesintese/docs/4edi__o/3?e=2411914/3398534>
Acesso em 08 ago, 2013.
__________________. A Experiência dos Orixás. Petrópolis: Vozes, 1999.
BOTELHO,
João Bosco. Medicina e Religião – Conflito
de Competência. Manaus: Editora Valério Thomaz, 1991.
BOURGUIGNON, Erika. Religion,
altered states of consciousness and social change. Columbus: Ohio
University Press, 1973.
BROWN, Diana. Mito de
Origem da Umbanda -
Umbanda e Politica, Rio de Janeiro: Marco Zero, 1985.
BURKERT, Walter. A criação do
Sagrado. São
Paulo: Editora Edições 70, 1989, 264 p.
CALDAS, Mirandolino. As causas e a prophylaxia do suicídio. Archivos Brasiliros de Hygiene Mental IL (3): 158-159, 1929.
CAMARA, Fernando Portela. A função reguladora do transe – Psiquiatria Popular Brasileira –
International Journal of Psychiatry, 1995.
CASCUDO, Luís Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. São
Paulo: Edit. Itatiaia/EDUSP, 1988.
CHATELAIN,
Hely. Folk Tales of Angola. London:
The American Folk Lore Society, 1894.
CICERO,
Marcus.Tullius. De
natura deorum, libri tres. Cambridge: Univ. Press.
1880–1885, vol. 1, 352 p. Disponível em e-book: <http://www.archive.org/details/denaturadeorum01ciceuoft> acesso em 08 ago, 2013.
DALGALARONDO, Paulo. Religião, psicopatologia e Saúde mental. São Paulo: ARTMED Editora,
2008.
ECO, Umberto. Quando o outro entra em
cena nasce a ética. In: ECO, Umberto; Martini, C. M. Em que crêem os que não crêem. Rio de Janeiro: Record, 2000.
ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano: a essência das religiões. São Paulo: Martins
Fontes, 1996.
FERNANDES, Carlos Eduardo. Sociedade de Medicina e
Cirurgia do Rio de Janeiro. Jornal do Commercio, 31 de maio de 1939a.
_____. As curas? Nego‐as! Diário da Noite 3660, p. 12, 1o de jun de 1939b.
_____. A Sociedade de Medicina e Cirurgia quer cadeia para os que curam pelo espiritismo! Diário da Noite, p. 12, jun de 1939c.
_____. Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro – A Sessão do Dia 6. Jornal do Commercio, jun de 1939d.
_____. Se eu me dissesse inspirado pelo espírito de Caxias, alguém me daria poder de commando? Diário da Noite, p.12, jun de 1939e.
_____. Os médicos pedem que o governo prohiba aos médiuns de curar e que abra mais hospitaes para os pobres. Diário da Noite, n. 3671, p.12, 14 de jun de 1939f.
_____. Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. A Sessão de Hontem. Jornal do Commercio, 14 de jun de 1939g.
_____. Sociedade de Medicina e Cirurgia. Protesto contra a “Hora espirita radiophonica”. O Jornal, 14 de junho de 1939.
FERRETI, Mundicarmo Maria Rocha. De segundo a domingo, etnografia de um Mercado coberto. Mina, uma religião de origem Africana. São Luís: SIOGE, 1985.
GADAMER, Hans George. Dois mil anos sem um novo Deus. In: DERRIDA, J.; VATTIMO, G. (Orgs). A religião: seminário de Capri. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.
GONÇALVES, Sumaia; JORGE, Érica F. C. O corpo no Transe Religioso Afro-Brasileiro. Revista electronica da ABHR. Disponível no link: <http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/anais/article/viewFile/607/511> último acesso em 03 ago 2013.
GOODY, Jack. O roubo da história – Como os europeus se apropriaram das ideias e invenções do Oriente. São Paulo: Editora Contexto, 2012.
HOWAISS, Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2009.
HOCK, K. Introdução à Ciência da Religião. In: O que é Religião. São Paulo: Edições Loyola, 2010.
LAPLANTINE, Francois. Penser anthropologiquement la religion. Anthropologie et Societés , v. 27, n. 1, Paris, p. 11-33, 2003.
MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: Mauss, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosacnaify, 2003.
MOREL, Paul. Dicionário biográfico PSI. Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1997.
