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segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma!


"A presidenta Dilma Rousseff, eleita com mais de 55,7 milhões de votos, afirmou após sua vitória que fará um governo com foco na erradicação da pobreza, no fortalecimento da economia nacional e fará esforços por uma reforma política que eleve os valores republicanos. 
A primeira mulher a assumir o comando do Brasil abriu seu discurso assumindo o compromisso de “honrar as mulheres brasileiras, para que este fato, até hoje inédito, se transforme num evento natural”, disse. “Reforço aqui meu compromisso fundamental: a erradicação da miséria e a criação de oportunidades para todos os brasileiros e brasileiras. 
Ressalto, entretanto, que esta ambiciosa meta não será realizada pela vontade do governo. Ela é um chamado à nação, aos empresários, às igrejas, às entidades civis, às universidades, à imprensa, aos governadores, aos prefeitos e a todas as pessoas de bem. Não podemos descansar enquanto houver brasileiros com fome, enquanto houver famílias morando nas ruas, enquanto crianças pobres estiverem abandonadas à própria sorte. A erradicação da miséria nos próximos anos é, assim, uma meta que assumo, mas para a qual peço humildemente o apoio de todos que possam ajudar o país no trabalho de superar esse abismo que ainda nos separa de ser uma nação desenvolvida”, afirmou. 
A presidente também alertou a nação que o reforço da economia brasileira terá que se dar pelo mercado interno, já que as nações desenvolvidas estão em dificuldades e continuarão assim por mais alguns anos e seguirão adotando medidas protecionistas. “No curto prazo, não contaremos com a pujança das economias desenvolvidas para impulsionar nosso crescimento. Por isso, se tornam ainda mais importantes nossas próprias políticas, nosso próprio mercado, nossa própria poupança e nossas próprias decisões econômicas”, salientou. 
Pré-sal Dilma frisou que a riqueza do petróleo do pré-sal será direcionada principalmente para o desenvolvimento da nação e não será usado com projetos “efêmeros”. “O Fundo Social é mecanismo de poupança de longo prazo, para apoiar as atuais e futuras gerações. Ele é o mais importante fruto do novo modelo que propusemos para a exploração do pré-sal, que reserva à Nação e ao povo a parcela mais importante dessas riquezas. Definitivamente, não alienaremos nossas riquezas para deixar ao povo só migalhas”, disse. 
Ela reafirmou que se empenhará para melhorar a conduta política do Brasil e pediu apoio dos partidos políticos para aprovar uma reforma política. “Nosso país precisa ainda melhorar a conduta e a qualidade da política. Quero empenhar-me, junto com todos os partidos, numa reforma política que eleve os valores republicanos, avançando em nossa jovem democracia”, discursou. 
A petista também reforçou seu compromisso com a liberdade de imprensa, de expressão e de credo. “Quem, como eu, lutou pela democracia e pelo direito de livre opinião arriscando a vida; quem, como eu e tantos outros que não estão mais entre nós, dedicamos toda nossa juventude ao direito de expressão, nós somos naturalmente amantes da liberdade. Por isso, não carregarei nenhum ressentimento. Disse e repito que prefiro o barulho da imprensa livre ao silencio das ditaduras”, frisou. 
Emocionada, Dilma falou sobre sua relação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e contou o que aprendeu com o maior líder que o país já teve. “Ter a honra de seu apoio, ter o privilégio de sua convivência, ter aprendido com sua imensa sabedoria, são coisas que se guarda para a vida toda. Conviver durante todos estes anos com ele me deu a exata dimensão do governante justo e do líder apaixonado por seu pais e por sua gente. A alegria que sinto pela minha vitória se mistura com a emoção da sua despedida. Sei que um líder como Lula nunca estará longe de seu povo e de cada um de nós. Baterei muito a sua porta e, tenho certeza, que a encontrarei sempre aberta”, concluiu.""
Venceu o povo! Venceu o Brasil! Vencemos todos nós, que garantimos nas urnas o sonho de um País melhor, justo, igualitário e soberano

domingo, 31 de outubro de 2010

Crise nas empresas ou crise do jornalismo?




