quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Novas Fases, destinos felizes

Novas fases, destinos felizes...



Ao acordar nessa manhã, procurei pensar nas coisas que tinha a fazer e enumerá-las para focar os objetivos que tracei. Muitas destas atividades estão veiculadas ao dia a dia, sustento financeiro, filhos, casa e etc, mas como a vida não se prende a só isso, repensei o espiritual e revi em minha mente alguns vídeos e textos que nosso Babá – Pai Rivas tem postado em seu blog nas redes sociais.

Apesar de estar presente aos seus ritos, e coadunar com tudo que é feito, chamou-me especial atenção onde ele fala sobre a Umbanda Esotérica de W.W.da Matta e Silva e suas obras, e que ele estaria retificando erros e valores e ratificando outros como o uso dos métodos do Ifá. Lembro que nosso Babá é o sucessor legítimo de Matta e Silva desde 1987, tendo ordens e direitos para fazer estes ajustes e que atendem aos novos momentos da Umbanda Esotérica.
Mas muitos poderiam agora se perguntar: o que chamou a atenção do Ygbere?
E respondo: depois de conviver há trinta e sete anos com nosso Babá e ter tido a oportunidade de estar com o mestre Yapacani (Matta e Silva) em sua casa/terreiro em Itacuruçá e em ritos que o mesmo realizou na OICD/SP, ter lido todas suas obras e até feito minha dissertação de mestrado sobre a magia na Umbanda Esotérica de Matta e Silva, percebi que aquilo que tinha lido, estudado e até escrito, não condizia com as novas fases da mesma.
Mas como assim, poderiam perguntar os amigos? Então procurarei ser mais claro:
Em um dos vídeos postados por nosso Babá, ele cita o livro Segredo da Magia de Umbanda p. 14 que fala o seguinte:


[...] Porque, a Corrente Astral de Umbanda, nessa 1ª Fase de Ação no Brasil e por dentro dessa coletividade chamada dos cultos afro-brasileiros, teve um objetivo e se apresentou assim: com “caboclos, pretos-velhos etc”; porém, na 2ª Fase de Ação, a se iniciar dentro de poucos anos, essa Corrente vai revelar novos aspectos...novos horizontes. É só, senhores “magistas, esoteristas, ocultistas etc.” (Matta e Silva, p.14)


Depois de ler isso, continuei a leitura do livro todo, e para minha surpresa comecei a ver e entender coisas que nunca tinham passado em minha cabeça, lembrando que este livro vi e revi várias vezes. Pude ver com total clareza que o mesmo tem abordagens extremamente diferentes que a obra do homem/iniciado/sacerdote Matta e Silva e que foram citadas pelo nosso Babá - Pai Rivas exaustivamente. 
Percebi uma dicotomia entre o que eu tinha plena convicção e o que lá estava. No primeiro instante, atirei o livro ao chão, tamanha aversão que senti pelos temas falados e em especial quando falava do negro. Assuntos totalmente ultrapassados e que só existiram na metade do século passado com a insistência do embranquecimento da população brasileira, como se a cor da epiderme pudesse tornar alguém melhor ou pior. 
Na sequência dos textos, pude constatar aspectos de misoginia, homofobia, xenofobia, evolucionismo cultural, evolucionismo social, elitismo, conservadorismo, etnocentrismo, temas que nosso mestre ou Babá chamou de vergonhosos e que deveriam ser alterados e transformados em suas partes visíveis e invisíveis.
Mas, os amigos poderiam continuar a perguntar: mas, o Babá já falou sobre isso há tempos e só agora você está falando isso?
Sim, concordo. A leitura do livro novamente fez com que eu me visse, tal qual em um espelho, e ao me ver, percebi que estive enganado quando não me achava preconceituoso, fazendo parte de uma elite de pensadores do Santo.... Tola ilusão.
Só agora vislumbro o que o Babá já viu há muito tempo, e que vem falando, ensinando, corrigindo e vivenciando, bastando ver suas realizações.
A nova fase está aí, basta ver o TUO, com seu Templo devidamente adequado para o estudo e aplicação do destino dos seres, por intermédio de Orunmilá Ifá. O mesmo Ifá que Matta e Silva falou no livro Macumbas e Candomblés na Umbanda em 1969, e que a maioria não entendeu que o mesmo não tinha solução de continuidade em relação a diversidade das religiões afro brasileiras, pelo contrário, afinal tudo é um grande encadeamento de saberes e viveres obedecendo um grande continum.
Neste “novo” momento, existe o respeito à todas as formas de entender e compreender o sagrado, não há uma verdade única ou uma totalidade, há sim múltiplas formas de acesso ao real, tais como a memória, a vivência, o afeto, a percepção, a oralidade, a ética, a episteme, os métodos e tudo centrados na ancestralidade sobrenatural (Orixás e entidades que possibilitam o transe do imanente para o transcendente dos seus adeptos).
E foi com esta profusão de pensamentos que me vi sem pré-conceitos, sem máscaras, ou seja, desnudo de tolas vaidades, pois naquele momento percebi o “outro” que muitas vezes estava em meu falar, mas não no meu coração. Confesso que senti em meu corpo uma intensa aflição e busquei naquele momento até o auxílio de maracujinas, valerianas e etc., pois saía de uma zona de conforto de muitos anos.
Hoje depois destes momentos e ao ver comentários de muitos nas redes sociais, contrários às mudanças daquilo que conheceram apenas no que ouviram falar do mestre Matta e Silva, peço que releiam suas obras, mas não se detenham apenas no momento cronológico que as mesmas foram escritas e sim naquilo que ele sabia e escreveu que viria em um futuro breve e por isso fez um sucessor legítimo para essas transformações. 


