quarta-feira, 29 de junho de 2011

Pai Rivas publica mais um texto em seu Blog! Confiram!


Religiões afro-brasileiras- Tradição Oral e os níveis de realidade


MEDICINA E MEDITAÇÃO


(Extracto de uma palestra dada por Osho para a Associação Mé

dica na Índia)



(....) O homem é uma doença. As doenças chegam ao homem, mas o homem em si mesmo é também uma doença. Este é o seu problema e também a sua singularidade. Esta é a sua sorte e também o seu azar. Nenhum outro animal na Terra tem tais problemas, ansiedade, tensão, doenças, da maneira como o homem os tem. E esta condição em si mesma deu ao homem todo o seu crescimento, toda a sua evolução; porque "doença" significa que não se pode ser feliz onde se está, não se pode aceitar o que se é. Esta própria doença tornou-se o dinamismo do homem, a sua inquietude, mas, ao mesmo tempo, é também o seu infortúnio, porque ele está agitado, infeliz e a sofrer.

Nenhum outro animal excepto o homem tem a capacidade de se tornar louco. A menos que o homem leve algum animal à insanidade, este não irá enlouquecer por si próprio - não se torna neurótico. Os animais não estão loucos na selva, tornam-se loucos num circo! Na selva, a vida de um animal não é desvirtuada, mas torna-se pervertida num jardim zoológico. Nenhum animal se suicida; somente o homem se pode suicidar. 

Têm-se tentado dois métodos para entender e curar a doença chamada "homem". Um é a Medicina; o outro a Meditação. Ambos são tratamentos para a mesma doença. Será bom entender aqui que a medicina considera cada doença no homem separadamente - uma abordagem de análise das partes. A meditação considera o próprio homem como uma doença; considera a própria personalidade do homem como a doença. A medicina considera que as doenças vêm até ao homem e depois desaparecem, que são alguma coisa alheia ao homem. Mas lentamente esta diferença tem vindo a diminuir e a ciência médica começa a dizer também: "Não trate a doença, trate o paciente"... pois a doença não é mais que uma maneira de viver do paciente. (...).

A medicina trata as doenças muito superficialmente. A meditação trata o homem a partir do seu interior. (...). 

O homem é ambos ao mesmto tempo: corpo e alma, dois extremos do mesmo pólo, da mesma entidade. (...) A parte da alma que está ao alcance dos nossos sentidos é o corpo, e aquela parte do corpo que está para além do alcance dos sentidos, é a alma. (...).

A ideia de Confúcio é de grande importância: ele diz que qualquer pessoa deveria pagar ao médico um salário mensal para o manter saudável Se ele permanece saudável o mês inteiro, então tem de pagar uma certa quantia ao médico. Se ficar doente, então, consequentemente, o salário será cortado. (...) Durante muitos séculos, enquanto a influência de Confúcio durou, a China deve ter sido o país mais saudável da Terra.

OSHO, in "O Livro da Cura - Da Medicação à Meditação" (1994)




Obs: Confúcio ficou conhecido por ter estabelecido regras rígidas de moral e conduta, que foram inclusive utilizadas na Revolução Comunista para nivelar a população tão grande e heterogênea. Considerado rígido, é um retrocesso às idéias de Lao Tsé. No entanto, suas idéias são bastante interessantes, e vale a pena conhecê-lo.
A Meditação é um dos pilares da Medicina Tradicional Chinesa, que tem pelo menos 5000 anos de história. Portanto, Confúcio reproduzia um conhecimento oral ancestral, já que o livro mais antigo conhecido de Medicina Chinesa tem pelo menos 4000 anos, e Confúcio teria nascido apenas 2300 anos depois.
Obaositala

terça-feira, 28 de junho de 2011

Eventos discutem preconceito, tolerância e holocausto

Publicado em 26/06/2011 pelo(a) Wiki Repórter Mauro Wainstock, Rio de Janeiro - RJ


Deu no Jornal ALEF, da comunidade judaica: na terça-feira (dia 28 de junho) acontecerá cerimônia e coquetel do “I Prêmio Rio Sem Preconceito”, no Teatro Oi Casa Grande - iniciativa da Prefeitura do Rio e da Coordenadoria Especial da Diversidade Sexual. A apresentação será de Christiane Torloni e Toni Garrido.

No mesmo dia, o projeto de extensão "Tolerância Religiosa e cidadania" promove ciclo de palestras “Tolerância Religiosa e Diversidade: políticas públicas de combate à intolerância religiosa”, na Universidade Federal Fluminense (UFF), em Volta Redonda. Entre os palestrantes: Carlos Alberto Caó de Oliveira, autor da Lei 7.716/89 que criminalizou a prática de atos de discriminação religiosa; Edson Santos, ex-ministro da Secretária Especial de Políticas de Promoção à Igualdade Racial, e Henrique Pessoa, representante da Polícia Civil na Comissão de Combate à Intolerância Religiosa.

