Ëdition Spéciale Science & Vie, 1996 Por René Bernex Tradução de Paulo F. de M. Nico Para o neurocientista português, atualmente radicado nos E.U.A. Prof. Dr. Antônio Damasio, a razão pura não existe: nós pensamos com o nosso corpo e nossas emoções. O retrato de um pesquisador que deu à alma uma base neurobiológica.
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É o que afirma Antônio Damasio, diretor do departamento de neurologia da Universidade de Iowa (Estados Unidos) e professor no Instituto Salk para estudos biológicos (Jolla, Califórnia). Aquele cujos pares sobrenomearam “O Toscano da Neuropsicologia” livre pela essência de seu passo intelectual: reunindo diretamente as preocupações atuais da pesquisa em seu domínio, ele tenta após anos descobrir os mistérios da consciência e das faculdades mentais superiores, a fim de, talvez, melhor discernir sobre as noções ambíguas do espírito ou da alma. Originalidade de sua obra: jamais recorrer à simples experiência, como faz hoje a maior parte de seus homólogos, mas tirar sobretudo as conclusões da observação atenta desses casos “naturais”, quer dizer, não fabricar para o homem passos audaciosos e a imaginação pelo grande cirurgião e antropólogo francês, Paul Broca, há um século e meio. Submeter assim nossa compreensão ao mais precioso de nossos órgãos. Por mais áridas que possam parecer suas pesquisas, Antônio Damasio ama, entretanto, ferozmente a vida que ele degusta a cada instante com um prazer consumado. Baixo, olhos e cabelos castanhos, sempre impecavelmente penteados aquele que o considera como um dos maiores maestros do estudo do cérebro humano, oferece um retrato lido e sorridente do diplomata. Calmo, apaziguador, ele é certamente capaz de falar durante horas sobre a neuroconsciência, como também de arquitetura, arte moderna, cinema, história, filosofia e até mesmo gastronomia. Um fino gastrônomo, ele sabe sempre descobrir os melhores restaurantes em ocasião de um colóquio. Sem dúvida, em razão de sua origem européia...
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Antônio e sua mulher Hanna (que trabalha com ele e divide as mesmas paixões, e a quem deve uma boa parte de seu sucesso) todos os dois nasceram em Portugal, e obtiveram seus diplomas na faculdade de medicina da Universidade de Lisboa. Após terminarem suas teses, partiram para os Estados Unidos. “Há vinte anos, explicam eles, foi o último lugar onde pudemos fazer a pesquisa”. Primeira etapa em 1967: o laboratório do grande neurologista Norman Geschwind, centro de pesquisa sobre Afasia em Boston. Com a morte de Geschwind, em 1984, o casal parte para Iowa. Arthur Benton instalou-se, de um lado, por causa dos papéis da neuropsicologia, mas também sobretudo por causa daquele estado rural e deserto, onde havia excelentes escolas, bons hospitais e “ as pessoas pensam que é normal ajudar à pesquisa médica.” Foi aí exatamente sua falha. Após a chegada de Arthur Benton, todos acreditaram que boa parte dos principais centros mundiais consagram estudos dos substratos neurológicos às funções mentais. Antônio afirma, como o teórico do casal, aquele que interpreta as experiências. Devemos notar em sua equipe, as contribuições importantes na compreensão da visão, da memória, da linguagem, da tomada de decisões. Hanna, neuroanatomista, nutre a reflexão de seu ego ao imaginar e construir a maior parte das experiências. Ela foi notavelmente uma das primeiras a utilizar as tecnologias atuais imaginárias do cérebro para estudar o cérebro humano e as funções cognitivas. Resultado: em 1992, Antônio e Hanna receberam o prêmio Pessoa, a mais alta distinção intelectual de Portugal, pela sua contribuição a cartografia do cérebro. A presença de sua mulher, na cidade de Iowa, longe em primeira instância das grandes mecas da pesquisa Americana, representou um papel determinante na carreira de Antônio Damasio. No coração de Midwest, um imenso Hospital da Universidade de Iowa recebeu em decorrência de doenças de todos os tipos, pouco menos que o relativamente escolhido para as megalópoles universitárias. O departamento de neuropsicologia também pôde notar os múltiplos casos fascinantes. Junto de Damasio pudemos reunir uma coleção de mais de 2.000 doenças registradas em função de seus problemas (ataques, infecções, traumatismos, tumores e outros acidentes cerebrais). Damasio se recorda desde a infância do aprendizado segundo o qual a gente não pode tomar uma sábia decisão a não ser com calma. “De outro modo, disse, precisa-se, havia aprendido, que as emoções e a razão não podem mais se unir, assim como a água e o óleo. Portanto, confiante, fui confrontado um dia com o ser humano, o mais frio, o menos emotivo que se podia imaginar, ou, apesar de sua inteligência, sua faculdade de raciocínio fosse assim perturbado, nas circunstâncias variadas da vida cotidiana, ele se conduzia de todas as maneiras errôneas, fazendo agir perpetuamente pelo oposto daquilo que teria considerado como socialmente apropriado e como vantagem para ele”. Por volta dos 30 anos, um paciente em questão, chamado de Elliot, apresentou o que pareceu ser um meningioma, de outro modo disseram tratar-se de um tumor saído das meninges, que comprimia os dois lóbulos frontais. Após uma operação prática de urgência e coroada de sucesso, viria a cura. Infelizmente, sua personalidade mudou muito rápido. Para pior. Rapidamente com efeito, o jovem partiu à deriva, tornou-se desligado e distante. Assim, no consultório, ele hesitava entre uma tarefa e outra, ou refletia indefinido em relação aos princípios dos processos de classificação, sem jamais tomar decisões. Portanto, sua inteligência permanecia perfeitamente intacta. Seus conhecimentos também. Incapaz de um trabalho regular, Elliot colocou-se a especular, investiu todas suas economias e perdeu tudo, inclusive sua família. Tornou a se casar e divorciou-se novamente.... Com o tempo, ele terminou sendo considerado por todo o mundo como um preguiçoso e um simulador.
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domingo, 15 de maio de 2011
NEUROPSICOLOGIA - Antônio Damásio: O cérebro à procura da Alma
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