segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Casamento Civil em Terreiro de Candomblé!

Casal realiza 1º casamento civil de Salvador em um terreiro de candomblé

Constituição permite esse tipo de celebração desde 1988.
Francês e baiana se conheceram pela internet.
Do G1 BA, com informações da TVBA

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O primeiro casamento civil de Salvador realizado em um terreiro de candomblé ocorreu neste sábado (29), no bairro de Massaranduba. Desde 1988, a constituição brasileira permite esse tipo de celebração, mas faltava a regularização dos terreiros.
"Estando os terreiros regularizados, com os estatutos discriminando quem são os celebrantes, os presidentes das solenidades, a Justiça aceita isso como representação no terreiro para que seja feito o casamento religioso com efeito civil", explica  Alberto dos Santos, juiz.
O dia foi de preparativos, com todo o simbolismo que a tradição da religião exige. Primeiro houve a separação das folhas da pitangueira. "As folhas representam o caminho", explica uma das organizadoras do evento.
No barracão, incenso para purificar o ambiente. Um tapete de folhas e pétalas foi preparado para o casal. O noivo chegou ao terreiro ao som do berimbau e quando a noiva entrou no terreiro os alabês deram o toque nos atabaques.
A cerimônia durou 40 minutos e foi marcada pela emoção dos noivos e da família. A baiana Camila e o francês Máximo se conheceram pela internet, se apaixonaram e mesmo não sendo iniciados na religião afrobrasileira, resolveram se casar no candomblé.
"É a religião que mais se aproxima da nossa ideia de energia, de vida, de tudo", justifica Máximo Rangoni, empresário.
"Que isso aconteça mais vezes em Salvador, que é a terra do axé. Deus é um só e tendo fé isso é o que vale", conclui Camila Rangoni, secretária.

sábado, 29 de outubro de 2011

Fanatismo religioso

   "O diabo empalidece comparado a quem dispõe de uma única verdade" (Emil Cioran)
        "...todos os crentes parecem escandalosos e indiscretos: procura evitá-los" (Nietzsche)


      Em nossa época, supostamente dominada pela ciência e pela tecnologia, o fanatismo parece ser uma reação made in recalcado do inconsciente da humanidade. Fanatismo, vem do latim fanaticus, quer dizer "o que pertence a um templo", fanum. O indivíduo fanático  ocupa o lugar de escravo diante do senhor absoluto, que, pode ser uma divindade, um líder mundano, uma causa suprema ou uma fé cega. O fanatismo é alimentado por um sistema de crenças absolutas e irracionais  que visa  servir [1] à um ser  poderoso empenhado na luta contra o Mal. Ou seja, o fanático acha que pode exorcizar pessoas e coisas supostamente possuídas pelo demônio" [2] , "combater as forças do Mal" ou "salvar a humanidade" do caos.

      Tendo origem no dogma religioso, o fanatismo não se restringe a esse campo único; existe fanatismo por uma raça, um time de futebol, por um partido político, sobretudo por ideologias revolucionárias quando extrapolam a dimensão racional, sentindo-se guiada pela "fantasia da escolha divina".  Foi fanatismo religioso que fez muitos seguirem Jin Jones (Templo do Povo), Asahara (Verdade suprema), David Koresh (Ramo davidiano), Jo Dimambro (Templo Solar) e tantos outros místicos ou charlatães que terminaram causando tragédias coletivas, noticiadas no mundo todo. A história conheceu também os histerismos coletivos da "caça as bruxas", a perseguição aos negros, índios, comunistas, homossexuais, prostitutas.  O movimento da Jihad islâmica contra os "infiéis do ocidente" e a "guerra aos terroristas" do ocidente cristão, demonstram que o fanatismo está vivo e atuante em nossa época supostamente "científica" e "tecnológica". Precisamos admitir que, a história da humanidade é também a história dos vários fanatismos dominando grupos humanos, sempre com conseqüências trágicas. Esse pedaço da história renegado nos causa vergonha, medo e sinalizam alertas para possíveis efeitos negativos no rumo da civilização.

      Como dissemos, o fanatismo atua para além do efeito religioso, mas não extrapola ao campo ideológico como um todo. Há fanatismo entre crentes de todo o tipo, do menos ao mais irracional. Mas, não existe fanatismo racional, em que pese o fato de um certo tipo de razão (instrumental, cínica, etc) também ter cometidos os seus desatinos e crimes [3] . Assim, para o fanático religioso, não basta adorar um Deus visto como Senhor absoluto, é necessário ser soldado dele na terra, lutar pela causa superior, pregar, exorcizar, forçar os "infiéis" ou "divergentes" à conversão absoluta, à qualquer preço. O fanático está sempre disposto a dar provas do quanto sua causa suprema vale mais do que as próprias vidas: dele, de sua família ou mesmo de toda a humanidade. Ele mata por uma idéia e igualmente morre por ela.

      Os sintomas do fanatismo

      Os sintomas do fanatismo, em grupo, são: orações, privações, peregrinações, jejum, discursos monológicos e martírios que podem terminar com o sacrifício da própria vida visando salvar o mundo das "trevas" ou do que ele entende ser "o mal" [4] .

      O fanático não fala, faz discursos; é portador de discursos [5] prontos cujo efeito é a pregação de fundo religioso ou a inculcação política de idéias que poderá vir a se tornar ato agressivo ou violento, tomado sempre como revelação da "ira de Deus" ou "a inevitável marcha da história" ou, ainda, a suposta "superioridade de uns sobre os demais". Faz discursos e não fala, porque enquanto a fala é assumida pelo sujeito disposto ao exercício do diálogo, da dialética, do discernimento da verdade, os discursos - especialmente o discurso fanático - fazem sumir os sujeitos para que todos virem meros objetos de um desejo divinizado; servir ao desejo divino e à produção da repetição de algo já pronto, onde o retorno do recalcado do sujeito faz do Eu (ego) um porta-voz de um sistema de crenças moralistas carregado de ódio em relação ao suposto inimigo ou adversário que precisa ser destruído para reinar o Bem.

