Gilberto Costa
Da Agência Brasil
Em Brasília
Em Brasília
O ambiente escolar é um espaço para o surgimento de atitudes sexistas e homofóbicas.
Esta é uma das conclusões tiradas da audiência pública sobre preconceitos e
discriminações na educação brasileira, realizada hoje (4) na Comissão de Educação e
Cultura da Câmara dos Deputados.
“Além de reproduzir a escola cria homofobia”, disse a coordenadora do Projeto Escola
sem Homofobia, da organização não governamental (ONG) Ecos - Comunicação em
Sexualidade, Maria Helena Franco. “Não é mais adiante, mas é ali que esta se criando
o preconceito”, completou.
Na opinião de Helena Franco, os professores brasileiros não são preparados para lidar
com o tema em sala de aula e não dispõem de material didático que possa auxiliá-los.
“Material sobre a temática praticamente não existe”, disse após apresentar aos
parlamentares um kit com livro, vídeos, boletins e cartaz que podem ser usados
na escola em apoio à implantação do chamado “projeto político pedagógico”, que
orienta o ensino.
O material elaborado pela ONG está em análise na Secretaria de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade – Secad, do Ministério da Educação (MEC), para ser
replicado e incluído na grade de distribuição de material educativo do MEC.
Segundo Helena Franco, o ministério já recebeu cerca de 1.500 pedidos do material
que não está disponível na internet. A princípio, o material será distribuído a
docentes do ensino médio, “mas pode ser usado por professores do ensino
fundamental”, disse.
Situações de homofobia são verificadas, por exemplo, em situações de
constrangimento, o bullying, que pode causar danos morais a quem sofre com
comportamentos agressivos (físico ou verbal) recorrentes.
Uma pesquisa de 2009, apresentada pela ONG Plan Brasil, e publicada pelo
Ministério Público do Maranhão, feita com 5.168 alunos de 25 escolas públicas
e particulares de todas as regiões brasileiras, mostrou que sete em cada dez
estudantes de diversas faixas etárias presenciaram cenas de agressões entre colegas.
As principais vítimas são os meninos: 34,5% disseram ser vítimas de maus tratos.
A situação dos meninos na escola começa a preocupar também pela questão de
gênero, tradicionalmente associada à discriminação contra as mulheres. A pesquisadora
Denise Carreira, da ONG Ação Educativa salienta que os meninos, especialmente
os meninos negros, abandonam a escola mais que as meninas.
Apesar desse dado e do fato das mulheres já terem em média maior escolaridade que o
homem, o mercado de trabalho é menos favorável a elas que recebem salários menores.
Para Denise Carreira, isso tem a ver com as vocações que são estimuladas desde a
escola e as carreiras as quais acabam se dedicando.
“A educação sexista define que as mulheres são boas para isso, e não são boas para aquilo”,
afirmou ao lembrar que o mal desempenho em ciências e matemática tem a ver com a falta
de estímulo para que, no futuro, ocupem áreas de exatas. “Ainda hoje temos profissões ditas
masculinas e profissões ditas femininas”, como as áreas sociais e de cuidados (professoras,
assistentes sociais, saúde), com baixa remuneração. “É fundamental questionar a
educação que estabelece papéis para homens e mulheres”, recomendou.
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