29/03/2010
Prospect
Nicholas A. Christakis e James Crabtree*
Se os amigos dos seus amigos começam a engordar, é provável que aconteça o mesmo com você – mesmo que você não os conheça e mesmo que more a centenas de quilômetros de distância. A obesidade se espalha como um modismo; e é contagiosa.
Esta surpreendente descoberta, resultado de um estudo de 30 anos em Massachusetts, foi descrita por Nicholas A. Christakis e James H. Fowler em seu novo livro, “Connected: The Surprising Power of Social Networks and How They Shape Our Lives” [algo como “Conectados: O Surpreendente Poder das Redes Sociais e Como Elas Moldam Nossas Vidas”]. A pesquisa mostra que o mesmo fenômeno se aplica a fumar e a uma série de outros comportamentos e atitudes como o vício em bebida, a depressão, doações caritativas, práticas sexuais – e até decisões de se casar, divorciar, ter filhos ou votar.
Por que isso é importante? Porque desde o cuidado com a saúde até a mudança climática, os governos de hoje enfrentam uma variedade de problemas em que precisam persuadir as pessoas para mudar seu comportamento. Mas em vez de se fiar em seus poderes de persuasão, os políticos deveriam considerar estudar a ciência das redes.
A ideia básica da ciência das redes é simples. As pessoas se juntam em grupos com padrões de laços específicos, e esses padrões têm efeitos importantes na forma como se comportam. Um exemplo improvável são os musicais da Broadway.
Brian Uzzi é sociólogo na Universidade Northwestern, em Chicago. Ele também é um grande fã de musicais. De “Cats” até “Spamalot”, os musicais são um bom negócio há décadas, mas os investidores sempre precisam adivinhar quais peças farão sucesso. Intrigado, Uzzi usou a ciência das redes para descobrir por quê. Ele reuniu um conjunto de dados sobre 321 musicais que foram lançados na Broadway entre 1945 e 1989, verificando especialmente se as equipes formadas por produtores, coreógrafos, roteiristas e diretor haviam trabalhado juntas antes ou não.
Depois de processar as estatísticas, ele descobriu algo notável. Equipes que nunca haviam trabalhado juntas não tiveram tanto sucesso: suas fracas redes implicavam a falta de visão criativa e uma série de desempenhos insatisfatórios. No outro extremo, equipes que haviam trabalhado juntas com sucesso também tinham uma tendência a produzir fracassos. Às vezes, por uma falta de ideias criativas vindas de fora, a equipe simplesmente reelaborava as mesmas ideias que funcionaram no último espetáculo; outras vezes, por falta de gente nova, elas desenvolviam sua visão de formas absolutamente excêntricas. De qualquer forma, dificilmente o sucesso se repetia.
Mas, entre esses dois grupos, Uzzi descobriu algo importante. Ele encontrou um ponto de equilíbrio: grupos com a mistura exata de participantes novos e antigos produziam sucessos com uma frequência confiável. Essa variação na profundidade dos laços permitia a facilidade de comunicação e alimentava uma criatividade maior – as novas ideias das pessoas de fora se misturavam à experiência dos antigos. Não importava qual era o tema do musical ou quem o estivesse estrelando. Seu sucesso se espalhava pela estrutura da rede, unindo a equipe. O mesmo foi comprovado nas áreas da invenção científica e da inovação nos negócios.
Juntando esses dois insights – de que a informação que flui nas redes sociais pode mudar o comportamento, e de que o formato das redes muda dramaticamente seus resultados –, surgem algumas implicações intrigantes. Se é possível fazer musicais lucrativos simplesmente configurando a equipe de produção de forma adequada, por que a mesma estratégia não funcionaria para quem comanda escolas, hospitais, até mesmo um departamento do governo? E se é possível fazer com que as medidas antifumo levem em conta a capacidade das pessoas de influenciarem umas às outras, não há nenhuma razão para que as mesmas técnicas de redes não sejam usadas para cortar problemas como o alcoolismo, a obesidade ou reforçar a segurança do trabalho.
Expandindo essa ideia, se criar o tipo certo de redes sociais ajuda as pessoas a se relacionarem de forma mais eficaz, será que o Estado não deveria procurar pessoas que ajudassem a construir essas ligações? Especialistas na teoria do capital social difundiram essa ideia durante anos, sem muitos resultados. Mas eles têm um ponto importante: os governos deveriam tentar construir novos sistemas sociais que apoiem os laços sociais, e elaborar políticas que os levem em consideração.
Por que parar por aqui? As políticas de rede poderiam ajudar a incentivar novos tipos de crescimento que ajudem a nos tirar da recessão. A inovação nos negócios é fortemente influenciada pela estrutura de redes de equipes de projeto e pela comunicação entre parceiros comerciais ou cientistas. As políticas poderiam tirar vantagem disso, assim como poderiam tentar estabelecer novas normas sociais para a conservação de energia doméstica.
Talvez a perspectiva mais excitante de tudo isso seja o potencial para acabar com o isolamento social. A pesquisa mostra que não ter amigos, ou mesmo ter uma rede social pobre, pode ter um custo assustador: é mais provável que uma adolescente cujos amigos não se dão bem pense sobre suicídio do que uma outra cujos amigos se dão bem – independentemente de quem são os amigos, ou de como ela se dá com eles.
Os conservadores costumam se preocupar com as liberdades individuais, enquanto os liberais se preocupam com o bem-estar dos grupos sociais. A ciência das redes mostra que uma discriminação como esta é, no mínimo, extremamente simplista. Observe como os indivíduos se juntam em grupos e você também perceberá como o fato de participar de um grupo afeta os indivíduos. Ver os dois lados pode não só melhorar a política e economizar dinheiro, mas também ajudar nossos políticos a serem mais persuasivos – do jeito certo.
*(Nicholas A Christakis é professor de medicina, política de saúde e sociologia na Universidade de Harvard e co-autor de “Connected” com James H. Fowler. James Crabtree é editor-executivo da Prospect.)
Tradução: Eloise De Vylder
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