sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

O Tempo - Carlos Drumond de Andrade

O Tempo 
(Carlos Drummond de Andrade)

"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, 
a que se deu o nome de ano,
foi um individuo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.
Para você, desejo o sonho realizado,
o amor esperado,
a esperança renovada.
Para você, desejo todas as cores desta vida,
todas as alegrias que puder sorrir,
todas as músicas que puder emocionar.
Para você, neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família seja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas...
Mas nada seria suficiente...
Então desejo apenas que você tenha muitos desejos,
desejos grandes.
E que eles possam mover você a cada minuto
ao rumo da sua felicidade."
Feliz 2016

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Presença sim! Presentes não!


Estou preparada para dormir, não tão cedo como dormem os idosos. Tenho 90 anos e 7 meses, mas minha filha joga fora os 90. Ela é de Iyemanjá. Como sua essência é de mãe, ela me cobre. Agora sou um bebê de 7 meses. Para que o pacote fique completo, minha filha/mãe começa a contar uma "estorinha":
"Era uma vez uma senhora encantada e encantadora que se tornou conhecida como 'A Grande Mãe'. Em seu colo, as crianças se aconchegavam e os adultos buscavam conforto para as dores do dia a dia. De sua boca saíam conselhos que ajudavam a secar as lágrimas de homens e mulheres aflitos. Se seus conselhos não bastavam, ela dançava e com suas mãos indicava os caminhos a serem seguidos.
"As desesperadas pessoas que buscavam 'A Grande Mãe' saíam de seu lar com a esperança renovada. Sua casa era uma extensão dela própria. E, por isso, todos queriam agradá-la e a presenteavam com flores para que sua casa ficasse ainda mais aconchegante. Isso agradava a generosa senhora, mas não era capaz de impedir que quando estivesse sozinha chorasse as dores do mundo.
"De seus olhos saíam tantas lágrimas, tanta água salgada, que sua adorável casa se transformou no mar. Iyemanjá era seu nome, que significa 'mãe que é respeitada e agradada com entusiasmo'. Todos são filhos de Iyemanjá, e todos ansiavam por agradá-la com flores, perfumes, maquiagem, joias. Iyemanjá adorava receber presentes, mas sorria da ingenuidade de seus protegidos:
"- Como ela poderia ter tempo de ser vaidosa, quando precisava dedicar-se a esfriar as várias cabeças quentes que deitavam em seu colo?...
"As pessoas não sabiam, mas quem gostava daqueles lindos e ricos presentes era a jovem e vaidosa filha de Iyemanjá: Oxum. Quanto mais Iyemanjá ajudava as pessoas, mais presentes eram depositados em sua casa. Seu lar foi ficando sujo. Iyemanjá pediu, então, que as pessoas não lhe dessem presentes de plásticos nem de metal, pois estes, com o tempo, transformavam-se em lixos difíceis de serem degradados. Os mais obedientes passaram a oferendar apenas o líquido dos perfumes e flores, mas os produtos químicos dos quais eram feitos os perfumes poluíam as águas e as pétalas das flores adoeciam os peixes.
"A população tinha crescido muito e no mar não cabiam mais tantos presentes. Iyemanjá retirou-se para meditar e encontrar a forma ideal de permitir que as pessoas continuassem a praticar seus ritos de agradecimento, sem que ela, sua casa (o mar) e seus filhotes peixes sofressem.
"Muito tempo já tinha se passado até que uma bela e harmoniosa melodia pôde ser ouvida pelo povo da Bahia. Iyemanjá cantava: 'Reúnam-se, cantem e me encantem; este é o presente que quero e posso receber a partir de agora. Não quero mais presentes, quero presença'."
Acordei na manhã seguinte. Já não sabia se tinha ouvido a estória ou sonhado com ela. Era uma vez; há sempre uma vez; há sempre a primeira vez; há de ter sempre pessoas que encarem a primeira vez. "O candomblé é uma religião ecológica" - dizem. Então vivamos o que pregamos!
Encaro o desafio e digo que a partir de 2016 o "Presente de Iyemanjá" do Ilê Axé Opô Afonjá não mais poluirá o mar com presentes. Meus filhos serão orientados a oferendar Iyemanjá com harmoniosos cânticos.
Quem for consciente e corajoso entenderá que os ritos podem e devem ser adaptados às transformações do planeta e da sociedade. Os ritos se fundamentam nos mitos e nestes estão guardados ensinamentos valorosos. O rito pode ser modificado, a essência dos mitos, jamais!
Sei que Iyemanjá ficará feliz, afinal qual é a mulher, principalmente sendo mãe, que não gosta de ouvir belas melodias que confortam e dão alento a um coração permanentemente preocupado com os filhos?