Já a Jornada Municipal sobre “Holocausto e Intolerância: Como estudar e ensinar em sala de aula”, acontecerá na quarta-feira (dia 29 de junho), na UERJ (Rio de Janeiro). A iniciativa, da B`nai B´rith, conta com a organização acadêmica do Programa de Estudos Judaicos da UERJ, coordenado pelas profas. Helena Lewin e Silvia Lerner, e apoio da secretaria Municipal da Educação do Rio de Janeiro, que tem á frente Claudia Costin. Esta é terceira edição do evento, que reúne centenas de educadores.

O Jornal ALEF (http://www.jornalalef.com.br/) publica notícias sobre Israel e o mundo judaico. Criado em 1995, possui 70.000 assinantes em 40 países e vem colecionando prêmios dentro e fora da comunidade judaica. É, de acordo com manifestação expressa da ONU, “fonte de referência séria para veículos nacionais e internacionais”.

Inscrições abertas para o IV Seminário Afro-Alagoano

Está previsto para o próximo dia 07 de julho, às 9 horas as comemorações do Dia Nacional de Luta Contra o Racismo, ato interreligioso, no alto da Serra da Barriga/Parque Memorial Quilombo dos Palmares/AL. As atividades tem como objetivo prestar homenagem a luta e memória do indicado ao prêmio Nobel da Paz/2010, dramaturgo, poeta, e acima de tudo defensor ferrenho da igualdade racial,e, um dos maiores símbolos da luta contra o preconceito, Abdias Nascimento.

Conceituado intelectuais do Movimento Negro Brasileiro, doutor honoris causa pelas Universidades de Brasília, do Rio de Janeiro, da Bahia, professor na Universidade de Nova York”, Abdias Nascimento exerceu os cargos de deputado federal e senador da República.

O ato interreligioso contará com a presença de Elisa Larkin, esposa de Abdias e coordenadora do IPEAFRO, do presidente da Fundação Cultural Palmares, Elói Ferreira de Araújo, Leonor Franco de Araújo, Secretaria de Promoção e Políticas da Igualdade Racial, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras, Rurais e Quilombolas, Patrícia Mourão, coordenadora do Instituto Magna Mater e representantes do governo de Pernambuco.

O Seminário também evidencia o dia 7 de julho como Dia Nacional de Luta Contra o Racismo, instituído em 1978.

Organizado pelo Projeto Raízes de Áfricas em parceria com o IPEAFRO, prefeitura de União dos Palmares (Secretaria de Turismo), Federação das Indústrias do Estado de Alagoas, Secretaria de Estado, da Mulher, da Cidadania e dos Direitos Humanos, Instituto Magna Mater, Secretaria de Cultura de Maceió, Escritório da Fundação Palmares, em Alagoas, Polícia Civil, Polícia Militar, Sindicato dos Jornalistas do estado de Alagoas e parcerias individuais de professoras da UNEAL e UFAL.

As inscrições deverão ser feitas através do e-mail: raizesdeafricas@gmail.com

Os custos com despesas de transporte até o município de União dos Palmares e alimentação são de responsabilidade de cada participante.

Outras informações: (82)8827-3656/3231-4201.

Sob o tema “Igualdade Racial é Para Valer?”, a programação do Ìgbà- IV Seminário Afro-Alagoano prossegue dia 08. Confira cronograma completo do evento abaixo:

Dia: 07 de julho- (Quinta-feira)- Dia Nacional de Luta Contra o Racismo

Local: Parque Memorial Quilombo dos Palmares- Serra da Barriga

09h00- Saudação receptiva da Orquestra de Berimbaus de Alagoas

Homenagem Cívica- Execução do hino brasileiro pela Banda da Polícia Militar

Rito do Ato interreligioso (em elaboração)

Roda de homenagens Luta e Memória Negra

Abdias Nascimento e o Histórico 07 de julho de 1978

Elisa Larkin Nascimento Fundação Cultural Palmares

SEPPIR

Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras, Rurais e

Quilombolas

12h00- Ajeum

15h00- Pauta de Construção para o 13 de novembro

Discussão e proposições para o projeto de translado das cinzas de Abdias

Nascimento para Serra da Barriga em 13 de novembro.

Coordenação de Elisa Larkin Nascimento, segmentos alagoanos participação do presidente da Fundação Cultural Palmares, Eloi Ferreira, Leonor Franco de Araújo da SEPPIR, SECOMT, Instituto Magna Mater, Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras, Rurais e Quilombolas, dentre outras entidades.


Dia: 08 de julho (Sexta-feira)Local: Auditório da Prefeitura de União dos Palmares

08h00- Entrega de material/Acolhimento

09h00- Composição de mesa

Apresentação Afro-artística

Orquestra de Berimbau do estado de Alagoas

9h30-Exposição:

“O Programa Brasil Quilombola como política promotora do desenvolvimento sustentável”

Expositora: Leonor Franco de Araújo

Secretaria de Políticas para as Comunidades Tradicionais/Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

10h20: Mesa de Conversas

A Lei nº 10.639/03 como fruto da luta anti-racista do Movimento Negro

Profª doutora Júlia Sara Accioly Quirino- Universidade Estadual de Alagoas

Profª doutora Nanci Helena Rebouças Franco- Universidade Federal de Alagoas (UFAL)

11h20- Debate ampliado

Mediação:

12h00- Pausa para o almoço

14h00-Exposição de Trabalho de Pesquisa de Campo:

Apresentação do Diagnóstico para o Desenvolvimento Sustentável dos Remanescentes Quilombolas, em Alagoas.