NIELSSON, H. O Espiritismo e a Igreja. São Paulo: Correio Fraterno, 1983.
NEGRAO, Jociane Neves. Como evoluiu a Psiquiatria frente ao fenômeno religioso transe e possessão? – Artigo apresentado no I Congresso Brasileiro de Umbanda do século XXI na Faculdade de Teologia Umbandista/SP, São Paulo, 2008. Disponível em: < http://asintese.blogspot.com.br/2013/02/como-evoluiu-o-pensamento-da.html> acesso em 08 ago, 2013.
OLIVEIRA, Xavier. Espiritismo e loucura. Contribuição ao estudo do fator religioso em Psychiatria. Rio de Janeiro: Editora Alba, 1931.
OTTO, Rudolf. O Sagrado. Petrópolis: Editora Vozes, 2007.
PECORA, Aletea Aires; MELCHIOR, Cristina Angeline. Antropologia da Religião – Entendendo a possessão espiritual e o transe baseado em estudos de casos – Entrevista Bettina E. Schmidt. Rever. São Paulo: Ed. Paulinas. Ano 11. n. 01. Jan/Jun 2011. ISSN 2236-580X
PEIXOTO, Afrânio. Violência carnal e mediunidade. Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal, 1909.
PENROSE, Roger. Shadows of the mind. New York: Oxford University Press, 1994.
PETERS, L. B.; PRICE-WILLIAMS, D. A phenomenological overview of trance. Transcultural Psichiatric Research Review, v. 20, p. 5-39,1983.
PINHO, Alvaro de Rubim. A visão psiquiátrica do misticismo. In: Conceição, A.C.; Nery, G.C.; Pinho, S.R. Rubim de Pinho: fragmentos da psiquiatria transcultural. EDUFBA, Salvador, 2002 (artigo original publicado na Revista Diálogo Médico, Rio de Janeiro 1: p.211‐224, 1975).
PRIORE, Mary Del. Religião e religiosidade no Brasil colonial. São Paulo: Editora Ática, 2004.
________________; VENANCIO, R. P. Ancestrais – Uma Introdução à História da África Atlântica. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2004.
RAMOS, Artur. Primitivo e loucura. Tese de doutorado. Faculdade de Medicina da Bahia, Salvador,1926.
_____________. As culturas negras no novo mundo: antropologia cultural e psicologia social. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937.
RIBEIRO, Leonidio; Campos, Murillo. O espiritismo no Brasil: contribuição ao seu estudo clínico e médico-legal. São Paulo: Campanha Editorial Nacional, 1931.
RIBEIRO, René. Alguns resultados do estudo de cem médiuns. In: Estudos Pernambucanos – Dedicados a Ulysses Pernambuco. Recife: Oficina Gráfica do Jornal do Comércio, 1937.
______________. Cultos afro-brasileiros do Recife: um estudo de ajustamento social. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco, número especial, p. 54-59, 1952 b.
______________. Análise sociopsicologica da possessão. Neurologia 19: p. 188-211, 1956.
______________. As estruturas de apoio e as reações do negro ao cristianismo na América Portuguesa: bases instrumentais numa revisão de valores. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco 6: p. 57-80, 1957.
RIVAS NETO, Francisco. Umbanda - A Proto-Síntese Cósmica. São Paulo: Editora Pensamento, 1989.
______________. Escolas das Religiões Afro-Brasileiras – Tradição Oral e Diversidade. São Paulo: Arché Editora, 2012.
RODRIGUES, Nina. As coletividades anormais. Organização, prefácio e notas de Artur Ramos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1939.
_________________. Os africanos no Brasil. 6ª Ed. Brasília: Universidade de Brasilia, 1982.
_________________. Animismo Fetichista dos negros baianos. Rio de Janeiro: Revista Brasileira, 1896.
_________________. Epidemie de folie religieuse au Brésil, Annales médico-psuchologiques, 1898.
_________________.Sobrevivências religiosas: religião, mitologia e culto. In. RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. São Paulo: Universidade de Brasilia/Companhia Editora Nacional, 1982/1933.
