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02/04/2010 - 19h18
Vítimas de pedofilia e líder judeu rejeitam comparação de críticas à Igreja com antissemitismo
Uma associação americana de vítimas de padres pedófilos e um líder judeu desaprovaram, nesta sexta-feira, as palavras de um pregador do Vaticano que comparou, durante celebração da Semana Santa, as críticas recebidas pela Igreja Católica devido aos casos de abusos sexuais de menores com o antissemitismo.
Na presença de Bento XVI, que presidia a liturgia da Paixão de Cristo na basílica de São Pedro, o sacerdote Raniero Cantalamessa leu uma carta de "solidariedade" ao Papa e à Igreja, que disse ter recebido recentemente de um "amigo judeu".
Os ataques atuais à Igreja, abalada por escândalos de pedofilia, fazem lembrar "os aspectos mais penosos do antissemitismo", afirmou o padre Cantalamessa.
"Com desgosto, acompanho o ataque violento e direcionado contra a Igreja e o Papa", disse o religioso franciscano, ao mencionar trechos da carta.
"O uso de estereótipos e a transferência de responsabilidades e culpas pessoais para coletivas me lembram os aspectos mais vergonhosos do antissemitismo", continuou o religioso, cujo sermão foi dedicado à violência, em particular à dirigida contra a mulher e cometida no seio familiar.
"Faz mal ao coração ver que um responsável de alto escalão do Vaticano, uma pessoa informada, faz observações tão duras que são um insulto tanto às vítimas das agressões sexuais quanto aos judeus", declarou, em um comunicado, David Clohessy, que dirige um grupo de defesa das vítimas de sacerdotes pedófilos, o SNAP (Survivors Network of those Abused by Priests).
"É moralmente errado comparar a violência física real e o ódio contra um grande número de pessoas inocentes com o que não é outra coisa senão o exame público dos atos de um pequeno grupo de responsáveis cúmplices", acrescentou Clohessy.
O rabino Gary Greenebaum, encarregado de relações interreligiosas no âmbito do Comitê Judaico Americano, qualificou de "maliciosas" as declarações do padre Cantalamessa.
"Não é uma comparação adequada, é evidente e claro para a maioria das pessoas", declarou à AFP.
O porta-voz do Vaticano, o padre Federico Lombardi, falando sobre a postura de Cantalamessa, disse que se tratava "de uma carta lida pelo pregador e não a posição oficial do Vaticano".
O pregador do Papa, que tem a função de escrever o sermão durante o rito dedicado à "Paixão do Senhor" da Sexta-feira Santa, que se celebra poucas horas antes da Via Crúcis, havia advertido que não iria abordar o tema dos abusos cometidos por padres contra menores "porque deles já se fala muito do lado de fora".
No entanto, ao citar a carta de solidariedade de seu amigo judeu e comparar os ataques contra a Igreja aos preconceitos e à hostilidade dirigida aos judeus como grupo generalizado, o padre Cantalamessa acabou reavivando o debate.
Durante a solenidade dos ritos da Semana Santa, o Papa continuou recebendo mensagens de solidariedade de vários episcopados em função das críticas sobre sua gestão de casos de pedofilia por parte de sacerdotes.
O Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM) acusou alguns meios de comunicação internacionais de divulgar "reconstruções falsas" e "caluniosas" sobre a atitude do papa Bento XVI frente aos casos de abusos sexuais de menores por parte de sacerdotes na década anterior, informou a entidade em um comunicado assinado pelo arcebispo brasileiro Raymundo Damasceno Assis.
"Ao contrário do que alguns veículos de imprensa divulgaram, a atitude do então cardeal Joseph Ratzinger com relação ao caso de abusos sexuais sobre menores por parte de clero foi sempre muito severa, como testemunham as pessoas que trabalharam com ele", destaca o comunicado do CELAM.
Para o bispo paraguaio Jorge Livieres Plano, de Alto Paraná, as denúncias de pedofilia amplamente divulgadas pela imprensa internacional "em sua maioria são falsas" e representam uma perseguição organizada contra a Igreja porque esta se opõe ao aborto e à homossexualidade.
"Há mais homens infiéis às suas esposas, pedófilos e homossexuais do que sacerdotes infiéis à sua vocação, pedófilos e homossexuais", argumentou o religioso.
Os bispos do Canadá também lamentaram, em uma mensagem enviada por ocasião da Páscoa, "a atenção que a mídia tem dado a tais informações" sobre casos de pedofilia na Igreja, apesar de que seus representantes tenham agido de forma "sábia e responsável".
Na França, mais de 70 intelectuais pediram aos meios de comunicação maior "ética" e "responsabilidade", em carta publicada em uma página na internet e reproduzida pelo jornal do Vaticano, L'Osservatore Romano.
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