Expoente: Kátia Ribeiro Born- Secretária de Estado da Mulher da Cidadania e dos Direitos Humanos.

14h30- Debate

Mediação:

15h30- Informação para formação:

Projeto de Turismo Étnico nas Comunidades Tradicionais de Terreiros e

Quilombolas/Governo do Estado de Pernambuco.

Expositores- Representantes do governo do estado de Pernambuco

15h20- Roda de Conversa

Discussão do diagnóstico sobre a população quilombola de Alagoas e a interlocução com o Programa Brasil Quilombola (espaço de diálogo com as representações de todas as comunidades de remanescente quilombos do estado de Alagoas)

16h00- Encerramento

http://www.alagoas24horas.com.br/conteudo/?vCod=106930

Pai Rivas publica mais um texto em seu Blog! Confiram!

http://sacerdotemedico.blogspot.com/2011/06/toque-da-jurema-cura-em-varias.html

domingo, 26 de junho de 2011

Sabe com quem você está falando????

Um vídeo sobre a arrogância de alguns simples mortais. "O homem é um cadáver adiado" Fernando Pessoa. Mário Sérgio Cortella - educador, filósofo e palestrante

sábado, 25 de junho de 2011

Narciso no país das maravilhas

A maioria dos objetos são drogas: satisfazem um anseio parecido com o do toxicômano


ESSE É o subtítulo de um estudo publicado recentemente (2006) pela Routledge, “The Self Psychology of Addiction and its Treatment” (a psicologia-do-self da adicção e de seu tratamento). Os autores, Richard Ulman e Harry Paul, são psicanalistas (da psicologia do self, a escola de Heinz Kohut), terapeutas de toxicômanos e eles mesmos drogadictos em remissão.
O estudo, embora estritamente clínico, propõe uma visão da toxicomania que, ao meu ver, vale como interpretação geral da modernidade. Explico.
     Na laboriosa tentativa de encontrar um lugar no mundo, cada um de nós se alimenta de duas fontes: 
1) as aspirações, as normas e os brasões transmitidos por nossos ascendentes, coisas que podem nos dar a sensação de que temos uma missão na vida; 
2) o amor, mais ou menos incondicional, que nos acolhe e agasalha nos primórdios de nossa existência permitindo, aliás, que ela vingue.
     Em suma: legados paternos e cuidados maternos (é óbvio que qualquer um pode fazer função de pai ou de mãe).
     Ora, na modernidade, bebemos sobretudo na segunda fonte. Por isso, somos todos narcisos, ou seja, mais preocupados em sermos gostados, amados e admirados pelos outros do que com deveres e princípios.
     Problema: em geral, o modelo do amor graças ao qual seríamos “alguém” (que sempre significa “alguém muito especial”) é o momento em que, pendurados ao peito materno, ou melhor, com a mãe pendurada aos nossos lábios, estaríamos ao centro de um mundo controlado por nós: basta chamar, chorar etc. para que ela apareça e nos faça felizes.
     Logicamente, com esse sonho narcisista encravado no nosso âmago, torna-se difícil lidar com separações, frustrações etc. E, infelizmente, o mundo é um pouco mais cruel do que a mãe-padrão e sempre muito mais cruel do que a mãe mítica e escrava que gostaríamos de ter tido.
     Como aprendemos a encarar perdas, danos e fracassos?
     Quem lia as tiras de Charlie Brown, de Charles Schultz, deve se lembrar do cobertor que Linus carregava sempre consigo: quando as coisas não iam bem, ele agarrava o cobertor e chupava o dedo; era seu jeito de reencontrar, momentaneamente, a felicidade perdida. O cobertor de Linus é um exemplo perfeito do que D. W. Winnicott, um grande psicanalista, chamou de “objetos transicionais”: são objetos inanimados, mas que representam um amor do qual não conseguimos ainda nos separar.
     Eles funcionam como o lápis entre os dentes do fumante que quer parar de fumar: não substitui o cigarro, mas, na luta para deixar o vício, oferece conforto nas crises de abstinência. Ou como a mamadeira da noite quando o desmame acabou há tempos, mas ainda bate, digamos assim, uma “nostalgia amorosa”.
     À força de brincar com cobertores e chupetas, a gente deveria aprender a:
1) dispensar cobertores e chupetas,
2) lidar com a precariedade da presença e do amor dos outros. 

     Mas não é tão simples assim, até porque, nessa tarefa, o mundo não nos ajuda.       Narciso vive no país das maravilhas, diante de uma imensa vitrina de objetos que nos prometem o seguinte: ao alcançá-los, ganharemos o amor, a admiração e (por que não) a inveja de todos. E alcançá-los é fácil -basta comprar: chocolate, relógios, charutos ou pacotes de férias.
     Quem precisa de amores incertos com pessoas de verdade ou de objetos “transicionais” que as representem? Os objetos do consumo são a melhor escolha; sobre eles temos um controle absoluto.
     As drogas propriamente ditas oferecem algumas vantagens marginais: são baratas e, graças à crise de abstinência, garantem a ilusão de dominar perfeitamente a alternância de insatisfação e contentamento. Mas, na verdade, para Narciso no país das maravilhas, qualquer objeto de consumo serve.
     Poderia ser o melhor dos mundos, se não fosse por dois detalhes. 
1) Se hesito entre um carro e uma amizade ou um amor, é bem provável que minha experiência afetiva seja miserável; 
2) Se espero a felicidade dos objetos, desaprendo a agir e a desejar. 
     No próximo domingo é a primeira fase da Fuvest, e passei o ano dormindo no cursinho? Não é o caso de me desesperar, vou para o shopping comprar um sapato simplesmente “divino”.
     