ROXO, Henrique Belfor. Delirio espirita episodico nas classes populares do Rio de Janeiro. Archivos Brasileiros de Medicina 28(2), Rio de Janeiro, p. 59‐72, 1938.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870‐1930. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
SILVA, Woodrow Wilson da Matta. Umbanda e o Poder da Mediunidade. 3 edição. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987.
SILVA, Vagner Goncalves. Candomblé e Umbanda – Caminhos da Devocão Brasileira. São Paulo: Editora Selo Negro, 2005.
WILLAIME, Jean Paul; HERVIEU-LEGER, Daniele. Sociologies et religion: approches classiques, Paris: PUF, 2001.
_____. As curas? Nego‐as! Diário da Noite 3660, p. 12, 1o de jun de 1939b.
_____. A Sociedade de Medicina e Cirurgia quer cadeia para os que curam pelo espiritismo! Diário da Noite, p. 12, jun de 1939c.
_____. Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro – A Sessão do Dia 6. Jornal do Commercio, jun de 1939d.
_____. Se eu me dissesse inspirado pelo espírito de Caxias, alguém me daria poder de commando? Diário da Noite, p.12, jun de 1939e.
_____. Os médicos pedem que o governo prohiba aos médiuns de curar e que abra mais hospitaes para os pobres. Diário da Noite, n. 3671, p.12, 14 de jun de 1939f.
_____. Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro. A Sessão de Hontem. Jornal do Commercio, 14 de jun de 1939g.
_____. Sociedade de Medicina e Cirurgia. Protesto contra a “Hora espirita radiophonica”. O Jornal, 14 de junho de 1939.
FERRETI, Mundicarmo Maria Rocha. De segundo a domingo, etnografia de um Mercado coberto. Mina, uma religião de origem Africana. São Luís: SIOGE, 1985.
GADAMER, Hans George. Dois mil anos sem um novo Deus. In: DERRIDA, J.; VATTIMO, G. (Orgs). A religião: seminário de Capri. São Paulo: Estação Liberdade, 2000.
GONÇALVES, Sumaia; JORGE, Érica F. C. O corpo no Transe Religioso Afro-Brasileiro. Revista electronica da ABHR. Disponível no link: <http://www.abhr.org.br/plura/ojs/index.php/anais/article/viewFile/607/511> último acesso em 03 ago 2013.
GOODY, Jack. O roubo da história – Como os europeus se apropriaram das ideias e invenções do Oriente. São Paulo: Editora Contexto, 2012.
HOWAISS, Dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2009.
HOCK, K. Introdução à Ciência da Religião. In: O que é Religião. São Paulo: Edições Loyola, 2010.
LAPLANTINE, Francois. Penser anthropologiquement la religion. Anthropologie et Societés , v. 27, n. 1, Paris, p. 11-33, 2003.
MAUSS, Marcel. As técnicas do corpo. In: Mauss, Marcel. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosacnaify, 2003.
MOREL, Paul. Dicionário biográfico PSI. Jorge Zahar, Rio de Janeiro, 1997.
NIELSSON, H. O Espiritismo e a Igreja. São Paulo: Correio Fraterno, 1983.
NEGRAO, Jociane Neves. Como evoluiu a Psiquiatria frente ao fenômeno religioso transe e possessão? – Artigo apresentado no I Congresso Brasileiro de Umbanda do século XXI na Faculdade de Teologia Umbandista/SP, São Paulo, 2008. Disponível em: < http://asintese.blogspot.com.br/2013/02/como-evoluiu-o-pensamento-da.html> acesso em 08 ago, 2013.
OLIVEIRA, Xavier. Espiritismo e loucura. Contribuição ao estudo do fator religioso em Psychiatria. Rio de Janeiro: Editora Alba, 1931.
OTTO, Rudolf. O Sagrado. Petrópolis: Editora Vozes, 2007.
PECORA, Aletea Aires; MELCHIOR, Cristina Angeline. Antropologia da Religião – Entendendo a possessão espiritual e o transe baseado em estudos de casos – Entrevista Bettina E. Schmidt. Rever. São Paulo: Ed. Paulinas. Ano 11. n. 01. Jan/Jun 2011. ISSN 2236-580X
PEIXOTO, Afrânio. Violência carnal e mediunidade. Archivos Brasileiros de Psychiatria, Neurologia e Medicina Legal, 1909.
PENROSE, Roger. Shadows of the mind. New York: Oxford University Press, 1994.