Aranauam,
Saravá,
Motumbasé,
Saudações a todos.
Ygbere



http://abaara.blogspot.com.br/2015/10/novas-fases-destinos-felizes.html?m=1

domingo, 18 de outubro de 2015

Manifesto dos Iniciados e Filhos de Santo de Baba Rivas Ty Ogyion


Todos nós, integrantes da comunidade de Babá Rivas Ty Ogyion (Pai Rivas) assistimos, perplexos, às tentativas de difamação e calúnia de nosso sacerdote e irmãos de santo por redes sociais variadas tais como emails e facebook. Diante do exposto viemos à público afirmar nossa posição contrária ao que vem ocorrendo. Acreditamos que situações como essas enfraquecem e maculam as religiões afro-brasileiras, já tão preconceituadas e estigmatizadas. 
Nosso Babá sempre manteve um posicionamento claro: o trabalho em prol das diversas tradições afro-brasileiras. Em mais de cinquenta anos de atuação sacerdotal foram muitas as realizações efetivas e positivas, as quais caminham em defesa da diversidade religiosa, do reconhecimento e identidade afro-brasileiros assim como o empenho por condições civis democráticas: vários terreiros espalhados pelo país, produção literária relevante no campo teológico afro-brasileiro, bem como a fundação da primeira e única Faculdade de Teologia com ênfase em religiões afro-brasileiras, reconhecida com nota de excelência pelo Ministério da Educação (MEC).
Nesse sentido, basta o mínimo de coerência para que sejam feitos os devidos distanciamentos entre aquele que trabalha e os que ocupam seu tempo em propagar mentiras e distorções.
Assinam esse texto todas as filhas e filhos de nossa comunidade de santo.



Link:
http://sacerdotemedico.blogspot.com.br/2015/10/manifesto-da-comunidade-de-santo-de.html

sábado, 17 de outubro de 2015

Consagração como Mestra de Iniciação de 6º Grau no TUO (2ª Fase da Umbanda Esotérica)


Não há como agradecer as alegrias e emoções vivenciadas na TUO. Somente a eterna gratidão ao meu Babá Pai Rivas Ty Ogyion pelas bençãos misericordiosamente estendidas a mim e ao meu grupo, que foi iniciado. É impossível descrever esta experiência. É a passagem do profano para o Sagrado. Este momento foi um marco na vida de todos nós. E peço aos Ancestrais que nos acobertaram neste dia, que nos ajudem a nos tornarmos dignos desta grande alegria, e que possamos honrar nosso Baba e sua Ancestralidade todos os dias de nossa existência. Asé Babá mi.

domingo, 4 de outubro de 2015

Benzedeiras, Religiões Afro-brasileiras e o caldeirão cultural brasileiro.