      Os textos sagrados, tomados literalmente, fornecem a sustentação "teórica" do discurso fundamentalista religioso; com ele, o indivíduo acredita, a priori, estar de posse de toda a verdade e por isso não se dá ao trabalho de levantar possíveis dúvidas, como confrontar com outro ponto de vista, ou desvelar outro sentido de interpretação, ou ainda, contextualizá-lo, etc. O fanático tem certeza e isso lhe basta. Creio porque é absurdo, já dizia Tertuliano. Certeza para ele é igual a verdade. (Segundo Popper, no campo científico, a certeza nada vale porque é "raramente objetiva: geralmente não passa de um forte sentimento de confiança, ou convicção, embora baseada em conhecimento insuficiente", já a verdade tem estatuto de objetividade, na medida em que "consiste na correspondência aos factos", na possibilidade da discussão racional com sentido de comprovação. (Popper, 1988, p. 48).

      O problema da religião não é a paixão "fé", mas a inquestionalidade de seu método. O método de qualquer religião traz uma certeza divulgada em forma de monólogo, jamais de diálogo ou debate de idéias. O pastor, padre, rabino, ou qualquer pregador de rua, vivem o circuito repetitivo do monólogo da pregação; acreditam que "vale tudo" para difundir a "verdade única" que o tocou e o transformou para sempre! O estilo fanático usa e abusa do discurso monológico delirante, declarações, comunicados, que jamais se voltam para  escuta ou o diálogo, exercício esse que faria emergir a verdade - não a "certeza" [6] .

      Psicopatologia do fanatismo

      Do ponto de vista psicopatológico, todo fanatismo parece ter relação com a fuga da realidade.  A crença cega ou irracional parece loucura quando se manifesta em momentos ou situações específicas, porém se sua inteligência não está afetada, o fanático aparentemente é um sujeito normal. No entanto, torna-se um ser potencialmente explosivo, sobretudo se o fanatismo se combinar com uma inteligência  tecnologicamente preparada. Fanático inteligente é um perigo para a civilização. O terrorismo, por exemplo, que atua com a única meta de destruir inimigos [7] aleatórios é realizado por indivíduos fanáticos cuja inteligência é instrumentada apenas para essa finalidade. No terrorismo é uma das expressões do fanatismo combinado com uma inteligência tecnológico, mas totalmente incapaz de exercitá-la por meios mais racionais, políticos e legais. Para o terrorismo sustentado no fanatismo, os inocentes devem pagar pelos inimigos; a destruição deve ser a única linguagem possível e a construção de um novo projeto político-econômico, não está em questão, porque a realidade no seu todo é forcluída [8] .

      O fanatismo parece surgir de uma estrutura psicótica. O fato do sujeito se ver como o único que está no lugar de certeza absoluta, de "ter sido escolhido por Deus para uma missão "x", já constitui sintoma suficiente para muitos psiquiatras diagnosticarem aí uma loucura ou psicose. Mas, seguindo o raciocínio de Freud, vemos que "aquilo que o psicótico paranóico vivencia na própria pele, o parafrênico experiência na pele do outro" [9] , ou seja, somos levados a supor que o fanatismo está mais para a parafrenia que para a paranóia. Hitler, antes considerado um paranóico, hoje é mais aceito enquanto parafrênico [10] , pois seus atos indicam sua idéia fixa pela supremacia da raça ariana e a eliminação dos "impuros"; mais ainda, o gozo psíquico do parafrênico não se limita "ser olhado" ou "ser perseguido", tal como acontece com paranóicos, mas sim se desenvolve "uma ação inteligente de perseguição e extermínio de milhares de seres humanos", donde extrai um quantum de gozo sádico. Portanto, deve existir membros de um grupo de fanáticos paranóicos, mas certamente o pior fanático é o determinado pela parafrenia, pois visa de fato destruir em atos calculados "os impuros", "os infiéis", enfim, todos os que não concordam com ele.

      Hitler e seus comparsas usaram de inteligência para inventar e administrar a chamada "solução final" contra os judeus, porém, antes de ser este um fato criminoso era uma exigência interna de seu próprio psiquismo. Na parafrenia vigora a compulsão de observar e atuar o ser do Outro como alimentador de seu delírio interno. O parafrênico "faz acting out em nome de..." e jamais assume seu ato criminoso, pondo a responsabilidade em alguém que para ele encarna o "mal". Para sua "lógica", as vítimas são os únicos responsáveis. É curioso observar que ontem os judeus se agarravam ao sacrifício do holocausto [11] como modo de explicação da tragédia em que eram vítimas, mas hoje a ultra direita israelense, no poder, parece resgatar dos nazistas essa terrível idéia da "solução final" contra os palestinos. "Quem lutou muito contra dragão, também vira dragão", diz um antigo provérbio chinês.

      Os fanáticos pela "solução final" dos judeus, no Julgamento de Nuremberg, não se consideravam culpados ou com remorsos pelo extermínio coletivo. Goering, considerado o segundo homem depois de Hitler, tentou se defender segundo o princípio de sua lealdade e fidelidade para com o Führer; "cumprira ordens" e "nenhuma vez ele se considerou um criminoso" [12] . Eis a "razão cínica": a culpa pelo genocídio era dos próprios judeus gananciosos por dinheiro, não de seus carrascos nazistas. Os israelenses da "era Sharon" também não se responsabilizam pelos atos criminosos de Israel contra os palestinos generalizados como terroristas.

      Se no fanatismo o sujeito inexiste para dar lugar ao Senhor absoluto e maravilhoso, então faz sentido não assumir a sua própria responsabilidade, porque ela é "obra do Senhor" [Werk de herrn.] [13] , "o Senhor quer que eu faça", "foi a mão de Allah" [14] , etc. São mais do que frases, são efeitos de uma poderosa "fantasia da eleição divina" [sic!] onde o sujeito é nadificado para dar lugar ao discurso delirante da salvação messiânica [15] . O mundo fanático foi dividido entre "os eleitos" e os que continuam nas trevas e que precisam ser salvos ou serem combatidos por todos os meios, pois "são forças do mal".