Alberto Dines

# O problema é geral? Veja o que a acontece no NYTimes, na Folha e na Abril:A receita líquida do grupo The New York Times aumentou no terceiro trimestre de 98: passou de US$ 46 milhões em 1997 para US$ 55 milhões em 98. Apesar da queda generalizada no faturamento publicitário no resto dos diários americanos. E apesar da conduta sóbria na cobertura do caso Clinton-Lewinsky contrastando com o sensacionalismo do resto da mídia. O faturamento publicitário do jornal cresceu 4,6% (publicado no Estadão, 16/10/98, p. A-13). Se a publicidade subiu, a circulação não pode ter desabado. Se um grupo teve aumento de receita, a crise não pode ser geral. Só pode ser setorial. E afeta aqueles que não sabem apostar em qualidade.
Até o momento nem a Folha de S. PauloO Dia ou a Editora Abril fizeram demissões. Nesta proibiu-se a compra de matérias dos free-lancers, o chamado "frila", e está sendo eliminado um escalão do staff de alto nível ("aspones") que estão passando para a operação ("linha", no jargão).
# Quadros dirigentes são inocentes? Veja o que aconteceu no JB
A equipe que comandava a redação do Jornal do Brasil ganhava 150 mil reais mensais (cifra fornecida pela empresa). Eram quatro, o que dá um salário médio de R$ 37.500,00 (trinta e sete mil e quinhentos reais). É remuneração de grande empresa, altamente lucrativa, no primeiro mundo. Alan Greenspan, um dos poderosos do mundo, ganha US$ 11.400 mensais, sem 13° salário (Ancelmo Gois, Radar de Veja, 21/10/98). Mas o salário médio dos jornalistas, segundo a Administração da Redação, fica em R$ 2 mil (o intervalo vai de R$ 700 a R$ 12 mil). Há uma dúzia de estagiários com remuneração de R$ 250 e outro tanto de prestadores de serviço ganhando entre R$ 700 e R$ 1.000. O problema é de quem recebe os altos salários ou de quem adota esta aberrante disparidade salarial? Responda você mesmo.
Acrescente-se um dado qualitativo: excetuados alguns editores e colunistas que sabiam o que faziam, o comando jornalístico mostrava-se sem rumo e sem estratégia. Comportava-se como barata tonta e, para fingir modernidade, copiava os modismos da Folha, afastando-se dos padrões de qualidade que sempre marcaram o jornal. Um quality paper pode desaparecer, mas desaparece mais depressa quando abandona os compromissos que o converteram num quality paper.
A Rede Record e a Bandeirantes pagam salários fabulosos aos âncoras dos telejornais do horário nobre mas não investem em equipes e equipamento. No caso de Boris Casoy, sua fórmula esgotou-se. No caso de Paulo Henrique Amorim, como se trata de jornalista experimentado e competente, o sistema ainda rende, na base do one-man show. Segundo matéria publicada na Folha, essas redes, além de outras, estão à venda (ver remissão abaixo).
# O modelo jornalístico era apropriado? Veja no que deu a influência da Universidade de NavarraNo início desta década e pela primeira vez na história do jornalismo brasileiro, a grande maioria dos grandes veículos impressos adotou uma espécie de plataforma comum, no tocante às estratégias e modelos editoriais. Era a "Doutrina Navarra", enunciada por um grupo de consultores ligados àquela Universidade ou a empresas da mesma linha sediadas em Miami.
Visualmente preconizavam jornais lambuzados de cores. Conceitualmente defendiam a idéia da submissão ao "mercado". Tecnicamente pretendiam o padrão de jornalismo breve, reduzido, movimentado por gráficos e não pelo conteúdo. A ética apregoada nada tinha a ver com a função social da imprensa ou seus compromissos conceituais – moralismo formal, mais para seita religiosa do que para instituição política.
Agora, diante da derrocada deste modelo, é imperioso lembrar os seus formuladores. E o preço que se pagou pelas "consultorias", pelos sucessivos redesenhos e pelos cursos de aperfeiçoamento no exterior.