PETERS, L. B.; PRICE-WILLIAMS, D. A phenomenological overview of trance. Transcultural Psichiatric Research Review, v. 20, p. 5-39,1983.
PINHO, Alvaro de Rubim. A visão psiquiátrica do misticismo. In: Conceição, A.C.; Nery, G.C.; Pinho, S.R. Rubim de Pinho: fragmentos da psiquiatria transcultural. EDUFBA, Salvador, 2002 (artigo original publicado na Revista Diálogo Médico, Rio de Janeiro 1: p.211‐224, 1975).
PRIORE, Mary Del. Religião e religiosidade no Brasil colonial. São Paulo: Editora Ática, 2004.
________________; VENANCIO, R. P. Ancestrais – Uma Introdução à História da África Atlântica. Rio de Janeiro: Elsevier Editora Ltda, 2004.
RAMOS, Artur. Primitivo e loucura. Tese de doutorado. Faculdade de Medicina da Bahia, Salvador,1926.
_____________. As culturas negras no novo mundo: antropologia cultural e psicologia social. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937.
RIBEIRO, Leonidio; Campos, Murillo. O espiritismo no Brasil: contribuição ao seu estudo clínico e médico-legal. São Paulo: Campanha Editorial Nacional, 1931.
RIBEIRO, René. Alguns resultados do estudo de cem médiuns. In: Estudos Pernambucanos – Dedicados a Ulysses Pernambuco. Recife: Oficina Gráfica do Jornal do Comércio, 1937.
______________. Cultos afro-brasileiros do Recife: um estudo de ajustamento social. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco, número especial, p. 54-59, 1952 b.
______________. Análise sociopsicologica da possessão. Neurologia 19: p. 188-211, 1956.
______________. As estruturas de apoio e as reações do negro ao cristianismo na América Portuguesa: bases instrumentais numa revisão de valores. Boletim do Instituto Joaquim Nabuco 6: p. 57-80, 1957.
RIVAS NETO, Francisco. Umbanda - A Proto-Síntese Cósmica. São Paulo: Editora Pensamento, 1989.
______________. Escolas das Religiões Afro-Brasileiras – Tradição Oral e Diversidade. São Paulo: Arché Editora, 2012.
RODRIGUES, Nina. As coletividades anormais. Organização, prefácio e notas de Artur Ramos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1939.
_________________. Os africanos no Brasil. 6ª Ed. Brasília: Universidade de Brasilia, 1982.
_________________. Animismo Fetichista dos negros baianos. Rio de Janeiro: Revista Brasileira, 1896.
_________________. Epidemie de folie religieuse au Brésil, Annales médico-psuchologiques, 1898.
_________________.Sobrevivências religiosas: religião, mitologia e culto. In. RODRIGUES, Nina. Os Africanos no Brasil. São Paulo: Universidade de Brasilia/Companhia Editora Nacional, 1982/1933.
ROXO, Henrique Belfor. Delirio espirita episodico nas classes populares do Rio de Janeiro. Archivos Brasileiros de Medicina 28(2), Rio de Janeiro, p. 59‐72, 1938.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças. Cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870‐1930. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
SILVA, Woodrow Wilson da Matta. Umbanda e o Poder da Mediunidade. 3 edição. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987.
SILVA, Vagner Goncalves. Candomblé e Umbanda – Caminhos da Devocão Brasileira. São Paulo: Editora Selo Negro, 2005.
WILLAIME, Jean Paul; HERVIEU-LEGER, Daniele. Sociologies et religion: approches classiques, Paris: PUF, 2001.
[1] Graduanda em Teologia
Umbandista pela Faculdade de Teologia Umbandista (FTU). E-mail:
jn.negrao@uol.com.br
[2] Incluem uma variedade de fenômenos, tais como transe, êxtase, possessao,
e mediunidade, também podem ser incluídos os “estados de graça”, dissocição,
experiência mística, iluminação, consciência cósmica, renascimento, etc.
(DALGALARRONDO, 2008, p. 173)
[3] RIVAS NETO, F. Escolas das Religiões Afro-brasileiras. São Paulo:
Editora Arché, 2012, p. 48.