Agora, falando sério, por que se opor à liberação das drogas? Afinal, a maioria dos objetos em venda livre satisfaz, no fundo, um anseio parecido com o do toxicômano. Relaxe e goze…



http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2211200725.htm

Futebol: Mano veta pastor na concentração

COPA AMÉRICAPresença de religiosos e manifestações de crença, liberadas na era Dunga, agora são proibidas




MARTÍN FERNANDEZ
SÉRGIO RANGEL

ENVIADOS ESPECIAIS A LOS CARDALES 

O técnico Mano Menezes proibiu a presença de líderes religiosos na concentração da seleção na Copa América.
Durante a era Dunga (2006-2010), pastores tinham livre acesso aos bastidores do time nacional.
No Mundial da África do Sul, em 2010, o pastor Anselmo Alves frequentou o hotel da seleção para dar ajuda espiritual aos atletas de Dunga.
Nas folgas, como hoje, os jogadores têm liberdade para encontros religiosos.
A CBF também monitora o fervor religioso dos atletas.
Antes da estreia do Brasil -no dia 3 de julho, contra a Venezuela-, a entidade vai alertar os jogadores para evitar comemorações com mensagens religiosas.
Jogadores festejando gols com frases religiosas em camisetas e integrantes da comissão técnica comandando orações no centro do campo depois de conquistas de títulos eram hábito na seleção.
A Fifa já censurou a CBF por causa das manifestações religiosas dos atletas dentro de campo. Depois da conquista da Copa das Confederações de 2009, a federação pediu moderação na atitude dos atletas mais fiéis.
Na época, os jogadores da seleção fizeram uma roda no centro do campo e rezaram.
A Fifa informou que não puniria os atletas na ocasião porque a manifestação ocorreu depois do apito final.
Já no Mundial, a entidade comunicou que enviaria representante para monitorar as seleções, a fim de evitar mensagens religiosas. A Fifa não gosta de misturar futebol com política ou religião.
Depois da Copa do Mundo, a CBF escanteou a ala religiosa. Na comissão técnica e na administração da seleção, ela deixou o poder.
Na África do Sul, o auxiliar técnico Jorginho foi apontado como o responsável por aparelhar a delegação brasileira de evangélicos. Ele foi o responsável pela contratação de Marcelo Cabo para ser "espião" de Dunga na Copa.
Desconhecido no futebol, Cabo frequentava com Jorginho a Igreja Congregacional da Barra da Tijuca. O auxiliar técnico influiu até na escolha dos seguranças da seleção. Um deles foi colocado no posto por ser evangélico. 
Dentro de campo, a força dos religiosos é menor e as manifestações públicas também são. O grupo perdeu força com as saídas de Kaká e Felipe Mello, que faziam questão de sempre expressar a fé nas entrevistas coletivas.
No ano passado, atletas do Santos -incluindo Ganso, Robinho e Neymar, que estão na seleção- se recusaram a visitar um centro espírita. Argumentaram "motivos religiosos e outras coisas". Dias depois, pediram desculpas e fizeram uma visita ao local.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk2506201102.htm




Obs: até que enfim, o bom-senso venceu! Somos um país plural, e não podemos admitir  que a maioria seja desprezada. Todos têm direito à religião, mas publicamente devem respeitar uns aos outros. Imagino que na seleção haja aqueles que não são neopentecostais... e aí???

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pai Rivas publica mais um texto em seu Blog! Confiram!

Religiões Afro-brasileiras: Salve, Salve a Jurema!

Por uma única pessoa plural - Sociedade Inclusiva - Quem Cabe no Seu TODOS?