# Empresários são confiáveis? Veja o que aconteceu na Manchete, no SBT, etc., etc.Adolpho Bloch ganhou do governo militar duas concessões, com o compromisso de fazer TV de alta qualidade. Não tinha competência. Sonhava com um império jornalístico mas desprezava jornalistas e jornalismo. Salvo um pequeno grupo que vivia à sua volta, dizendo amém às besteiras. Tinha uma especial acuidade para contratar larápios: a empresa foi literalmente assaltada ao longo dos últimos 15 anos por corriolas das quais faziam parte jornalistas. Tarefa facilitada porque, para enganar os acionistas minoritários, criou um esquema paralelo do qual todos se serviam. Quando foi vendida a Hamilton Lucas de Oliveira, a TV Manchete já estava falida. O herdeiro de Adolpho Bloch simplesmente copiou os seus comportamentos, inconseqüência e manias. Agora a empresa quebrou.
Silvio Santos é um animador de programas de auditório. Seu nível de competência fica nisto, não tem vôo para coisas maiores. Seus outros negócios prosperaram porque foram entregues a bons administradores. Não basta para gerir um grupo de comunicação. Prova é o interminável troca-troca no alto comando da Rede e as sucessivas mudanças de estratégia. Outro que jamais gostou de jornalismo e jornalistas. Segundo a mesma matéria da Folha também está à venda.
# A diversificação está dando certo? Veja o que aconteceu na RBS e no Estadão
Este OBSERVATÓRIO vem advertindo há mais de um ano que, ao ingressar nos ramos da telefonia e das telecomunicações, algumas das grandes empresas jornalísticas brasileiras entraram em perigosos desvios. Abandonaram aquilo que no jargão chama-se core business, atividade central, substância: a produção de notícias. Enfiaram-se num negócio altamente dispendioso e que não dominam. Pior: confronta e afronta suas obrigações como serviço público.
Folha teve o bom senso de escapar da miragem depois que perdeu a primeira concorrência. O Estadão e a RBS ficaram e, para fazer face aos investimentos, tiveram que fazer cortes nos quadros do core business. As Organizações Roberto Marinho têm cacife financeiro para entrar nas areias movediças da diversificação. Mas fizeram cortes de pessoal.
(Ver remissão para textos anteriores sobre o assunto.)
# EMPRESAS DESCAPITALIZADAS? POR QUE NÃO INSISTIRAM NA REVISÃO DO ARTIGO 222? Veja como as empresas jornalísticas burlaram a Carta MagnaEste "Observatório" defende, desde a sua fundação, a revisão do artigo 222 da Constituição. Nestas poucas linhas está a causa dos problemas que afligem as empresas jornalísticas brasileiras. Ao limitar praticamente a pessoas físicas a propriedade dos veículos jornalísticos e impedir o acesso ostensivo de capitais estrangeiros, os constituintes criaram condições para o atual processo de descapitalização e para a presente crise.
Estimulado por nossas matérias, o deputado Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) estudou a questão, ouviu as partes e fez uma proposta razoável de revisão do infeliz artigo. Os grandes grupos jornalísticos foram teoricamente a favor da emenda do deputado Aloysio mas nada fizeram para apressar a tramitação da emenda. Preferiram ultrapassar o espírito da lei com jogadas que atendem apenas ao texto da lei.
Capitais estrangeiros estão abertamente associados a empresas brasileiras, conforme este OBSERVATÓRIO vem alertando. Pessoas jurídicas são acionistas de empresas jornalísticas por via indireta.
É um vale-tudo numa área que envolve precisamente aqueles que deveriam zelar para que não imperasse o vale-tudo.
O deputado Aloysio Nunes Ferreira foi reeleito.
(Ver abaixo relação de textos.)