[4] O médium sempre exerceu
fundamental papel por canalizar as curas e as mensagens de entidades para a
comunidade, desempenhando o papel de terapeutas na Grécia, Roma, nos templos de
Asclépio, no Egito, Fenícia, Cartago, etc. Estes médiuns de cura logram muitas
vezes mais êxitos com os seus dogmatismos e tabus do que os psicoterapeutas
oficiais, reticentes em suas afirmações e atitudes e, particularmente, sem os
proclamados poderes espirituais. (Câmara, 2005, p. 18)
[5] Deuteronômio 18, 9-14.
[6] GOODY, Jack. O roubo da história. São Paulo: Editora Contexto, 2012, p.
32.
[7] Priore (2004, p. 52)
cita que Padre Nóbrega foi quem primeiro registrou o fenômeno da intensa
atividade religiosa dos profetas indígenas no litoral brasileiro. Foi o
primeiro a usar a palavra santidade para designá-lo, escrevendo da Bahia em 1549.
Observou o jesuíta que, com intervalo de alguns anos, feiticeiros percorriam as
aldeias dizendo trazer santidade, sendo recebidos com grandes festas e danças.
Ao anúncio da visita, os moradores limpavam os caminhos e preparavam-se para a
festa. Entre as mulheres, a aproximação do pajé produzia efeito singular: a
correr, “de duas em duas desandavam pelas casas, dizendo publicamente as faltas
que fizeram a seus maridos umas às outras, pedindo perdão delas”. Recebido com
choro ritual e danças, o recém-chegado escolhia para a celebração das
cerimônias uma maloca especial, que Nóbrega chamou de casa escura, e se
instalava na parte mais conveniente, segurando um maracá. Falando com voz de
menino, convencia os que o rodeavam de que era a cabaça que falava e começava a
pregar. Dizia que se aproximava o tempo em que os mantimentos brotariam
naturalmente da terra e as flechas iriam por si mesmas em perseguição da caça.
As velhas encarquilhadas voltariam a ser moças e belas. Os guerreiros
alcançariam vitória fácil na guerra fazendo muitos cativos. Que não tivessem
receio dos brancos: todos eles estavam prestes a transformar-se em animais de
pena e pelo, para alimento da tribo. Para adquirir o espírito da santidade, a
assistência tinha de se deixar defumar e assoprar. O pajé punha-se a fumar
tabaco (chamado também petum e erva-santa), atirando baforadas de fumo ao rosto
dos aspirantes. Devidamente assoprados e defumados, os homens começavam a suar
e tremer, enquanto as mulheres mais sensíveis rolavam por terra em convulsões.
Estas práticas estiveram presentes na Colônia ao longo de todo o século XVI e
XVII em Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo.
[8] “Há um considerável
consenso de que esses estados são amplamente generalizados nas sociedades
humanas, tanto ancestrais como contemporâneas. De modo geral, nos dias atuais
não se interpretam esses fenômenos como centralmente psicopatológicos; são
estados culturalmente constituídos e sancionados com diferentes repercussões
(psicopatógicas ou não) sobre os indivíduos. As EACs incluem uma variedade de
fenômenos, tais como transe, êxtase, possessão e mediunidade, também podendo
ser incluídos os fenômenos denominados
estados de graça, dissociação, experiência mística, iluminação, consciência
cósmica, renascimento, etc. (DALGALARRONGO, 2008, p. 173). Para maiores
informações: Bourguignon (1977) e Peters-Price-Williams ( 1983, p. 5-39).
[9] Psiquiatra renomado e
professor da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Ele criou a classe diagnóstica intitulada
Delírio Espírita Episódico. Esta nova doença foi apresentada na França em
um Congresso de Psiquiatria, mas parece não ter sido valorizada, pois não foi
utilizada pela Associação Americana de Psiquiatria na compilação do Primeiro
Manual de Diagnóstico de Saúde Mental (DSM) em 1952.
[10] Médico (Maranhão, 1896-1897)
e pesquisador que dedicou-se como cientista convicto ao estudo dos fenômenos de
possessão nos cultos afro-brasileiros em terreiros de Candomblé de Salvador/BA.
