Neste últimos meses fiz mudanças fundamentais em
minha vida. Mudei de cidade, de empregos, de casa. Mudei.
Todo esse processo levou meses, e ainda demandará
muitos outros meses para se instalar definitivamente.
Sair da zona de conforto, arduamente conquistada, e
arduamente defendida, foi um esforço colossal. E no lugar da pseudo segurança
anterior, ficou apenas a impressão de andar em terreno frágil, denotando a
insegurança do ambiente ainda desconhecido.
Todo esse processo tem gerado profundas reflexões, e
hoje me surpreendi ao constatar que esse processo se iniciou há muitos anos.
Ele se iniciou quando me propus tomar as rédeas de minha vida, assumir minhas
escolhas, e caminhos. No momento em que
constatei que onde estava, não estava bom. E isso ocorreu há muitos anos atrás.
Nascida católica, de família do interior de Minas,
não é difícil explicar como fui educada. Família patriarcal, mãe submissa e
calada, irmão varão. E embora eu me lembre da Congada, da Festa de Santos Reis,
da Festa de São Benedito, de um quadro de Yemanjá na parede de minha avó (filha
de uma rezadeira, benzedeira e parteira), os constantes benzimentos e rezações,
esses assuntos sempre foram evitados. Assisti sim à missa dominical, ao terço,
às procissões e novenas. A Igreja ensinava a opressão e a diferença entre as
raças, classes, culturas e sexo. Cedo demais percebi que aquele mundo religioso
não era exatamente o que me agradava. E menina ainda, comecei a ler Chico
Xavier. Senti imenso alento em meu coração e suas obras apaziguaram minha
adolescência e me deram a paciência necessária. Compreender que existia algo
mais que a cruz e a dor, foi um marco em minha adolescência. Mas ainda não
conseguia abandonar a Igreja e assim mantive as duas religiões, transitando sem
grandes dramas conscienciais entre elas.
Quando me mudei para São Paulo, após o fim da minha
faculdade, com a finalidade de continuar minha formação médica, a cisão com a
Igreja ocorreu. A cisão com tudo que ela representava, o modelo patriarcal e a
submissão se foram. E o Espiritismo
permaneceu ainda por mais alguns anos, e foi na Federação Espírita de São Paulo
que compreendi não pertencer àquele mundo.
Aos poucos fui entendendo que ela ainda mantinha resquícios católicos,
identificados por mim no preconceito com as religiões afro-brasileiras, na
certeza de superioridade frente às demais religiões, na vaidade e na arrogância
disfarçadas nas palavras que estimulavam a humildade e renovação.
E por que estava na hora, ou por receber a
misericórdia divina em minha vida mais uma vez, um dia uma amiga me falou da
Umbanda, e me emprestou a Proto-Síntese Cósmica. E mesmo temerosa, embuída
ainda do preconceito religioso que eu trazia do Catolicismo e do Espiritismo,
li avidamente este livro. Entendi patavinas, mas algo foi mexido e remexido dentro
de mim. A ponto de na mesma semana procurar o rito da Rua Cheb Massud. Que
encontro fabuloso comigo mesma! Os
atabaques, os pontos, os cheiros, as cores, as entidades, o Baba! Ah, minha
casa. Enfim, pela primeira vez senti que estava no lugar certo, na hora certa!
Minha vida nunca mais seria a mesma.
Dia após dia, frequentei a OICD, li os
livros do meu Baba, li os livros de Pai Matta, e fui me inserindo neste novo
contexto religioso. Meus preconceitos foram sendo remodelados, rejeitados e
enfim, abandonados. E fui substituindo o que trazia pelo novo. Esvaziei o
cálice que trazia, e o enchi novamente com o conteúdo da Umbanda Esotérica.
Mas, devo admitir que, em alguns momentos me senti
incomodada. Os conteúdos que naquele momento eu ingeria nos livros e autores
novos, traziam embutidos ainda alguns conceitos presentes no Catolicismo e no
Espiritismo que eu abandonara. Preconceito racial, patriarcado, submissão da
mulher dando a ela funções secundárias, rejeição ao homossexualismo.