      O famoso caso Schreber, analisado por Freud [16] , que acreditava ter recebido um chamado de Deus para salvar o mundo, que lhe era transmitido por uma linguagem particular - só entre ele e Deus - , tornou-se o modelo psicanalítico para se pensar a relação loucura e fanatismo. Como já dissemos, o fanatismo é sustentado por sistema de crença delirante, psicótico, dominado por uma autoridade absoluta e invisível (Deus ou a causa da "supremacia da raça ariana", ou a "missão do povo judeu", ou "a Jihad islâmica", "ou salvar o mundo do diabo", enfim, um significante posto no lugar "absoluto" que comanda a ação do grupo fanático [17] ,etc). Segundo a psicanálise, isso poderia apontar para a hipótese de um "complexo paterno" de origem.

      A leitura lacaniana fala de "um buraco no Nome-do-Pai, que produz no sujeito um buraco correspondente, no lugar da significação fálica, o que provoca nele, quando é confrontado com essa significação fálica, a mais completa confusão. É  isso que desencadeia a psicose de Schreber, no momento em que ele próprio é chamado a ocupar uma função simbólica de autoridade, situação à qual só teria podido reagir com manifestações alucinatórias agudas, às quais a construção de seu delírio iria pouco a pouco fornecer uma solução, constituindo, no lugar da metáfora paterna fracassada, uma "metáfora delirante", destinada a dar um sentido àquilo que, para ele, era totalmente desprovido de sentido" [18] .

      Os primeiros sintomas de fanatismo e suas estratégias de sedução

      O início de qualquer fanatismo consiste, em primeiro, reconhecermos um sujeito ou grupo estarem convictos, quando julgam de posse de uma certeza que recusa o teste da realidade. Nietzsche dizia que "as convicções são piores inimigas da verdade do que as mentiras", porque quem mente sabe que está mentindo, mas quem está convicto não se dá conta do seu engano. "O convicto sempre pensa que sua bobeira é sabedoria" [19] . Até no campo científico, há cientistas correndo o perigo de tornar-se convictos de suas teses. Edgar Morin analisa que quando algumas idéias se tornam supervalorizadas e adquirem um caráter de grandiosidade e absolutismo tendem a levar os seus sujeitos a abdicarem de seu raciocínio crítico e se tornarem meros objetos dessas idéias. Indivíduos assim submetidos a tão grandes idéias, fazem qualquer coisa para "salva-las" de um possível furo de morte; elas funcionam como muleta existencial. Isso acontece principalmente no meio religioso, mas também pode ocorrer nos meios político, filosófico  e científico. 

      O segundo sinal do fanatismo é quando alguém quer impor a todos de modo tirânico a "verdade" única extraída de sua inspiração ou crença absoluta. Pretende assim a uniformização via linguagem, através de aparência física, rituais e slogans do tipo: "O único Deus é Allah", "só Cristo salva", "Jesus Cristo é o Senhor", "somos o Bem contra o Mal", "Em nome do Senhor Jesus eu ordeno..." São expressões de caráter estereotipado, sustentado por uma "estrutura de alienação do saber" [20] , onde o discurso passa a falar sozinho, é uma resposta que está no gatilho, pronta para qualquer emergência que o sujeito não quer pensar. Observem o caráter tirânico, narcisista e excludente dessas afirmativas. Todos possuem uma visão que nega outros modos de crer e pensar. O mesmo acontece nos auto-elogios das pessoas de raça branca e o desprezo pelas outras como proclamam os fanáticos da extrema direita, nas ações violentas de uma torcida sobre a outra, todos, sinalizam que o indivíduo se rende ao grupo e este "a causa". Os recém convertidos de qualquer seita religiosa ou política estão sempre convictos que, finalmente, contemplam a verdade e essa tem que ser imposta a todos, custe o que custar.

      O terceiro indicativo de fanatismo, já dissemos, é quando uma pessoa passa a colocar uma causa suprema (podendo esta ser justa ou delirante) acima da vida dela e dos outros.

      Quarto, quando um indivíduo e/ou grupo se isolam da convivência familiar e social e adotam um modo de vida narcísico [21] (no igual modo de vestir, de cortar ou não cortar o cabelo, no jeito de falar, nas regras de comer, na ritualística, etc), enfim, quando uniformizam seu discurso, gestos, postura, atitudes em geral e punem os que se recusam a seguir as regras impostas. Entrar para um grupo de fanáticos implica em renunciar: pai, mãe, os filhos, os amigos, o lugar onde viveu, o trabalho, enfim, os membros são persuadidos a matarem os vestígios simbólicos da vida anterior para fazer renascer a vida em outra base moral e de fé.

      Quinto, quando o indivíduo e/ou grupo perdem o bom-senso na lógica da comunicação e nas ações do cotidiano. O discurso passa a ser repetitivo e estranho à vida comum.

      O sexto indício de fanatismo é quando se perde o sentido de respeito e humanidade para com os diferentes, em nome de uma causa transcendente.

      O psicólogo francês, J-M. Abgrael, resume o método de doutrinação fanática em 3 etapas: 1o) sedução das pessoas para a "causa"; 2o) destruição da antiga personalidade, eliminação dos elos familiares, sociais e profissionais e 3o) construção de uma nova personalidade "renascida" ou "renovada", de acordo com o modelo e as regras da seita.  Geralmente essa passagem da vida normal para a vida "renovada", há um ritual, algum tipo de batismo, onde se inicia a adoção de um novo nome, novos hábitos, apresentação de novas "famílias". Sentir-se incluso num grupo "de irmãos" ou "de luta pela causa" "é como estar apaixonado; surge uma sensação maravilhosa, tudo passa a fazer sentido na vida, a pessoa se sente acolhida e imensamente alegre". O indivíduo passa a se ver se modo especial, diferente dos demais para realizar a missão elevada; se vê inundado por um sentimento grandioso que Freud chama de "sentimento oceânico". Imagine um indivíduo desesperado, desgarrado de seu grupo social, sem uma forte identidade psicossocial cuja vida perdeu o sentido, ao ser acolhido em um grupo fanático, recebe mensagens confortadoras, do tipo: "nós amamos você", "você é muito importante para o projeto de Deus", "você faz parte de nossa vida", "Deus te ama", etc Diz P. Demo (2001) "o sentimento de ser amado, move o entusiasmo mais do de qualquer coisa".