Nilton Bonder
Não existe uma pessoa plural que inclua a todos. A primeira pessoa do plural - nós -- poderia ter essa característica inclusiva, não fosse pela percepção de uma da segunda pessoa do plural - vós -- que invariavelmente constrói uma terceira pessoa -- eles. No entanto, a lógica importada da individualidade, onde um "eu" depende de um "tu" e produz um "ele", não é a única possível para o coletivo. O "nós" que não inclui todos não é uma necessidade existencial como o "eu" que não engloba o "tu". Portanto, é teoricamente possível sonhar com uma primeira pessoa do plural que inclua todas as pessoas - um "nós" que é também "vós" e "eles". 
Tão simples como mudar o conceito "plural" de nossa civilização é o desafio que Claudia Werneck propõe em seu livro Sociedade Inclusiva. Seu poder maior é nos fazer refletir sobre o conceito de "Todos". Quem incluiríamos em nosso "todos"? Não o "todos" do discurso e da moral, mas o "todos" de pele, um "todos" que nos venha natural. Não o "todos de mentirinha", como explica a autora, que é um "todos" da curiosidade e da diplomacia, mas um "todos" que é fato e crença.
Sua preocupação primeira é desmascarar, com a gentileza que lhe é um dom, a diversidade de significados da palavra "todos". Não só os indivíduos falam de "todos" que compreendem as mais diferentes noções, como as próprias instituições fazem uso de distintos "todos". Sociedade Inclusiva propõe o enxergar radical de que se "todos" não incluir "tudo" então não é "todos".
O livro se assemelha a um grande diálogo entre o ser humano e sua consciência. Levanta perguntas e responde, confronta lucidez e interesses, aponta saídas e reconhece limites. A primeira sensação é de que vamos nos defrontar com um texto de crítica e reprovação.
No entanto, o texto é, acima de tudo, humano. Ao mesmo tempo em que expõe a crueldade de nossas exclusões, tem o grande mérito de se manter voltado mais ao grito e ao fazer conhecer do que ao julgamento. Por isso sua leitura é convidativa. O leitor se enxerga prisioneiro de seus "todos" parciais mas não sai de cada capítulo com um sermão e sim com um convite à ação e ao desafio do comprometimento. De carrascos executando as exclusões de todo o dia, Claudia Werneck faz do leitor um potencial parceiro na tarefa de incluir. Seu segredo, sua mensagem maior, é que um "todos" que inclua todos, não seja uma utopia, mas percebido como a única possível estratégia.
O beneficiário maior da inclusão não é o incluído, como pensaríamos, mas quem quer que amplie o seu "todos". O custo de um "todos" composto de tão poucos é a razão da dívida que a sociedade está pagando. Seu custo é menos alegria e menos bem estar para todos-tudo. Há porém um ar de novidade nas denúncias de Claudia. Esta novidade não está nas informações prestadas, mas em sua abordagem doce e afirmativa, misto de desabafo e maturidade: "Dá para ser feliz num país com tanta exclusão?". Quando imaginaríamos na angustia da pergunta sua própria resposta, a autora surpreende: "Dá!".
Dá para ser feliz em meio a qualquer situação desde que se busque no momento, no agora, a incondicionalidade da inclusão.
A verdade é que quando nos damos conta da dimensão da dívida social, seja no plano nacional ou mundial, nos tornamos prisioneiros da esterilidade de acusações, de denúncias e até mesmo de reflexões. A originalidade de Sociedade Inclusiva é não ser uma teoria sobre o humano mas, acima de tudo, uma tentativa de proposta, de estratégia.
O impensável e o inconcebível têm mais serventia como uma estratégia do que como uma utopia. Incluir não é o sonho, mas incluir é o método para alcançar um "todos" que seja pessoa única do plural. Por isso identificar o menos incluído de todos nos "todos", se faz importante como estratégia e como ação na busca de um "todos" incondicional. E a autora aponta no "deficiente físico" um "outro" que é singular, que é chave, pois é um "outro" de todos. Não importa quem sejam os seus "todos", o "deficiente" é o excluído "coringa". Ele é o excluído até dos excluídos. Categoria daquele que é definido por suas deficiências e não de suas suficiências, não há "todos" que os incluam a não ser o "todos-tudo". São, portanto, nosso grande patrimônio. Num mundo onde o sonho é produzir o ser humano perfeito fazendo uso da engenharia genética, o "deficiente" é messiânico. É ele que pode nos ensinar a suportar a diversidade e os limites; é ele que pode nos afastar do "todos-eu" e nos aproximar do "todos-tudo".
Sociedade Inclusiva não fala de escolas inclusivas, de trabalho inclusivo, de medicina inclusiva, de cidadania inclusiva ou de natureza inclusiva como um sonho. Fala de tudo isso como uma estratégia. Uma escola inclusiva, por exemplo, não é uma meta a ser alcançada no futuro. Mas é hoje, no desafio do presente, um instrumento do futuro. A diversidade na escola não é um entrave à educação mas seu mais importante instrumento.
A homogeneidade é empobrecedora como regra: intelectualmente ela emburrece, espiritualmente ela corrompe, emocionalmente ela aliena e fisicamente ela esteriliza.
Nossa dívida para com nosso "todos" já tão minguado, se contabiliza na pobreza e na falta de sentido que caracterizam nosso mundo de exclusão. Um mundo sem surpresa, um mundo de controle e, sem dúvida, um mundo de menos vida e menos humano. O ato de fazer entrar outros em nosso "todos" é um ato libertador e, em si, a única tarefa da sociedade, da educação e da religião.
O filósofo Martin Buber construiu sua obra mostrando que a questão do "singular" está nas relações "eu-tu" e relações "eu-isto". Quando não há um "eu" de verdade e o reconhecimento de um "tu" de verdade, e vice-versa, não há diálogo e encontro. Sociedade Inclusiva, traz esta questão para o "plural". No entanto, no plural, um "nós" que seja verdadeiro, inclui o "vós" e o "eles". É possível no plural, ao contrário do singular, uma primeira pessoa absoluta que venha a produzir encontro e sentido.
A sensação de estar lendo um livro de "auto-ajuda" quando seu conteúdo é de Ação Social é, com certeza, mais do que um estilo em Sociedade Inclusiva. Parece conter em sua forma um importante ensinamento: a solidariedade e a cidadania, através da síntese da inclusão, são as formas mais profundas e duradouras de "auto-ajuda". Incluir o outro, nos inclui ainda mais. Permite que façamos parte de um "todos" que vale a pena, um "todos" que não é um vazio numérico - um singular fingindo-se de plural. Porque há apenas duas formas matemáticas do plural virar singular: ou na plenitude de D'us ou no vazio do egoísmo.
Quem cabe em seu "todos"?
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*Nilton Bonder, nasceu em Porto Alegre, em 27/12/57. Ordenou-se Rabino, pelo Jewish Theological Seminary, N.Y, em 1987. Escreveu 14 livros vários deles best-sellers no mercado editorial brasileiro e estrangeiro. (http://www.cjb.org.br/)

