Caminho pelos caminhos diversos das Religiões Afro-brasileiras
apresentados por meu Baba Pai Rivas e alegremente, filiei-me na TUO/OICD há 8
anos.
Ao longo desses anos, antigos compromissos e novos ares. Vi
descortinarem-se diante de mim minhas mazelas, fraquezas, limites,
inseguranças, medos. Como se cada véu caído mostrasse o quanto eu ainda tinha
por aprender, apreender e compreender. Um a um, os anos me trouxeram grande
aprendizado e renovação.
Disseram-me que o caminho da iniciação é pedregoso, e
de fato foram muitas as pedras que machucaram meus pés, mas muitas bênçãos
oriundas dos Orixás e dos Ancestrais Ilustres que nos acobertam sempre vieram
amenizar e suavizar as dores do renascimento. Plena certeza de que o caminho
foi sabiamente escolhido, e que o amparo sempre esteve presente, tornando mais
leve e mais suportável todas as etapas da transformação.
Nesta última semana vivi um dos momentos mais impressionantes e
memoráveis da minha vida religiosa. E precisei de alguns dias para melhor
compreender o alcance daqueles breves momentos. Pai Rivas, meu Baba, o
tabuleiro de Ifá, e o meu destino nas mãos de Orunmilá. Hora fatídica,
definitivamente determinante em minha vida, a partir daquele momento. Como um
ponto, estabelecendo ordem ao caos.
Por dias, desde que o rito foi marcado, alimentei em mim uma
ansiedade injustificável. Comecei a me perguntar qual seria o enredo que
nortearia meu destino? E eu, que já reconhecia no Orixá Obá minha mãe e energia
primordial, comecei a me perguntar como seria se Orunmilá Ifá mostrasse que não
mais era minha mãe querida a dona de minha cabeça? Tantas informações, tantas dúvidas.
Ao entrar naquele Congá, que carreava décadas de história,
legítimo representante da Raiz de Guiné, uma grande interrogação me acompanhou.
Nunca mais eu seria a mesma. A partir
daquele instante, minha vida mudaria definitivamente. O que fui, o que fiz,
tudo, absolutamente tudo, ficaria atrás daquela porta.
As areias daquele chão sagrado estavam diferentes, elas
simbolizavam o espaço entre o Orun e o Ayê. Meus pés tocavam meu inconsciente,
e cada passo dado em direção ao meu Baba remexia dentro de mim minhas gavetas
fechadas, minhas memórias ancestrais. Descortinando, desvelando, revelando. Nem
o tempo, nem as memórias apagadas pela reencarnação impediriam o relembrar de
um momento, o primordial, aquele momento onde meu Ori foi feito utilizando a
matéria doada pelo Orixá que passaria a guiar e ditar meu destino. E mais, os
dois outros Orixás que contribuíram para completar meu Ori. ENI-ORIXÁ,
EDJI-ORIXÁ
e ETA-ORIXÁ. O que tudo isso significaria para mim a
partir de então?
Senti-me
como uma criança que chega à escola no primeiro dia. Medo, insegurança, mas ao
mesmo tempo, curiosidade, interesse pelo novo velho caminho.
Ao
olhar meu Baba, e sentir nele a Sabedoria dos Babalawos, apaziguei-me.
No
chão de areia, o tabuleiro de Ifá coberto com um pano branco velava o destino.
E na medida em que os ikins caíam, via lá o enredo da minha história. Exu,
Yabás minhas mães ancestrais, e o velho sábio Pai de todos.
Compreendi
de imediato que muito ainda tenho por aprender. A maioria das informações que
recebi ainda habitam minha mente, sem compreensão. Mas, de pronto,
identifiquei-me. IDENTIDADE. Assim como o RG. Cada fato, meu mediunismo, as
entidades que são carreadas com ele, meus amigos. Tudo relacionado e conectado.
Dúvidas???
Ah, muitas além daquelas que eu já tinha. Mas, ao menos já sei em que estrada
estou caminhando.
Axé
Baba mi. Que eu me torne digna deste caminho e saiba honrá-lo dia após dia.
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