http://atarde.uol.com.br/opiniao/noticias/1734286-presenca-sim-presente-nao

O tempo e as Jabuticabas

Rubem Alves

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir
estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse
amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'

O essencial faz a vida valer a pena...
e para mim basta o essencial".

domingo, 29 de novembro de 2015

Intolerâncias da Fé - Documentário





"Vida sem Ética dá mais Trabalho":



Cortella fala sobre a Intolerância:

http://cbn.globoradio.globo.com/default.htm?url=/comentaristas/mario-sergio-cortella/2015/12/01/INTOLERANCIA-E-A-INCAPACIDADE-DE-CONVIVER-COM-O-DIFERENTE.htm

sábado, 28 de novembro de 2015

Intolerância religiosa: ineficiência da Lei x Politicagem



     Nós das religiões Afro-brasileiras (RAB), vivemos atualmente momentos de grande tensão e preocupação. 
Já há alguns anos temos assistido o crescimento de uma corrente religiosa que estimula a intolerância e a perseguição aos nossos adeptos.  
Vimos, com profunda preocupação o surgimento de grupos paramilitares, com o intuito de disseminar mais perseguição e mais violência entre os religiosos.  
E, como esperávamos, a onda de violência foi crescendo, e nós fomos absorvendo, suportando, tolerando. 
Nos últimos anos, nossas lideranças começaram a reagir. A Lei (*) parecia nos proteger, mas ela tem se mostrado insuficiente para reprimir esta onda de perseguição aos nossos Templos e religiosos. O noticiário tem mostrado quase que diariamente, atos de agressão aos nossos fiéis, aos nossos Terreiros/Roças/Templos, e à nossa Fé. Sem motivos, desmedidamente, agridem, destroem e matam. 
Desta vez, foi nossa querida Mãe Baiana, que teve seu terreiro de Candomblé Axé Oyá Bagan incendiado em Brasília, uma das mais tradicionais casas de Candomblé de Brasília.

Segundo a Unegro:

  • "Uma das mais tradicionais casas de candomblé de Brasília, o terreiro de Mãe Baiana já havia sofrido atos de violência anteriormente, se somando a dezenas de agressões a tiros, fogo e intimidações, que outros terreiros de candomblé e de umbanda sofrem no Distrito Federal e entorno." http://pcdobdf.blog.br/2015/11/27/unegro-repudia-violencia-e-se-solidariza-com-as-religioes-de-matriz-africana
Incêndio Terreiro Mãe Baiana - Brasília/DF
     O Ilê Axé Oyá Bagan está recebendo neste momento a visita do Governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg, acompanhado do Secretário de Estado de Cultura do Distrito Federal Guilherme Reis e de seu staff da Secretaria de Segurança Pública. 
     Mas, sempre que político vem tirar foto, parece que apenas se aproveita da desgraça alheia para conseguir algum apoio ou benefício. Será diferente desta vez?