[11] Entre suas conclusões, o estado de possessão é resultado de
alteração qualitativa de consciência causada por sugestão e manifestada por
estado sonambúlico, modificações nesse estado por meio de respostas verbais e
físicas dadas às injunções sugestivas feitas por uma figura de autoridade,
assunção temporária de outras identidades, confusão mental ou sonolência, além
de grande desgaste físico e amnésia ao sair do processo. Além dessa forma
clássica do estado de santo, notou que as manifestações poderiam ser frustras
ou incompletas, mas também se prolongarem em “delírio furioso e duradouro”, o
que ele considerou “desvios, aberrações do verdadeiro estado de santo”.
[12] Fundador do Hospital do
Juquery/SP, e da primeira sociedade de psicanálise da América do Sul, primeiro
professor da cadeira de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina de São Paulo
(USP).
[13] Segundo Almeida (2008,
p. 7), as teorias de dissociação mental histérica e dos automatismos
psicológicos de Pierre Janet (1859-1947) foram as mais adotadas pelos
psiquiatras da época para explicar o mediunismo. Janet considerava que na
atividade mental normal haveria uma função de síntese que integrava as
percepções sensoriais vivenciadas e transformadas em ideias conscientes. Nos
histéricos, ocorreria uma fraqueza psíquica constitucional dessa função
integradora, de maneira que eles eram mais sensíveis a se dissociarem por meio
de sugestão ou em situações traumáticas; a teoria dos automatismos psicológicos
explicaria os comportamentos nas crises dissociativas, quando “ideias fixas
subconscientes” seriam reproduzidas (RODRIGUES, 1935, p. 78; MOREL, 1997, p.
130).
[14] O “médium receitista” era o indivíduo que inspirado por um espírito,
diagnosticava doenças e prescrevia tratamento, geralmente fitoterápicos.
[15] Rivas Neto (2012, p. 49 e 83)
[16] Artigo 156 – pune a prática de
medicina por indivíduos desprovidos de título acadêmico. Artigo 157- condena
práticas de “magia e seus sortilégios” e o uso de “talismãs e cartomancias para
despertar sentimentos de ódio e amor, inculcar cura de moléstias curáveis ou
incuráveis, enfim para fascinar e subjugar a credulidade pública”. Artigo
158- punia o exercício de curandeirismo.
[17] Rivas Neto (2012, p. 49 e 83).
[18] Brown (1985, p. 10): Segundo
Brown, não se pode afirmar com certeza absoluta que Zélio tenha fundado a
Umbanda. A data da primeira manifestação do caboclo das Sete Encruzilhadas
passou a ser aceita pela maioria dos umbandistas, como marco inicial. Ver
também: CHATELAIN, H. Folk Tales of Angola. London: The American Folk
Lore Society, 1894, p. 268. Chatelain já dava uma definição para o termo
Umbanda.
[19] psiquiatra de Recife
incentivou Gilberto Freyre a organizar o 1º Congresso Afro-Brasileiro em 1934,
em Recife.
[20] No artigo Tratamentos religiosos das doenças mentais (1975),
Pinho estudou 60 pacientes psiquiátricos. O autor coletou 11 categorias
diferentes de etiologia: 23% encosto, 15% feitiço, 12% esgotamento, 7%
mediunidade não resolvida. Quanto ao tratamento, 1/3 buscou ajuda com
tratamento médico, 2/3 inicialmente buscaram tratamentos populares,
principalmente no candomblé de caboclo 47% e “centros espíritas kardecistas”
42%. (ALMEIDA, 2007, p. 11)
[21] ALMEIDA, 2007; RAMOS,
1937; CALDAS, 1929; MOREL, 1997; RODRIGUES,1935; OLIVEIRA, 1931; RIBEIRO,1937,
1952, 1956, 1957; RIBIERO e CAMPOS, 1931.