      Faz parte da estratégia para atrair pessoas para novas seitas e igrejas, investir em programas produzidos para solitários que sofrem insônia e depressão nas madrugadas. Os desesperados sentem-se acolhidos com tais palavras mágicas e facilmente se sentem inclusos e maravilhados pela ilusão de nova vida e sentimento extremo de felicidade,  numa igreja em que o fanatismo é o seu ponto cego.

      Todo fanático é intolerante 

      O fanatismo é a intolerância extrema para com os diferentes. Um evangélico fanático é incapaz de diálogo e respeito para com um católico ou um budista. Um fanático de direita não quer diálogo com os de esquerda. Organizações como a Ku Klux Klan são intolerantes igualmente com negros adultos, mulheres e crianças. Por isso se diz que há em cada fanático um fascista camuflado, pronto para emergir em atos de exclusão e eliminação.

      O semiólogo e filósofo italiano, Umberto Eco, reconhece que o protofascismo está presente nos movimentos fanáticos [22] . No campo político, não importa auto denominar-se de "esquerda" ou de "direita" pode existir um protofascismo. No fundo os atos terroristas são produzidos e sustentados por fanatismos de inspiração místico-fascista [23] incapazes de diálogo ou argumento racional que esclarece sua causa objetiva. Não é sem sentido que os atos terroristas deixaram de dizer algo pela palavra e passaram a ser apenas o ato, o acting out.  S. P. Rouanet diz que "os terroristas são agentes de uma ideologia religiosa extrema direita ... que funciona como ópio do povo..." (A coroa e a estrela, FSP, Mais!, 18/11/01)

      O fascismo, tanto o de Estado dos fundamentalistas religiosos, como o que está pulverizado nos atos do cotidiano das relações humanas, é fanático porque desrespeita, desconsidera, é intolerante quanto ao modo de ser, pensar e agir do outro [24] , é tradicionalista-fundamentalista.  Enquanto o fascista "quer o poder pelo poder", há o fanático "autêntico" que anseia dominar o mundo com sua crença, e o "fanático terrorista" que "deseja apenas destruir a estrutura de sustentação do inimigo". Mas, ambos, o fascismo e o fanatismo não são compatíveis com a democracia. Ambos pregam intolerância multirreligiosa, a intolerância multicultural e multirracial e usam o espaço de liberdade democrática para espalhar o seu ódio e sua crença.

      O sentimento que no fundo sustenta o fanatismo e o fascismo não é a fé, nem o amor [Eros], mas o ódio [Thanatos] e a intolerância. O desejo do fanático "autêntico" é dominar o mundo com seu sistema de crença cheio de certeza. No plano psíquico, o lugar do recalque torna-se depósito de ódio e desejo de eliminar todos os que atrapalham o seu ideal de sociedade. Certa dose de paciência doutrinada o faz esperar-agindo para que a "idade de ouro puro" possa um dia acontecer. 

      São tão fanáticos os terroristas-suicidas muçulmanos como os fundamentalistas cristãos norte-americanos que atacam clínicas de abortos, perseguem homossexuais, proíbem o ensino da teoria evolucionista de Darwin, obrigando aos professores ensinarem a doutrina criacionista tal como está na Bíblia, ou ainda, os protestantes da Irlanda do Norte que atacam crianças católicas ou os bascos que querem ser um país independente a qualquer preço, por meio do terror.

      Alguns personagens "messiânicos" de nosso tempo, como Hitler, Idi Amin, Reagan, G. W. Bush, Sharon, os grupos dos martírios suicidas do Oriente Médio, entre outros, tem algo em comum: cada um se sente o escolhido para cumprir uma especial missão [25] . Hitler discursou que "as lágrimas da guerra preparariam as colheitas do mundo futuro". G. Bush, na sua ânsia de guerra contra o ditador S. Hussein, não estaria delirando no mesma linha ? Não é sem sentido que os EUA, tem sido o solo fértil de seitas cristãs fanáticas. Uma delas, A Casa dos Filhos de Jeová, torce para o mundo se acabar logo, porque seus membros acreditam que depois surgirá uma nova civilização do Bem.

      Fanáticos e suicidas carecem de humor

      O fanatismo parece ser uma doença contagiosa, pois tem o poder de atrair adeptos geralmente em crise profunda de vida pessoal. Fanáticos e suicidas tem em comum a falta de humor e o desapego pela própria vida. A certeza cega tira-lhes o humor e os colocam no caminho do sacrifício místico.

      O escritor e pacifista israelense, Amós Oz, numa carta ao escritor japonês Kenzaburo Oe, Prêmio Nobel de 1994, escreve ter encontrado a "cura para o fanatismo": o bom humor. Diz que: "nunca vi um fanático bem-humorado, nem alguém bem-humorado se tornar fanático". Oz imagina uma forma mágica de prevenir o fanatismo: um novo tipo de messias que "chegará rindo e contando piadas".

      Emil Cioran, um filósofo amargo e pessimista, vê nas atitudes dos céticos, dos preguiçosos e dos estetas, os únicos que verdadeiramente estão a salvo do fanatismo. Já os religiosos estreitos, os políticos sectários, os dogmáticos que habitam em todas as áreas do conhecimento, tendem ao fanatismo com seus instrumentos próprios. O fanática jamais se pensa ser fanático [26] .

      Enfim, é preciso estarmos atentos e preparados para resistir os apelos do fanatismo que como erva daninha não escolhe lugar para germinar e se alastrar. Os grupos fanáticos exercem um atrativo para os indivíduos que possuem uma estrutura psíquica vulnerável, os desesperados, os desgarrados, os avessos ao espírito crítico ou predispostos à crendice, ao desejo de encontrar uma certeza e a se "contentar-se com pouco" na terra, porque ele tem certeza de que ganhará na suposta vida após a morte. Tanto o fanatismo como a guerra estão entre as situações que se encontram na contramão da sabedoria.