" Visitei o Templo Axé Oyá Bagan (Casa da Mãe Baiana), de religião de matriz africana, no Paranoá. Reiterei minha solidariedade e a do governo em relação ao incêndio ocorrido na madrugada de ontem.
Diante deste triste episódio, determinei ao diretor-geral da Polícia Civil, Eric Seba, que crie uma delegacia especializada em crimes de racismo e intolerância religiosa. As investigações sobre as causas do incêndio e a identificação dos responsáveis serão tratadas como prioridade pelo nosso governo. A previsão é de que o laudo da perícia saia em até 30 dias.
Não podemos admitir que, na capital da República, tenhamos demonstrações dessa natureza. Vamos trabalhar sempre para garantir direito legal à diversidade cultural e religiosa e combater toda a forma de intolerância e discriminação.Gov." (Gov. Rodrigo Rollember)
     Vivemos no Brasil, conhecido internacionalmente por sua miscigenação e sua religiosidade rica e diversa. Temos nossos problemas, e muita luta ainda por acontecer. A maior delas agora é parar essa onda de violência que nos atinge. Todos olham os telejornais e se apiedam com o sofrimento da Europa, do Oriente Médio, e da África. Mas, poucos se preocupam em mostram como sofremos e como esta onda de intolerância tem varrido nossos cotidianos, ameaçando nosso povo e nossas manifestações culturais e religiosas. O extremismo religioso no Brasil não é diferente daquele que ocorre no Oriente Médio.  
  Até quando fingiremos que vivemos em uma democracia de Lei e de Direito? Até quando preferiremos o lado Poliana da vida, fingindo que tudo é um paraíso e que nunca, nada de ruim irá nos atingir? Hoje, somos nós. Amanhã, poderá ser o catolicismo, ou qualquer outra vertente religiosa que decidam agredir.
    Distraídos? Omissos? Eu diria que somos inconsequentes. 
   Só temos uma solução, defender a aplicabilidade da Lei para todos, afim de garantir que nunca, nenhum de nós, sejamos agredidos por extremistas religiosos.      

(*) 
Artigo V, Inciso VI da Constituição Federal de 1988:
É inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e suas liturgias.
Código Penal, em seu artigo 208, estabelece como conduta criminosa, “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”.

Para maiores informações:

http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2015/11/27/interna_cidadesdf,508394/incendio-e-o-quinto-envolvendo-religioes-africanas-desde-agosto.shtml


http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/11/terreiro-de-candomble-e-incendiado-no-df/

https://www.facebook.com/pcdobdf/photos/a.1409909235905077.1073741828.1409608442601823/1731605883735409/?type=3&theater

https://www.facebook.com/ErikaKokay/photos/a.279647418726486.72035.257453204279241/1066487370042483/?type=3&theater


https://www.facebook.com/direitoshumanosbrasil/photos/a.166798690068176.42983.165500080198037/942676549147049/?type=3&theater


FTU no Simpósio da ABHR na PUC/SP

Mais uma vez nossos irmãos Yabauara (João T'Osósi) e Yacyrê (Erica T'Nanã) nos honraram ao participar da Mesa de "Intolerância Religiosa em pauta e em Ação" no Simpósio da Associação Nacional de História das Religiões (ABHR) na PUC-SP. 
Ambos são escritores conhecidos e renomados, doutorado e doutoranda. E são árduos combatentes das RAB na atualidade. Sinto-me honrada de tê-los como irmãos no Egbé. 
Como disse nosso Babá Rivas Ty Ogyon: "Realizacão maiúscula para as RAB e principalmente no combate sem tréguas contra o preconceito ao negro e aos pobre que compreende mais de 90% da população brasileira. Parabéns aos dois awon iyawo que dignificam nosso ile asé e principalmente a cosmovisão do Candomblé. Awon gbogbo oosa bo ri o. Motumbasé"
A mesa também foi composta por nossa Egbomy Yamaracyê (Be T'Ogodô), que teve parte de sua tese lida durante o encontro.
Estiveram presentes nossos irmãos Aratiara e Luciano, prestigiando o evento e apoiando nossos autores.  