# EXECUTIVOS ESTÃO SENDO COMPETENTES ? Veja o que está acontecendo em O Globo e no EstadãoComo informamos na edição anterior, O Globo aposta na alta rotatividade de pessoal: baixou o limite de idade. Triplo contra-senso: a) para um país que envelhece, vai oferecer um jornalismo menos qualificado; b) investiu em quadros profissionais que agora desperdiça e recomeça tudo de novo com quadros jovens; c) esqueceu que profissionais mais experientes são os mais baratos: estão com suas vidas razoavelmente arrumadas e querem manter-se no mercado de trabalho. Em troca, oferecem produtividade. (Ver abaixo texto de Fritz Utzeri.)
Estado de S. Paulo inovou em matéria de administração de redações: adotou a dialética do duplo comando. Funciona formalmente o regime de conflitos e contradições. Com os indefectíveis grupos e conseqüente imobilidade. No recente episódio das demissões na redação, a administração teve que contentar os dois grupos, em partes iguais.
# O governo deve ajudaR as empresas endividadas ? Veja o que aconteceu com o INSS e o FGTS. E por que a Abril não entrou naGazeta Mercantil
Nos anos 70 a Folha era uma das maiores devedoras da Previdência. Negociou e pagou tudo, seus funcionários não tiveram prejuízo e sempre gozaram dos benefícios a que tinham direito. Não é o que acontece noJornal do Brasil e na Manchete: os profissionais são descontados mas as empresas não repassam as contribuições nem comparecem com a sua quota.
Além da apropriação indébita - o que configura infração prevista no Código Penal - os trabalhadores são prejudicados nos benefícios a que têm direito.
A Rede Record rompeu com o governo federal e a Igreja Universal passou à oposição porque os fiscais da Receita Federal descobriram irregularidades nas suas contas.
A parceria entre a Gazeta Mercantil e a Editora Abril foi desfeita porque os auditores desta descobriram dívidas com o fisco não mencionadas nas primeiras negociações. Nosso mais importante jornal de economia e finanças é dos mais veementes na cobrança do ajuste fiscal.
Ironias da vida: jornais que defenderam as privatizações estão agora sofrendo, porque os novos donos das empresas (de energia elétrica, por exemplo) querem receber as contas, que costumavam ficar penduradas. Além disso, grandes empresas que "salvavam" situações críticas com generosos anúncios (a Vale do Rio Doce é o exemplo clássico) são agora movidas por uma lógica diferente.
Perguntas finais:# Deve o governo anistiar as empresas jornalísticas?
# E por que não todas as empresas?
# Como é que ficam o orçamento, a dívida interna, os juros, o câmbio, o PIB?
Nota: por falta de informações fidedignas não foram mencionadas a Rede Bandeirantes, os Diários Associados, a CNT, a Fundação Gazeta, a Editora Três e as empresas jornalísticas regionais. Qualquer colaboração será bem-vinda.Dr. Roberto não foi aposentado aos 55Fritz Utzeri
Na redação do Globo no Rio foram demitidos 16 jornalistas. Como um dos "passaralhados", concordo em gênero, número e grau com as observações de Alberto Dines no Observatório na TV (13 de outubro de 98).
O pior é que a expulsória dos caquéticos cinqüentões nega a própria história das organizações Globo. O que seria do grupo, hoje hegemônico, se o seu patriarca e "nosso companheiro" tivesse se aposentado aos 55 anos? Foi justamente entre os 60 e os 90 anos de idade que o Dr. Roberto construiu o maior império de comunicações do Brasil. É dose...

O salário do talentoNahum Sirotsky, de Jerusalém (*)

Apesar de me encontrar em Israel, numa temporada de duração imprevisível, não deixo de acompanhar tanto quanto é possível o que vai por aí, no Brasil. Com o milagre da Net, leio os jornais e revistas, escuto rádio. E acompanho o que se diz sobre o Brasil na mídia internacional. Os versos do poeta, lidos quando garoto, não me saem da cabeça: "Minha terra tem palmeiras etc." O que, para mim, que já rodei mundo, continua mais verdade do que nunca.
