sábado, 26 de junho de 2010
África - Os Leões se movem
26/06/2010
Relatório oferece visão otimista sobre economias africanas
The New York timesCelia W. Dugger
Johannesburgo (África do Sul)
A África costuma ser retratada como um lugar de guerras, doença e pobreza, com uma caneca de esmola estendida para o mundo. Um novo relatório mostra um retrato bem mais otimista de um continente com economias em crescimento e uma classe consumidora em expansão que oferece aos investidores internacionais grandes taxas de retorno no mundo em desenvolvimento.
Num relatório divulgado na quinta-feira, a firma de consultoria McKinsey & Company apresentou uma mensagem esperançosa às companhias, argumentando que “os negócios globais não podem se dar ao luxo de ignorar esse potencial.”
“O crescimento que vimos na África recentemente é bem mais espalhado do que se reconhece normalmente”, disse Arend van Wamelen, autor do relatório que trabalha para a McKinsey em Johannesburgo, e que aconselha as companhias locais e internacionais a investirem na África. “Há muitas coisas boas subjacentes acontecendo na economia.”
O relatório, intitulado “Lions on the Move” [“Leões em Movimento”], inclui uma variedade de fatos interessantes levantados pela área de pesquisa de empresas e economia da consultoria, a McKinsey Global Institute. Desde 2000, 316 milhões de pessoas do continente se inscreveram em serviços de telefonia celular, mais do que a população inteira dos Estados Unidos; a população de um bilhão de habitantes da África gastou US$ 860 bilhões, mais do que a população de 1,2 bilhões da Índia.
De 2000 a 2008, as economias africanas cresceram duas vezes mais rápido do que nos anos 80 e 90. Além disso, a África foi uma entre as duas regiões – a Ásia é a outra – onde a economia coletiva subiu durante a recessão global de 2009, em 1,4%.
Num sinal claro de reorientação da paisagem econômica na África, a China forneceu mais financiamento para estradas, eletricidade, ferrovias e outras obras de infraestrutura nos últimos anos do que o Banco Mundial.
E num sinal do aumento da segurança, o número de conflitos sérios nos quais mais de mil pessoas morriam anualmente caiu de uma média de 4,8 por ano na década de 90 para 2,6 por ano nos anos 2000, informou o relatório.
Muitos defensores da democracia, dos pobres e das pessoas com Aids provavelmente ofereceriam uma visão menos cor-de-rosa dos persistentes problemas da África, mas os autores do relatório da McKinsey admitem que o continente como um todo fez um progresso sólido nos fundamentos econômicos.
Com frequência, o crescimento econômico da África é visto como resultado do aumento dos preços de sua riqueza em recursos naturais – petróleo, ouro, platina e diamantes, entre outros recursos. Como exemplo disso, os três maiores produtores de petróleo do continente – Argélia, Angola e Nigéria – receberam US$ 1 trilhão em exportações de petróleo de 2000 a 2008, comparados com US$ 300 bilhões nos anos 90, descobriu o relatório.
Mas os pesquisadores da McKinsey também concluíram que o aumento nos preços dos recursos naturais responderam por cerca de um quarto do aumento do crescimento econômico nos anos 2000.
O crescimento econômico acelerou em 27 das 30 maiores economias do continente, tanto nas mais ricas em recursos quanto nas mais pobres, descobriram os pesquisadores. Aquelas que possuem uma grande riqueza natural cresceram cerca de 5,4% por ano no mesmo período, enquanto que as que não possuem tantos recursos cresceram em 4,6%.
A McKinsey atribuiu a expansão econômica da África ao aumento dos preços dos commodities, maior estabilidade política auxiliada por uma redução dos conflitos violentos, melhora no desempenho macroeconômico e reformas econômicas voltadas para o mercado.
A inflação coletiva da África caiu para 8% depois de 2000, de 22% nos anos 90. Os déficits orçamentários caíram de 4,6% para 1,8% do PIB. O setor privado emergiu. O investimento estrangeiro direto aumentou de US$ 9 bilhões em 2000 para US$ 62 bilhões em 2008.
“Obviamente, há lugares que vão muito mal”, disse Wamelen. “Não ignoramos isso. Mas no conjunto, se você observar o número de pessoas na pobreza, verá que esses números estão caindo drasticamente. A distribuição de renda está lá.”
Algumas das tendências demográficas elogiadas no relatório podem acabar se tornando espadas de dois gumes. Em 2040, estima a McKinsey, a África terá 1,1 bilhão de pessoas em idade de trabalhar, mais do que a China ou a Índia. Mas mesmo agora, a África do Sul, uma das economias mais dinâmicas do continente, não está crescendo rápido o suficiente para absorver todos os jovens que entram no mercado de trabalho – nem fornecendo a eles uma educação que possa formá-los para o mercado de trabalho.
De fato, o relatório observa que a África tem conseguido colocar muito mais crianças na escola, mas que precisa fazer mais, dando a elas uma educação de qualidade.
O relatório também observa que a África está se urbanizando em ritmo acelerado. O continente tem agora 52 cidades com mais de 1 milhão de habitantes, mais do que o dobro do que tinha nos anos 90 e o mesmo número que existe na Europa Ocidental. O relatório reconhece que as cidades podem produzir favelas miseráveis, mas também sustenta que elas aumentam a produtividade dos trabalhadores, a demanda e o investimento.
“Se a África puder fornecer a educação e as habilidades de que seus jovens precisam, esta grande força de trabalho poderia responder por uma fatia significativa tanto do consumo quanto da produção mundial”, afirma o relatório.
Tradução: Eloise De Vylder
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4 comentários:
Olá, saberia você me informar a data de publicação desse artigo de Celia W. Dugger? É mesmo do dia 26?
Gostei, a propósito, do título que colocou na postagem.
Obrigada.
Ana, é do mesmo dia que coloco no blog. Eu fiz uma transcrição do artigo e coloquei exatamente como estava lá.
Obrigada pelo elogio, e venha sempre na página. Sempre que posso, eu escrevo meus artigos, mas também replico aqueles artigos que considero importantes para todos.
Mais uma vez, obrigada!
Ah sim, obrigada.
E claro, claro, voltarei aqui.
Gosto de suas postagens.
Até logo.
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