[22] “No Brasil, realizou-se um dos estudos provavelmente mais cuidadosos
relativos à avaliação da saúde mental de pessoas classificdas como médiuns
espiritas. Alexander Moreira de Almeida (2004) entrevistou cuidadosamente um
grupo de 115 médiuns espíritas na cidade de São Paulo, aplicando a eles o
Self-Report Psychiatric Screening Questionnaire(SQR-20) e a Escala de Adequação
Social (EAS). Identificou 12 sujeitos (7,8%) com provável psicopatologia e
comparou-os com 12 sujeitos normais. O autor verificou que o grupo de 115
médiuns apresentava baixa prevalência de transtornos mentais e boa adequação
social. Os médiuns não apresentavam, também, o transtorno de identidade
dissociative. Assim, pode concluir que a mediunidade, pelo menos no context
espírita brasileiro, não se associa nem a transtornos mentais (incluindo os
transtornos dissociativos da personalidade), nem a dificuldades de adaptação
social”. (DALGALARRONDO, 2008, p. 175)
[23] “A memória oral dos povos africanos não valia tanto quanto aquela que
permitiu aos gregos conceber a Ilíada e a Odisséia”. (PRIORE, 2004, p. 1)
[24] Segundo Rivas Neto (2012, p. 48) as religiões de
tradição oral são politeístas, multirreferenciais, polissistemáticas e,
portanto, policêntricas. Politeístas porque não utilizam uma única divindade,
mas um panteão, cada um com sua importância, daí a multirreferencialidade. São
polissistemáticas porque não há uma única forma de realizar um rito, mesmo que
ele seja destinado à mesma divindade. E policêntrico porque não há um único
modelo a ser seguido, exemplo disso são as religiões afro-brasileiras, com suas
inúmeras escolas[24] (Culto da
Jurema, Candomblé de Caboclo, Toré, Xambá, Babassuê, Xangô, Tambor de Mina,
Umbanda, Candomblé, Catimbó, Batuque, Omolocô, Umbanda, etc.).
[25] GOODY, 2012, p. 24-25.
[26] “O tempo nas culturas orais era contado de acordo com fenômenos naturais:
a progressão diária do sol, sua posição na esfera especial, as fases da lua, o
transcorrer das quatro estações.” (GOODY, 2012, p. 24)
[27] O termo superstitio tem origem
no latim, e significava prática incorreta de um rito, antítese portanto, do
termo religio. A superstição não
estava ligada à crença, mas à prática. Durante a Reforma, religio foi ligada à fé crista comum e à confissão, e o termo superstitio foi alterado para magia,
prática malefica e ignorante. (HOCK, 2010)
[28] Mircea Eliade fala do Homo
religious, para quem tudo é dotado de significado religioso, o Cosmos vive
e fala. Este homem busca a transcendência na imanência, experimentando o
Sagrado. (ELIADE, 1996, p. 17). Humberto Eco fala da religiosidade laica como a
crença em formas de religiosidade, e logo, sentido do sagrado, do limite, da
interrogação e da espera, da comunhão com algo que nos supera, mesmo na
ausência da fé em uma divindade pessoal e providente (ECO in DALGALARRONDO,
2008, p. 17). Max Weber fala do ouvido
religioso que, assim como o ouvido musical, tem uma sensibilidade especial
para perceber de forma discriminada e intuir de forma aprofundada. (WILLAIME;
HERVIEU-LERGER in DALGALARRONDO, 2008, p. 17) Segundo Dalgalarrondo, a
experiência religiosa remontaria a dois aspectos, um racional, ligado ao
pensamento filosófico, que possibilitaria a formação ideológica e teológica,
como comumente conhecemos nos púlpitos tradicionais. E um irracional, que remontaria a um aspecto
irredutível e intraduzível, de natureza misteriosa e individual. Foi a este aspecto que Rudolf Otto (2007)
classificou como terrível e fascinante, que geraria e sustentaria a religião.
[29] Estaria aqui o conceito de nível consciencial?
[30] Coordenador de pós-graduação em Ciência da Religião da Universidade
Federal de Juiz de Fora/MG.
[31] “nem todos os seres humanos são veículos de espíritos” (RIVAS NETO,
1994, p. 109)
[32] Consultar também: FERRETI, 1985; CASCUDO, 1988; ASSUNÇÃO, 2010)
[33] Mauss (2003, p. 422)
diz “[...] Penso que há necessariamente meios biológicos de entrar em
comunicação com Deus.”
[34] Mauss (2203, p. 404) afirma que o “indivíduo assimila a série dos movimentos
de que é composto o ato executado diante dele ou com ele pelos outros.” O habitus é de natureza social.
Anais do Simpósio Internacional da ABRH: http://www.abhr.org.br/?page_id=1568
Nenhum comentário:
Postar um comentário