Vi, e vivi a realidade das benzedeiras desde menina. Minha bisavó e tias avós benziam.
E apesar disso, minha avó, mãe , tias  e primas diretas não quiseram aprender. Minha bisavó e tias avós morreram sem deixar sucessoras. E hoje, como médica e adepta das religiões afrobrasileiras, sinto-me herdeira delas.
Ao longo dos anos, o trabalho que elas faziam foi desprezado, perseguido pelos padres, pastores, médicos e até vizinhos, que não gostavam de ter ao lado um benzedor, macumbeiro...
Cresci vendo e ouvindo os contos irônicos, que ridicularizavam o árduo trabalho delas. Também conheci alguns benzedores homens, poucos, mas muito procurados.
Por certo, a maioria eram mulheres, e brancas. Negras, quando benziam, eram chamadas de macumbeiras.
Todas rezavam, normalmente, orações católicas. Todas usavam o terço, e tinham uma mesa onde colocavam imagens de santos católicos, acendiam velas, e as ervas. Ainda pequena, eu conseguia reconhecer poucas coisas, arruda e alguns galhinhos estranhos...
Via também copo com água, sal grosso, facas, tesouras, paninhos que elas costuravam com agulha e linha branca, e mandavam enterrar no cupim, lá no pasto. 
Reencontrei esses paninhos, anos depois, com o nome de patuás!
Reencontrei a arruda novamente, no terreiro de Umbanda,  nas mãos dos Pretos Velhos. Eles também usavam o terço e rezavam as mesmas orações. Também usavam o copo com água e as velas.
Diante dessas similaridades, minhas experiências infantis despertaram-se em forma de curiosidade. Como foi que essas duas realidades se cruzaram??? Como foi que minha bisavó e suas companheiras partilharam o mesmo lugar que os Pretos Velhos, sem nunca terem ido ao terreiro? 
Então, eu me lembrei de um quadro de uma senhora linda, pisando as águas do mar, cheia de flores nos seus pés. Esse quadro estava na parede da casa de minha avó, filha da bisa benzedeira Mãe Chica. Como foi que Yemanjá foi parar na casa de minha avó católica? 
Lembrei-me do que dizia meu professor de história: "...para entender qualquer fato, primeiro veja o contexto histórico." E lá fui eu, buscar alguma explicação que acalmasse minha necessidade de justificativas.
A região onde nasci foi região de escravos, pois cultivava café, gado. Além deles, tinha indígenas, na maioria Tupi-Guaranis, sangue que também corre nas minha veias (minha tataravó era indígena), e mais tarde, recebeu colonos italianos para a lavoura.  Seus sobrenomes europeus evidenciavam ser, na maioria cristãos novos, judeus sefaradis. Enfim, uma mistura bem interessante. 
Obviamente, o mediterrâneo recebeu grande influencia do povo árabe (mouros). E é notório que os povos árabes também dominaram alguns povos africanos, que chegaram ao Brasil como escravos, séculos depois. Portanto, a influência religiosa pode ter sido duplamente influenciada. Com a mistura das tradições no Brasil colônia, o catolicismo, o Islamismo, a Magia europeia e a tradição religiosa africana, resultaram em uma mistura muito profícua, um caldo rico e fértil, que formou a religiosidade brasileira. 
Obviamente, que um povo como o nosso, não se enquadraria em rígidos valores. 
A religiosidade do brasileiro transita sem conflitos. Exclusividade é uma palavra usada para aqueles que desejam hegemonia. Mas nós brasileiros, criados expostos desde pequenos a uma multiculturalidade impressionante, desenvolvemos uma capacidade adaptativa que impede a compreensão desta palavra. 
Vejo hoje o esforço de incutir na consciência do brasileiro esses limites. 
Contudo, basta ir a um terreiro, para perceber que não está dando certo. Lá encontraremos pessoas oriundas de todas as religiões, que, embora não se identifiquem como umbandista/candomblecista, vão e vêem sem dificuldade e sem dramas. Entram, recebem bençãos e voltam para seus lares e suas religiões tradicionais. Se forem perguntadas pelo Censo ou algum repórter, dirão em sua maioria, que pertencem à alguma religião monoteísta tradicional. Mas isso quer dizer que são menos ou mais religiosos? Não. Apenas não se sentem na obrigação de frequentar somente aquela religião tradicional, acreditam que não há nada demais em ir de vez em quando no terreiro ou na Roça de Candomblé. 
O que assistimos agora é a chegada de uma onda de intolerância religiosa explícita e estimulada pelos evangélicos, que agora exigem fidelidade ao Senhor, e combate aos hereges/infiéis/pecadores das religiões afro-brasileiras. Todo o esforço é direcionado ao combate incessante às religiões afro-brasileiras... 
O que vemos é a tentativa de retirar do povo brasileiro suas referências africanas. A cultura do povo negro, sua história e suas tradições são demonizadas, colocadas na periferia, na marginalidade. Tudo é relegado ao descrédito e ao demérito. 
Mas como negar que o sangue negro corre nas minhas veias, assim como o sangue europeu, o o sangue judeu, e até mesmo o mouro e o indígena? Sendo brasileira, como afirmar que sou pura em meu DNA, que não tenho a mistura fantástica da miscigenação e do sincretismo? 
Eu sou o resultado de séculos de uma mistura fabulosa de culturas, de credos, de cores e sabores.
Se eu guardo na memória as louvarias da Congada, dos Santos Reis, das Festas populares, guardo também as orações católicas, as ladainhas, os benzimentos. 
Se vejo hoje, o reconhecimento, ainda que tardio, do trabalho das benzedeiras, como vi o reconhecimento das parteiras dos nossos rincões, espero ver ainda nesta vida, o reconhecimento do árduo trabalho dos nossos Pais e Mães de Santo, que em seus terreiros/roças/templos/tendas, aliviam dores físicas, psíquicas e sociais de milhões de pessoas anualmente, mas que ainda sofrem a violência da intolerância religiosa.













Cidades habilitam benzedeiras como agentes de saúde pública
http://www.paulopes.com.br/2012/05/cidades-reconhecem-benzedeiras-como.html#.VhCv8rRViko


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