      Para prevenção do fanatismo

      Freud, como pensador evolucionista, pensava que só quando a civilização ascendesse à maturidade psíquica é que descartaria os mecanismos infantis ou alienantes cuja matriz é a religião. Segundo o fundador da psicanálise, a religião infantiliza as pessoas e as arrasta ao delírio de massa. O homem não poderia viver nesse estado de infantilismo para sempre, daí a urgente necessidade de um projeto de uma "educação para a realidade" [27] , que fortaleceria a vida intelectual, facilitando o acesso de todos ao conhecimento científico, por ser este verdadeiro. Ademais, a religião não fez e nem faz as pessoas felizes, mas, dá-lhes uma ilusão de felicidade; sem dúvida, ela tem o poder de controla os impulsos primitivos psicossexuais e proporciona alguma direção moral, que costuma ir além do necessário, ou seja, reprimindo o potencial criativo ou de prazer genuíno das pessoas.

      Amós Oz [28] , o escritor pacifista, sugere a criação de escolas em todo o mundo da disciplina "fanatismo comparado". Tal disciplina não apenas serviria para entender os fanatismos: religioso, nacionalista, racial, político, desportivo, mas também outros que passam desapercebidos, como o "antitabagista" que poderia queimar os que fumam, o "vegetariano" que comeria vivo quem come carne, "o ecologista" que prefere salvar as baleias às pessoas famintas, etc. Uma disciplina como essa, teria uma função mais que educativa, teria uma preocupação preventiva quanto a possibilidade de "contágio" social do fanatismo, já que pode-se pegá-lo ao tentar curar alguém desse mal. "Conheço o perigo de se tornar um fanático antifanatismo", alerta o escritor.

      Concluindo, resumimos que, previne-se o fanatismo com uma educação de boa qualidade, que saiba promover a cultura geral - mais do que a fé - e o sentido de grupo, de criatividade e humor.

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        * Psicanalista, docente na UEM e doutorando na Universidade de São Paulo
        [1] Geralmente os fanáticos que se tornam assassinos o fazem "em nome de Deus", ou em nome de um Outro qualquer. Ele é apenas um comandado. Já os assassinatos múltiplos disparados por um franco atirador anônimo, nos EUA,  parecem não ser movidos por um Outro, ou "Grande ser", isto porque o assassino se diz que é o próprio "Deus".
        [2] Basta ir a um templo evangélico ou, nas madrugadas, assistir pela televisão um show de exorcismo
        [3] Nesse sentido, o Prof. Hilton Japiassu, costuma citar F. Jacob, que diz: "Não é somente o interesse que leva os homens a se matarem. Também é o dogmatismo. Nada é tão perigoso quanto a certeza de ter razão. Nada causa tanta destruição quanto a obsessão de uma verdade considerada como absoluta. Todos os crimes da História são consequência de algum fanatismo. Todos os massacres foram realizados por virtude: em nome da religião verdadeira, do racionalismo legítimo, da política idônea, da ideologia justa; em suma, em nome do combater contra a verdade do outro, do combate contra Satã" . Cf.: Crise da razão no ocidente. In: Japiassu, H. Desistir de penar? Nem pensar, 2001.
        Tb.http://www.editoraeletronica.net/autor/069/06900100_1.htm - topo
        [4] Zusman, W. 2001.
        [5] Para uma melhor compreensão dessa distinção, ver Juranville, A. Lacan e a filosofia. Rio: Jorge Zahar, 1987, principalmente a segunda parte.
        [6] Ossama Bin Laden é um bom exemplo de um fanático tecnológico que faz comunicados, monólogos, declarações ou discursos, jamais se oferece para um diálogo franco e aberto para confrontar com outros pontos de vista.
        [7] "O terrorismo é uma das expressões do fanatismo fundamentalista".
        [8]   Cf.: Chemama, R.1995, p. 79-81.
        [9] Cf.: conforme análise de Becker, S., 1999.
        [10] Essa é a tese de S. Becker, 1999.
        [11] Originariamente o holocausto [gr. Holókauston] era o "sacrifício em que a vítima era queimada inteira". Entre os hebreus, o holocausto era também o sacrifício em que se queimavam inteiramente as vítimas, tendo assim um sentido de imolação ou expiação. No período nazista, entre 1935 e 1945, os judeus se viram diante de um novo holocausto, sendo obrigados a perda da cidadania, a trabalhos forçados, a serem fuzilados em massa, serem transportados pela força para os campos de concentração onde terminavam sendo exterminados coletivamente em câmaras de gás. Durante esse holocausto, cerca de 6 milhões de judeus pereceram.
        [12] Cf.: Manvell, R, e Fraenkel, H. 1962, p. 262. Conferir pelo menos todo o capítulo final "Nuremberg". 
        [13] Dito por Hitler, em Mein Kampf. Apud Becker, S. 1999, p. 157.
        [14] Dito por Ossama Bin Laden, por ocasião do ataque aos EUA.
        [15] "É o saber instituído no discurso universitário, quando o S1 vem no lugar da verdade. Com a extinção desse lugar ético, acontece a forclusão do Nome-do-Pai e a formação da holófrase parafrênica". (Becker, S., 1999, p. 158).
        [16] Cf.: S. Freud. [1911] Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides), v. XII, p. 15 -105.
        [17] Raciocínio parecido fez o ensaista, poeta e dramaturgo alemão, Hans Magnus Enzensberger, onde escreve: "Não importa saber de qual alucinação se trata. Qualquer instância superior serve - uma missão divina, uma pátria sagrada, a uma revolução qualquer. Em caso de emergência, no entanto, o suicida assassino [refere-se aos kamisazes de 11 de setembro, entre outros atos suicídas]pode se arranjar até com uma justificativa qualquer de segunda mão. Seu triunfo consiste no fato de que não poderá ser atacado nem punido; disso ele mesmo se encarrega. E também o mandante à distância aguarda em seu "bunker " o  momento da própria extinção; deleita-se  - como Elias Canetti já há meio século formulava - só com a idéia de que antes dele possivelmente todos os outros, inclusive seus correligionários, serão mortos" (grifo meu). Enzensberger, H. M. Paranóia da autodestruição. Folha de S. Paulo - Mais, 11/11/2001.
        [18] Cf.: Chemama, R. 1995, p. 161-2.
        [19] Cf.: R. Alves. 2001, p. 105-10.
        [20] Trata-se de uma conceito de R. Barthes, trabalhado por L. Mrech 1999) . As "estruturas de alienação do saber" são formas estereotipadas de saber, mas que perderam o contato real  com a realidade entre os sujeitos. É uma estrutura  programada para filtrar o que o sujeito deve escutar, o que dizer e o que fazer em um determinado momento. Não incorpora nada novo, apenas repete.
        [21] Observamos que o narcisismo visa um resultado de gozo místico que implica, sobretudo, "amar a si mesmo", tal como o Mito de Narciso, que morre diante de sua imagem refletida na água, ignorante que era sua própria imagem. O êxtase do místico, que faz um ato de terror, ou de suicídio ou, ainda, de ambos, é a intenção de "ultrapassagem do limiar do gozo-Outro" (Nasio, 1993) ; de um gozar que implicam o corpo e o psíquico, na crença suposta de uma vida após a morte.
        [22]   Cf.: Nebulosa fascista. FSP, 1995.
        [23] O fascista não é necessariamente nazista. Esclarece Eco que enquanto o nazista é obcecado pela raça pura, o fascista é pelo comando total das pessoas, que perdem suas liberdades.
        [24] Estamos nos baseando nas teses de U. Eco, escritas no artigo ensaio "Nebulosa fascista", que aproveitamos em nosso artigo "Tolerância zero ao profofascismo", publicado na revista virtual www.espacoacademico.com.br , ano 1, n. 4, set. 2001.
        [25] O tamanho do cinismo de Hitler está na frase: "pela graça de Deus, eu sempre evitei oprimir meus inimigos" (apud Chalita, M., s.d., p. 186). Tem sido frequente, ditadores se verem os eleitos de Deus para cumprir uma missão na terra. Idi Amim Dada, o ditador-açougueiro de Uganda, certa vez declarou: "Eu só atuo conforme as instruções de Deus". (apud Chalita, M., s. d., p. 186).
        [26] Segundo pesquisa de P. Demo (20000) 3/4 dos crentes da Igreja Universal do Reino de Deus negam com veemência que a religião fosse uma forma de fuga. Também é frenética a exacerbação do nome de Jesus, que é visto como única solução de todos os problemas.
        [27] Freud, S. Futuro de uma ilusão, p. 64.
        [28] A. Óz. Folha de S. Paulo - Cad. Mais!
         