Carta aberta aos bispos católicos de todo o mundo *.

O teólogo Hans Küng avalia o pontificado de Bento XVI como o das oportunidades perdidas. No quinto aniversário de sua chegada ao Vaticano, pede ao clero que reaja à crise da Igreja, tornada ainda mais aguda pelos abusos a menores:

Hans Küng

Estimados bispos.

     Joseph Ratzinger, agora Bento XVI, e eu fomos entre 1962-1965 os dois teólogos mais jovens do Concílio. Agora, ambos somos os mais idosos e os únicos que continuam em plena atividade. Sempre entendi meu trabalho teológico como um serviço à Igreja. Por isso, preocupado por esta nossa Igreja, mergulhada na mais profunda crise de confiança desde a Reforma, vos dirijo uma carta aberta no quinto aniversário do acesso ao pontificado de Bento XVI. Não tenho outros meios de chegar até vós.
     Apreciei muito que o Papa Bento, logo depois de sua eleição, me convidasse, seu crítico, para uma conversa de quatro horas, que decorreu amistosamente. Naquele momento isto me fez conceber a esperança de que Joseph Ratzinger, meu antigo colega na Universidade de Tubinga, tivesse encontrado, apesar de tudo, o caminho para maior renovação da Igreja e o entendimento ecumênico no espírito do Concílio Vaticano II.
     Minhas esperanças – e a de tantos católicos e católicas comprometidos – desgraçadamente não se cumpriram, coisa que fiz saber ao Papa Bento por diversas formas em nossa correspondência. Sem qualquer dúvida, ele cumpriu conscienciosamente suas obrigações papais cotidianas e nos ofereceu três úteis encíclicas sobre a fé, a esperança e o amor. Mas no tocante aos grandes desafios de nosso tempo, seu pontificado se apresenta cada vez mais como o das oportunidades perdidas, não como o das ocasiões aproveitadas:
- Desperdiçou-se a oportunidade de um entendimento perdurável com os judeus: o Papa reintroduz a súplica pré-conciliar em que se pede pela iluminação dos judeus e readmite na Igreja a bispos cismáticos, notoriamente anti-semitas, implementa a beatificação de Pio XII e só leva a sério o judaísmo como raiz histórica do cristianismo, não como uma comunidade de fé que perdura e tem um caminho próprio para a salvação. Os judeus de todo o mundo indignaram-se com o pregador pontifício na liturgia papal da sexta-feira santa em que comparou as críticas ao Papa com a perseguição anti-semita.
- Desperdiçou-se a oportunidade de um diálogo baseado em confiança com os muçulmanos: é sintomático o discurso de Bento em Ratisbona, no qual, mal assessorado, caricaturou o Islam como a religião da violência e da desumanidade, atraindo assim a duradoura desconfiança dos muçulmanos.
- Desperdiçou-se a oportunidade da reconciliação com os povos nativos colonizados na América Latina: o Papa afirma com toda a seriedade que estes “anelavam” pela religião de seus conquistadores europeus.
- Desperdiçou-se a oportunidade de ajudar os povos africanos na luta contra a superpopulação, aprovando os métodos anticoncepcionais e na luta contra a AIDS, admitindo o uso de preservativos.
- Desperdiçou-se a oportunidade de concluir a paz com as ciências modernas: reconhecendo inequivocamente a teoria da evolução e aprovando de forma diferenciada novos campos de pesquisa, como o das células-tronco.
- Desperdiçou-se a oportunidade de que também o Vaticano torne definitivamente o espírito do Concílio Vaticano II a bússola da Igreja Católica, impulsionando as suas reformas.
Este último ponto, estimados bispos, é especialmente grave. Este Papa frequentemente relativiza os textos conciliares e os interpreta de forma retrógrada contra o espírito dos padres do concilio. Ele se situa mesmo expressamente contra o Concílio Ecumênico, que, segundo o direito canônico, representa a autoridade suprema da Igreja Católica.
- Ele readmitiu na Igreja, incondicionalmente, os bispos da Irmandade Sacerdotal São Pio X, ordenados ilegalmente fora da Igreja Católica e que rechaçam o concílio em aspectos centrais.
- Apóia por todos os meios a missa tridentina medieval e ele mesmo celebra ocasionalmente a eucaristia em latim e de costas para os fiéis.
- Não implementa de fato o entendimento com a Igreja Anglicana, firmado em documentos ecumênicos oficiais (ARCIC), mas pretende atrair à Igreja católico-romana sacerdotes anglicanos casados, deixando de exigir deles o voto do celibato.
- Reforçou os poderes eclesiais contrários ao concílio, com a nomeação de altos cargos anti-conciliares (na Secretaria de Estado e na Congregação para a Liturgia, entre outros) e bispos reacionários em todo o mundo.
     O Papa Bento XVI parece afastar-se cada vez mais da grande maioria do povo da Igreja, que de todas as formas se ocupa cada vez menos de Roma e que, no melhor dos casos, ainda se identifica com sua paróquia e seus bispos locais.