Como
compreender afirmações como a que diz que a mulher é menos confiável, dada à
futilidades, responsabilizando-a por todo o cenário deplorável religioso? Como
compreender afirmações como a que diz que os negros eram uma raça ainda em
evolução, e que precisavam de mais elaboração e que seu passado religioso era
apenas fetiche e necessitava ser rejeitado para dar origem a uma nova forma de
exercer sua fé? Que a Umbanda seria algo melhorado, superior?
Em diversos momentos, identifiquei os mesmos ranços do
Catolicismo e do Espiritismo, mas mesmo assim continuei, lendo, vendo e ouvindo,
confiante de que aquele astral poderoso iria clarear melhor minhas ideias,
permitindo que eu compreendesse melhor aquelas palavras. Achei que eu não
conseguia atingir o alcance daquelas palavras.
Os anos se passaram. Vi os ritos sendo realizados
todos ao mesmo tempo, cada um em dia diferente. O Candomblé de Caboclo/Omolocô,
a Umbanda Traçada, a Quimbanda, o Tríplice Caminho, e a Umbanda Esotérica.
Para minha alegria, fui convidada de novo a esvaziar meu cálice, e a enchê-lo novamente, com novos conceitos, e a dar novos rumos à minha espiritualidade. E que alegria!
Para minha alegria, fui convidada de novo a esvaziar meu cálice, e a enchê-lo novamente, com novos conceitos, e a dar novos rumos à minha espiritualidade. E que alegria!
Foi com alegria que eu vi e participei de um processo intenso de transformação,
onde paulatinamente a Umbanda Esotérica e seus conceitos foram sendo
modificados e abandonados, até darem lugar a conceitos mais abrangentes, menos
excludentes. Fui me aproximando paulatinamente das religiões afro-brasileiras,
sem traumas, sem dramas. E foi com alegria que percebi que a mulher foi
recolocada em posição de igualdade com o homem, que as vi receberem a iniciação na TUO.
Foi com alegria que vi os homossexuais receberem o respeito que sempre
mereceram, e mais, vi rolarem escada abaixo conceitos de superioridade do
branco sobre o negro. Sua cultura, seu povo, sua ancestralidade passou a ser
estudada com afinco, e a pautar a partir dali, toda a nossa religiosidade.
Lembrei-me do dia em que meu irmão soube que eu era
espírita, e me perguntou se eu ia no Candomblé. Lembrei-me de seu semblante
aliviado ao ouvir que eu ia no Espiritismo, “menos mal” disse ele. Nesse momento, consegui compreender
o quanto havia caminhado. E hoje, quando amarro meu ojá na cabeça, quando visto
minha saia, quando coloco minhas guias, percebo que, além de toda a
ancestralidade que isso carreia, eu me desnudo de meus preconceitos e de minha educação
abrâmica.
Hoje, a Congada, as Festas de Reis e de São Benedito, os benzimentos e rezações de minha bisavó Mãe Chica, e o quadro de Yemanjá na parede de minha avó beata, fazem sentido em minha vida. Entendi o que significa ressignificação.
Esse sim foi o caminho percorrido.
PS: Hoje, sei que honro minha bisavó, como herdeira de seu corolário. Sua herança ancestral me abençoa e me impulsiona nesse caminho, há muito abandonado por minha família. E devo tudo isso a meu Babá, sem ele eu jamais teria reencontrado as pontas interrompidas do meu destino. Axé Baba mi!
Links importantes:
Falácias sobre o TUO e Pai Rivas de Ogiyan:
https://www.facebook.com/ftusp/posts/1666973850202515?fref=nf&pnref=story
https://www.facebook.com/rodrigo.garcia.3954/posts/782468095200222
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PS: Hoje, sei que honro minha bisavó, como herdeira de seu corolário. Sua herança ancestral me abençoa e me impulsiona nesse caminho, há muito abandonado por minha família. E devo tudo isso a meu Babá, sem ele eu jamais teria reencontrado as pontas interrompidas do meu destino. Axé Baba mi!
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