        Referências bibliográficas

        ALVES, R. Entre a ciência e a sapiência. São Paulo: Loyola, 2001

        BECKER, S. A fantasia da eleição divina; Deus e o homem. Rio de Janeiro: C. de Freud, 1999.

        CHEMAMA, R. Dicionário de psicanálise. Porte Alegre: Artes Médicas, 1995.

        CIORAN, E. Genealogia do fanatismo. In: Breviário da decomposição. Rio de Janeiro: Rocco, 1989, p.11-100.

        DEMO, P. Dialética da felicidade; felicidade possível. V. 3. Petrópolis: Vozes, 2001.

        ECO, U. A nebulosa fascista. In: Folha de S. Paulo - Mais!, 14/05/95.

        ENZENSBERGER, H. M. Paranóia da autodestruição. Folha de S. Paulo - Cad. Mais! 11/11/2001, 5-7.

        FREUD, S.  [1911] Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia (dementia paranoides). Rio de Janeiro: Imago, 1974, v. XII, p. 15 -105.

        _____. [1917] O futuro de uma ilusão. Rio: Imago, 1974, v. XX1.

        GARCIA-ROZA, L.A. O Mal radical em Freud. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.

        JAPIASSU, H. Desistir de pensar? Nem pensar! São Paulo: Letras & Letras, 2001.

        JURANVILLE, A. Lacan e a filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.

        KILLER CULTS. Documentário dirigido por Catherine Berthillier e Bernard Vaillot. France 3 - canal Vie, 1998.

        KURZ, R. A síndrome do obscurantismo. Folha de S.Paulo - Mais! 05/11/1995,  p. 12.

        LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1993.

        MANVELL, R. & FRAENKEL, H. Göering. Rio de Janeiro: 1962.

        MORIN. E. Entrevista ao programa Roda Viva. São Paulo: TV-Cultura, 2000.

        MRECH, L. Psicanálise e educação: novos operadores de leitura. São Paulo: Pioneira, 1999.

        NASIO, J.-D. Cinco lições sobre a teoria de Jacques Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.

        NIETZSCHE, F. Além do bem e do mal. São Paulo: Hemus, s.d.

        ROUANET, S. P. Os três fundamentalismos. Folha de S.Paulo- Mais! 21/10/2001.

        ZUSMAN, W. Terrorismo: um bolo em camadas. Vértice-revista virtual de psicanálise. out/ 2001.

       
(*) - AUTORIA &  CRÉDITOS:
 Este Material que nos enviaram, foi captado em 'Foro' de Internet, creio que pertença a RAYMUNDO DE LIMA, a quem agradecemos pelo uso deste ensaio. Nós respeitamos os Direitos Autorais e você?

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Povos Tradicionais de Terreiros - Ministério da Cultura


Povos Tradicionais de Terreiros

MinC recebe inscrições para oficina que acontece no Maranhão de 27 a 30 de novembro
Estão abertas as inscrições para selecionar participantes para a I Oficina Nacional de Elaboração de Políticas Públicas de Cultura para Povos Tradicionais de Terreiros. O evento, realizado pelo Ministério da Cultura, acontecerá de 27 a 30 de novembro, em São Luís, capital do estado do Maranhão. Serão abertas 140 vagas exclusivas para representantes de Povos Tradicionais de Terreiros, sendo 40 para participantes do Maranhão e 100 para pessoas de outros estados do país. Haverá, ainda, vagas destinadas a gestores públicos e acadêmicos, movimentos sociais e entidades afins.
Realizada no ano de 2011 – declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o Ano Internacional dos Povos Afrodescendentes -, o evento tem o objetivo de subsidiar a construção de políticas culturais para o segmento, visando à proteção, promoção e consolidação de suas tradições.  A finalidade é o reconhecimento de seus ritos, mitologias, simbologias e expressões artístico-culturais.
As inscrições poderão ser realizadas de 22 a 31 de outubro, mediante preenchimento de formulário pelo SALICWEB no endereço: http://sistemas.cultura.gov.br/propostaweb. Na inscrição, deverão ser anexadas cópias dos seguintes documentos: comprovante de residência, CPF, RG, currículo (ou breve histórico de vida) e carta de indicação da liderança do terreiro ao qual o candidato pertence.
A oficina é uma realização do Ministério da Cultura, por meio da Secretaria de Cidadania Cultural (SCC/MinC), Fundação Cultural Palmares (FCP/MinC), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/MinC) e da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), além da Comissão Nacional de Povos de Terreiros, em parceria com a Secretaria de Estado da Cultura do Maranhão (SECMA), a Secretaria da Igualdade Racial do Maranhão (SEIR/MA)  e a Prefeitura de São Luis (FUNCMA).
Confira aqui a Chamada Pública.
Confira aqui o tutorial da inscrição.
Faça aqui sua inscrição online.
(Texto: Marcos Agostinho, Ascom/MinC)
(Fonte: SCC/MinC)