     Sei que alguns de vós padeceis pelo fato de que o Papa se veja plenamente respaldado pela cúria romana em sua política anti-conciliar. Esta busca sufocar a crítica no episcopado e na Igreja e desacreditar aos críticos por todos os meios. Com renovada exibição de pompa barroca e manifestações teatrais diante dos meios de comunicação, Roma trata de exibir uma Igreja forte, com um “representante de Cristo” absolutista, que reúne em sua mão os poderes legislativo, executivo e judiciário.
     No entanto, a política de Bento fracassou. Todas as suas aparições públicas, viagens e documentos não são capazes de atrair em direção à doutrina romana a postura da maioria dos católicos em questões controvertidas, especialmente em matéria de moral sexual. Nem mesmo os encontros papais com a juventude, aos quais assistem especialmente os grupos conservadores carismáticos, podem frear os abandonos da Igreja ou despertar mais vocações sacerdotais.
     Precisamente vós, como bispos, o lamentareis em sua maior profundidade: desde o Concílio, dezenas de milhares de bispos abandonaram sua vocação, especialmente devido à lei do celibato. A renovação sacerdotal, assim como a de membros das ordens religiosas, irmãos e irmãs leigos, caiu tanto quantitativa como qualitativamente. A resignação e a frustração se estendem no clero, precisamente entre os membros mais ativos da Igreja. Muitos se sentem abandonados em suas necessidades e sofrem pela Igreja.
     Pode ser que este seja o caso em muitas de vossas dioceses: cada vez mais igrejas, seminários e paróquias vazios. Em alguns países, devido à carência de sacerdotes, se finge uma reforma eclesial e as paróquias se refundem, frequentemente contra a vontade, constituindo gigantescas “unidades pastorais” nas quais os escassos sacerdotes estão completamente extenuados.
     E agora, às muitas tendências de crises, adicionam-se ainda escândalos que clamam ao céu, especialmente todo o abuso de milhares de meninos e jovens por clérigos – nos Estados Unidos, na Irlanda, na Alemanha *** – tudo isto ligado a uma crise de liderança e de confiança sem precedentes.
     Não se pode abafar o fato de que o sistema de ocultação posto em vigor em todo o mundo perante os delitos sexuais dos clérigos foi dirigido pela Congregação para a Fé, de Roma, do Cardeal Ratzinger, (1981-2005), na qual já sob João Paulo II se compilaram os casos sob o mais estrito segredo.
     Ainda em 18 de maio de 2001, Ratzinger enviava um documento solene sobre os delitos mais graves (Epistula de delitos gravioribus) a todos os bispos. Nela, os casos de abusos se localizavam sob o secretum pontificium, cuja transgressão pode atrair severas penas canônicas. Com razão, pois, estão muitos que exigem ao então prefeito**** e agora Papa um mea culpa pessoal. Na Semana Santa, no entanto, ele perdeu a oportunidade de o fazer. Em vez disso, o Domingo de Ramos levou o decano do colégio cardinalício a levantar urbi et orbi o testemunho de sua inocência.
     As consequências de todos estes escândalos para a reputação da Igreja católica são devastadoras. Isto é algo que também confirmam já dignatários de alto nível. Muitos curas e educadores de jovens sem culpa e extremamente comprometidos padecem sob uma suspeita geral.
     Vós, estimados bispos, deveis levantar para vós mesmos a pergunta de como haverão de ser no futuro as coisas em nossa Igreja e em vossas dioceses. Claro, não queria esboçar para vós um programa de reforma. Isto eu já o disse em repetidas ocasiões, antes e depois do Concílio. Só queria colocar diante de vós seis propostas que – é minha convicção – serão respaldadas por milhões de católicos que carecem de voz:
1. Não calar: diante de tantas e tão graves irregularidades, os silêncio vos fará cúmplices. Ali onde considereis que determinadas leis, disposições e medidas são contraproducentes, deveríeis, pelo contrário, expressá-lo com a maior franqueza. Não envieis a Roma declaração de submissão, mas exigências de reforma!
2. Empreender reformas: na Igreja e no episcopado são muitos os que se queixam de Roma sem que eles mesmos façam algo. Mas hoje, quando em uma diocese ou paróquia não se frequenta a missa, o trabalho pastoral é ineficaz, a abertura às necessidades do mundo limitada, ou a cooperação mínima, não se pode descarregar isto sobre Roma, sem mais nem menos. Bispo, sacerdote ou leigo, todos e cada um, deverão fazer alguma coisa para a renovação da Igreja em seu âmbito vital, seja maior ou menor. Muitas coisas grandes nas paróquias e em toda a Igreja foram postas em ação graças à iniciativa de indivíduos ou de pequenos grupos. Como bispos deveis apoiar e alentar estas iniciativas e atender depressa as queixas justificadas dos fiéis.