Jociane T'Obá - Obaositalá

domingo, 8 de novembro de 2015

Queda de Kelê de 5 Yawos do Ile Fun fun



Ontem foi um dia de festa para nosso Egbé.
Mais cinco Yawos de nossa comunidade retiraram seus Kelês. Mais uma vitória para nossas irmãs Aracyauara (Sumaia dofona de Oyá), Yaranaya (famotinha de Ogun), Yacyrê (Érica dofonitinha de Nanã),  Yaranacy (Fernanda famotidinha de Omulu), Mariah (gamotinha de Oxalufã). A todas elas, parabéns!!! Vida longa, muito axé, e que venha a festa de 1 ano!
Estou ansiosa para ver a vitória de todas elas.
A vitória delas, é a vitória de todo o Egbé. A perpetuação de nossas tradições e manutenção de nossa Ancestralidade.
Vida longa a Baba Rivas TÓgyion!
Ibasé Baba mi

Obaositalá


Orixás renascendo.

Dia31/10/15, mais uma vez, tive o privilégio de testemunhar e receber o axé de mais 5 Orixás que nasceram no nosso Ile, Yemanjá, Ogun, Oxumarê, Oxossi Arolé, Odé. 
Aos meus irmãos de Santé Ararité, Felipe, Aracyara, Yabauara e Fernanda, meus parabéns! Que seus renascimentos possam trazer alegria, equilíbrio e serenidade aos seus Oris, e que os Orixás maravilhosamente manifestados ontem, possam cobri-los de bençãos e vitórias. 
Axé, e minha eterna gratidão ao meu Baba Pai Rivas Ty Ogyion por me permitir vivenciar esses momentos inesquecíveis!

Obaositalá


Há muitos anos atrás tive um sonho onde estava em uma grande cidade e via pessoas negras e que passavam por mim em grupos, vestiam roupas coloridas e caminhavam de forma interessante pois se moviam com um mesmo ritmo e podia perceber que estavam felizes. Não podendo conter a curiosidade perguntei a uma pessoa que estava ao meu lado quem eram aquelas pessoas? E ouvi claro, alto e em bom som: esses são o povo de Gyan ben Gyan, os Universais (ou Vencedores).

Acordei com uma profunda alegria e guardei em minha a'alma aquela cena...

Hoje ao acordar pela manhã, relembrando o rito de renascimento de cinco irmãos que passaram a ser yawos no Egbe de nosso Babá - Pai Rivas na noite anterior, fui remetido à aquele sonho pois reconhecia no rito a mesma alegria que vi e senti ao ver os Deuses dançando com toda a coletividade.
A cada momento do rito novas surpresas nos reservavam, momentos que os mitos falavam forte em nosso interior e nos levavam a introspecção. 
Ogum vinha a frente com nosso irmão Sergio - Ararité com sua dança guerreira, Oxumaré em nosso irmão Felipe dançando sinuosamente trazia a Terra os auspícios do Céu, Yemanjá com a nobreza da grande mãe, dançava com sua filha Fernanda em perfeito transe, Oxossi dançava caçando com seu filho João - Yabauara, trazendo ao Egbe, prosperidade e fartura. E fechando, vinha Odé com sua filha Wanda - Aracyara percorrendo as pegadas dos que o antecederam como se seguisse a caça para provento de seus filhos.
É meus amigos e irmãos, a noite foi memorável!
Mas para não acabar aqui, uma profunda alegria me aguardava, e foi quando nosso Babá foi dançar com os Deuses. Sua feição era de total alegria e podíamos ver o divino estampado em seu sorriso, como se naquele momento não houvessem mais separações entre o Orun e o Aiye...
Só podemos desejar aos novos yawos onan rere ou seja, caminhos felizes aos renascidos pelas mãos de nosso Babá. 
Motumbase ao Egbe!
Motumbase Baba mi!
Ygbere - Olavo Solera

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