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Lançamento do Livro Contos e Crônicas do Mestre Tolomi


"Finalmente Paulo Cesar Pereira de Oliveira, que tantos chamam de Pai Paulo, resolveu colocar no papel uma pequena gota do conhecimento e da sabedoria que acumulou ao longo de quase quatro décadas de vivência com grandes mestres e mestras da tradição Yorùbá, preservada no Brasil a despeito da violência cotidiana da hegemonia eurocêntrica que prevalece no país desde a sua ocupação no século 14.
Adepto inconteste da oralidade e suas técnicas de transmissão do saber, cedeu ao imperialismo escriba por um motivo muito nobre, contribuir para a implementação da Lei 10.639, que determina a inclusão da história e cultura africana e afro-brasileira nos currículos escolares. Aprovada em janeiro de 2003, esta lei provocou uma corrida no mercado editorial para produzir materiais sobre a temática em questão. Entretanto, em sua maioria, são produtos superficiais e / ou equivocados, que não contribuem efetivamente para uma nova pedagogia, que ajude a resgatar a educação nacional do limbo em que se encontra.
Esse esforço resultou num livro forte, profundo e ao mesmo tempo encantador, “Crônicas e Contos do Mestre Tolomi[1]”. Não é uma leitura para pessoas conformadas com a mediocridade e com as verdades estabelecidas. Muito pelo contrário, trata-se um livro para as pessoas insatisfeitas, que reconhecem e respeitam a diversidade da existência humana, e faz questão de conhecê-la, sabendo que só assim terão a oportunidade de enxergar as possibilidades infinitas de transformação do status quo.
“Crônicas e Contos do Mestre Tolomi” é baseado na cosmovisão Yorùbá, cujos princípios, juntamente com as outras matrizes bantu e ewe fon, garantiram a sobrevivência dos afro-brasileiros a tantos séculos de ignomínia e opressão.
Quem se debruçar sobre este livro, o lerá uma, duas, três vezes, e sempre aprenderá algo novo, sobre humanidade, solidariedade, vivência comunitária, respeito ao meio ambiente e às diferenças, e muitos outros valores civilizatórios que podem nos transformar em pessoas melhores, e ao nosso planeta também.
Aproveitem a chance pra aprender um pouquinho de Yorùbá, idioma falado por mais de 30 milhões de pessoas, na África, no Brasil e no mundo!
No mais, vamos torcer pra que Mestre Tolomi nos brinde com mais sabedoria ancestral, antes que consigamos assimilar todos os mistérios do primeiro livro.

Espero vocês. Dia 27 de outubro às 20hs no Centro Cultural Palace!
Informações: (16) 30213788

Aṣè Pupọ Gbogbo Wá (Muito axé para todos e todas nós)"

https://www.facebook.com/event.php?eid=293072297388561

Vamos prestigiar o Povo do Santo!

Desrespeito ao artigo V, inciso VI da Constituição!

Rito De Exu O Guardião do Destino - OICD


A mobilização da comunidade terreiro na Festa de Santo





http://sacerdotemedico.blogspot.com/

sábado, 22 de outubro de 2011

Rito De Exu O Guardião do Destino - OICD


As Religiões afro-brasileiras a cada dia conquistando novos espaços em nossa sociedade. Av. Santa Catarina fechada para o Rito de Exu! Paó!!!!

Intolerância religiosa contra mãe Jaciara: audiência ouve testemunhas de crime ocorrido em 2006


A mãe-de-santo Jaciara Ribeiro dos Santos, do terreiro Ilê Abassá de Ogum, vítima de intolerância religiosa em março de 2006, deve ficar frente a frente com seus agressores em audiência na 5ª Vara Criminal, no bairro de Sussuarana em Salvador, nesta quinta-feira (20), a partir das 8 horas. Com repercussão no País, o crime, ocorrido na Avenida Sete, centro comercial da capital baiana, resultou na prisão dos dois camelôs evangélicos Valdinei Dias Santos e Walter da Conceição Ribeiro.
Os dois respondem a processo por ofender e tentar agredir a religiosa depois de ouvirem, como resposta à saudação “Jesus lhe ama”, o bordão com referência ao candomblé “Ogum também”. Segundo a testemunha de acusação Raimundo Coutinho, que estará presente na audiência de amanhã, foi o primeiro caso de prisão em flagrante por intolerância religiosa do Brasil. “Presenciei a alteração dos dois ambulantes, de bíblias em punho, a agredir mãe Jaciara”, afirma Coutinho.
Para o presidente da Comissão de Promoção da Igualdade (Cepi) do Legislativo estadual, deputado estadual Bira Corôa (PT-BA), o episódio é emblemático por envolver uma família de religiosas com histórico marcado pelo preconceito. “Jaciara descende de Mãe Gilda, do Abassá de Ogum, que sofreu e teve a saúde agravada a partir de agressões como essas, além de invasões ao seu templo e uso indevido de sua imagem em publicação ofensiva”, lembrou o parlamentar.
Mãe Gilda morreu de infarto no dia 21 de janeiro de 2000. Seus familiares, liderados por Jaciara, conseguiram reparação por danos morais na Justiça baiana, um marco na luta contra a intolerância religiosa. Na audiência de amanhã, o assessor da Cepi, Marcos Rezende, que é um dos coordenadores do Coletivo de Entidades Negras, acompanhará os depoimentos na Vara Criminal.
O que: audiência sobre caso de intolerância religiosa contra mãe.
Onde: 5ª Vara do Fórum Criminal de Salvador, na Av. Ulisses Guimarães, 3º andar.
Quando: dia 20/10 (quinta-feira), a partir das 8 horas.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Indústria Farmacêutica - o Horror continua!