3. Atuar colegiadamente: após um vivo debate e contra a sustentada oposição da cúria, o Concílio decretou a colegialidade do Papa e dos bispos, ao estilo dos Atos dos Apóstolos, onde nem Pedro agia sem o colégio apostólico. No entanto, na época pós-conciliar, os papas e a cúria ignoraram esta decisão central do Concílio.
Desde que o Papa Paulo VI, dois anos depois do Concilio, publicou uma encíclica para a defesa da discutida lei do celibato, a doutrina e a política papal voltaram a ser exercidas conforme o estilo antigo, não colegiado. Até mesmo na liturgia o Papa se apresenta como autocrata, frente ao qual os bispos, de que gosta de estar rodeado, aparecem como comparsas sem voz nem voto.
Não deveríeis, portanto, estimados bispos, atuar apenas individualmente, mas em comunidade com os demais bispos, com os sacerdotes e com o povo da Igreja, homens e mulheres.
4. A obediência ilimitada só se deve a Deus: todos vós, na solene consagração episcopal, prestastes perante o Papa um voto de obediência ilimitada. Sabeis, porém, igualmente que jamais se deve obediência ilimitada a uma autoridade humana, somente a Deus. Portanto, vosso voto não vos impede dizer a verdade sobre a atual crise da Igreja, de vossa diocese e de vossos países. Seguindo em tudo o exemplo do apóstolo Paulo, que confrontou a Pedro e teve que fazê-lo “face a face, porque se tornara repreensível” (Gl 2.11).
Uma pressão sobre as autoridades de Roma no espírito da irmandade cristã pode ser legítima quando estas não concordem com o espírito do Evangelho e sua mensagem. A utilização da linguagem vernácula na liturgia, a modificação das disposições sobre os casamentos mistos, a afirmação da tolerância, os direitos humanos, o entendimento ecumênico e tantas outras coisas só foram alcançados pela tenaz pressão vinda da base.
5. Aspirar a soluções regionais: é frequente que o Vaticano faça ouvidos surdos a demandas justificadas do episcopado, de sacerdotes e dos leigos. Com tanto maior razão se deve aspirar a conseguir soluções regionais de forma inteligente.
Um problema especialmente espinhoso, como sabeis, é a lei do celibato, proveniente da Idade Média e que com razão está sendo questionada em todo o mundo, precisamente no contexto dos escândalos por abusos sexuais. Uma modificação contra a vontade de Roma parece praticamente impossível. No entanto, isto não nos condena à passividade: um sacerdote que depois de madura reflexão pense em casar-se não tem que renunciar automaticamente a seu estado se o bispo e a comunidade o apóiam. Algumas conferências episcopais poderiam alcançar uma solução regional, ainda que fosse melhor aspirar a uma solução para a Igreja em seu conjunto. Portanto:
6. Exigir um concílio: assim como foi preciso um concílio ecumênico para a realização da reforma litúrgica, a liberdade de religião, o ecumenismo e o diálogo interreligioso, o mesmo acontece para se solucionar o problema da reforma, que foi interrompida agora de forma dramática. O concilio reformador de Constança no século anterior à Reforma (protestante) aprovou a celebração de concílios a cada cinco anos, disposição que, no entanto, foi burlada pela cúria de Roma. Seguramente esta fará o que puder para impedir um concílio do qual possa temer uma limitação de seu poder. Sobre todos vós está a responsabilidade de impor um concílio ou pelo menos um sínodo episcopal representativo.
O apelo que vos dirijo diante desta Igreja em crise, estimados bispos, é que ponhais na balança a autoridade episcopal, revalorizada pelo Concílio. Nesta situação de necessidade, os olhos do mundo estão postos sobre vós. Inúmeras pessoas perderam a confiança na Igreja católica. Para recupera-la só será necessário abordar de forma franca e honrada os problemas e respectivas reformas. Peço-vos, com todo o respeito, que contribuais naquilo que lhes cabe, sempre que possível em cooperação com os demais bispos. Mas, se necessário, também solitariamente, com “intrepidez” apostólica (Atos 4.29-31). Dai sinais de esperança a vossos fieis e uma perspectiva a nossa Igreja.
            Saúda-vos, na comunhão da fé cristã, Hans Küng.


Traduzido do alemão para o espanhol por Jesús Alborés Rey; traduzido do espanhol para o português por Sérgio Marcus Pinto Lopes. Revisão da tradução aqui publicada: Augusto Araujo
** Hans Küng é catedrático emérito de Teologia Ecumênica na Universidade de Tubinga, Alemanha, e presidente da Global Ethic.
*** E também aqui, no Brasil (nota do revisor).
**** “Prefeito”: referência ao cargo ocupado pelo então Cardeal Ratzinger antes de sua eleição como Papa Bento XVI, como Prefeito da Congregação para Doutrina da Fé.

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