Estamos dando veneno para as crianças

MÉDICA ATACA INDÚSTRIA POR ESTIMULAR USO DE REMÉDIOS PSIQUIÁTRICOS PARA PACIENTES INFANTIS

Jodi Hilton - 23.jan.2009/The New York Times”
A médica americana Marcia Angell, 72, ex-editora da revista especializada "NEJM" e autora do livro "A Verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos"

CLÁUDIA COLLUCCI
DE WASHINGTON

Primeira mulher a ocupar o cargo de editora-chefe no bicentenário "New England Journal of Medicine", a médica Marcia Angell já foi considerada pela revista "Time" uma das 25 personalidades mais influentes nos EUA.
Desde 2004, Angell, 72, é conhecida como a mulher que tirou o sossego da indústria farmacêutica e de muitos médicos e pesquisadores que trabalham na área.
Naquele ano, ela publicou a explosiva obra "A Verdade sobre os Laboratórios Farmacêuticos", que desnuda o mercado de medicamentos.
Usando da experiência de duas décadas de trabalho no "NEJM", ela conta, por exemplo, como os laboratórios se afastaram de sua missão original de descobrir e fabricar remédios úteis para se transformar em gigantescas máquinas de marketing.
Professora do Departamento de Medicina Social da Universidade Harvard, Angell é autora de vários artigos e livros que questionam a ética na prática e na pesquisa clínica. Tornou-se também uma crítica ferrenha do sistema de saúde americano.
Tem se dedicado a escrever artigos alertando sobre o excesso de prescrição de drogas antipsicóticas, especialmente entre crianças. "Estamos dando veneno para as pessoas mais vulneráveis da sociedade", diz ela.
Mãe de duas filhas e avó de gêmeos de oito meses, ela diz que recebe muitos convites para vir ao Brasil, mas se vê obrigada a recusá-los. "Não suporto a ideia de passar horas e horas dentro de um avião." A seguir, trechos da entrevista exclusiva que ela concedeu à Folha.


 

Folha - Houve alguma mudança no cenário dos conflitos de interesses entre médicos e indústria farmacêutica desde a publicação do seu livro?
Marcia Angell - Não. Os fatos continuam os mesmos. Talvez as pessoas estejam mais atentas. Há mais discussão, reportagens, livros, artigos acadêmicos sobre esses conflitos, então eles parecem estar mais sutis do que eram no passado. Mas é claro que as companhias farmacêuticas sempre encontram uma forma de manter o lucro.

E os pacientes? Algumas pesquisas mostram eles parecem não se importar muito com essas questões.
Em geral, os pacientes confiam cegamente nos seus médicos. Eles não querem ver esses problemas.
Além disso, as pessoas sempre acreditam que os medicamentos sejam muito mais eficazes do que eles realmente são. Até porque somente estudos positivos são projetados e publicados.
A mídia, os pacientes e mesmo muitos médicos acreditam no que esses estudos publicam. As pessoas creem que as drogas sejam mágicas. Para todas as doenças, para toda infelicidade, existe uma droga. A pessoa vai ao médico e o médico diz: "Você precisa perder peso, fazer mais exercícios". E a pessoa diz: "Eu prefiro o remédio".
E os médicos andam tão ocupados, as consultas são tão rápidas, que ele faz a prescrição. Os pacientes acham o médico sério, confiável, quando ele faz isso.
Pacientes têm de ser educados para o fato de que não existem soluções mágicas para os seus problemas. Drogas têm efeitos colaterais que, muitas vezes, são piores do que o problema de base.

A sra. tem escrito artigos sobre o excesso de prescrições na área da psiquiatria. Essa seria hoje uma das especialidades médicas mais conflituosas? 
Penso que sim. Há hoje um evidente abuso na prescrição de drogas psiquiátricas, especialmente para crianças.
Crianças que têm problemas de comportamento ou problemas familiares vão até o médico e saem de lá com diagnóstico de transtorno bipolar, ou TDAH [transtorno de déficit de atenção e hiperatividade]. E é claro que tem o dedo da indústria estimulando os médicos a fazer mais e mais diagnósticos.
Às vezes, a criança chega a usar quatro, seis drogas diferentes porque uma dá muitos efeitos colaterais, a outra não reduz os sintomas e outras as deixam ainda mais doentes.
Drogas antipsicóticas estão claramente associadas ao diabetes e à síndrome metabólica. Estamos dando veneno para as pessoas mais vulneráveis da sociedade.
Pessoas que acham que isso não é assim tão terrível sempre argumentam comigo que essas crianças, em geral, chegaram a um estado tão ruim que algo precisa ser feito. Mas isso não é argumento.

Hoje, fala-se muito em medicina personalizada. Na oncologia, há uma aposta de que drogas desenvolvidas para grupos específicos de pacientes serão uma arma eficaz no combate ao câncer. A sra. acredita nessa possibilidade?
Para mim, isso é só propaganda. Não faz o menor sentido uma companhia farmacêutica desenvolver uma droga para um pequeno número de pessoas. E que sistema de saúde aguentaria pagar preços tão altos?

Algumas escolas de medicina nos EUA começaram a cortar subsídios da indústria farmacêutica e de equipamentos na educação médica continuada. No Brasil, essa dependência é ainda muito forte. É preciso eliminar por completo esse vínculo ou há uma chance de conciliar esses interesses?
Deve ser completamente eliminado. Professores pagam para fazer cursos de educação continuada, advogados fazem o mesmo, por que os médicos não podem? A diferença é que você não precisa ir a um resort no Havaí para ter educação médica continuada. É preciso pensar em modelos de capacitação mais modestos. E, com a internet, todos os países, mesmo os pobres ou em desenvolvimento, podem fazer isso. A educação médica não pode ser financiada por quem tem interesse comercial no conteúdo dessa educação.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/saude/sd1810201101.htm

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