Minha leitura inclui o OBSERVATÓRIO, o qual recebe, às vezes, observações minhas. A crítica da imprensa por ela própria é, hoje, generalizada. O motivo que se apresenta é o de sempre: defesa da qualidade, do leitor etc. Na verdade, reflete a preocupação de acionistas e proprietários com a velocidade de entrada no mercado de novos meios de comunicação e do que implicam em concorrência aos meios que poderíamos chamar de tradicionais. (Estima-se que o comércio promovido via Net deve chegar a dois trilhões no milênio?! Quando deixei o país, há dois anos e meio, os cibernautas somavam em poucos milhares, todos devidamente autorizados pela RPN, com permissão da Net americana!).
Os veículos querem descobrir como preservar a clientela, que é o que "vendem" às agências de publicidade. Eles também criaram uma dependência das pesquisas. No entanto, existem as respostas que são públicas e notórias que, suspeito, nem sempre são vistas pelos que respondem pela indústria e o comércio do jornalismo. Através dos séculos, e de todas as transformações provocadas pelos avanços tecnológicos, sobreviveram e prosperaram os veículos que souberam (a) escolher seu público; (b) servi-lo adequadamente em termos de qualidade e informações compatíveis. Com ele e seu potencial econômico.
Lembro alguns exemplos recentes: o Wall Street Journal não baixou sua linguagem nem sua qualidade com a concorrência da televisão etc. E cresceu mais do que nunca no contexto da concorrência da nova mídia. OWashington Post, de jornal provinciano transformou-se num dos melhores e mais ricos diários do mundo. Aparentemente, o N. Y. Times, que se deixou influir pela equação da massificação, não é mais o mesmo. O Financial Times entendeu a questão, e melhora a cada dia. OEconomist não necessita de promoções de baixo nível para aumentar seu prestígio e conceito. El País, da Espanha, é uma prova provada de que erram os que dizem que não se quer mais ler. É mesmo inigualável na sua cada vez mais elevada qualidade de texto e substância. O sucesso da CNN se explica pela qualidade de sua gente e, conseqüentemente, de como expõe informações e de como são analisadas. Mas a BBC mantém seu conceito e prestígio por nunca fazer concessões em questões de qualidade e respeito aos seus ouvintes e telespectadores.
Todas essas observações são para cumprimentar Alberto Dines pela tese central de seu artigo sobre a crise na mídia; ele disse, bem claro e explícito, que as circunstâncias da economia nacional e internacional não a explicam. São influências do momento. É imaginar que o leitor, ou espectador, não tem senso crítico, e que não sabe diferenciar, por exemplo - para falar de quem se foi e nunca foi igualado - um cronista como o Rubem e os que foram improvisados nos últimos anos, de um Ibrahim, com seus pobres imitadores, de um Paulo Francis, cuja coluna tantos criticavam, mas que nem sequer se consegue imitar.
A variedade de mídias - entre imprensa e eletrônicas - é a "janela da oportunidade", na linguagem moderna, para através dela permanecerem os que compreenderam o que acontece e o seu papel. A revista Coliersmorreu por excesso de circulação! O Economist é prospero com umas centenas de milhares de leitores. Hoje, mais do que nunca - e, no caso da mídia, devido à curta vida da notícia -, o veículo tem de ter a mais alta qualidade possível compatível com o consumidor que escolhe. A mídia impressa tem de ser a mídia da exposição de significados que, por definição, exigem reflexão. É a mídia que exige um corpo de colaboradores experientes e, no mínimo, com conhecimentos gerais, de preferência, porém com base cultural tão sólida quanto possível. Uma foto vale mil palavras, se diz. Mas, o que diz o mais dramático flagrante da bolsa de Wall Street além da angústia dos corretores?
A jogada do estagiário já é antiga. Não se pode culpá-los por não saberem o que foi o linotipo. Mas o leitor não pode pagar com a ignorância do que acontece no mundo o fato de que não se pode exigir desse jovem o conhecimento e a cultura que vêm com o tempo, o estudo, a leitura e a experiência.
Dines botou o dedo na ferida. Minha vida tem sido toda ela no jornalismo. Espero que o artigo consiga acordar os que dormem na inocência de que economizando no salário do talento se pode fazer de veículos um bom negócio. Anorexia de falta de qualidade mata.
(*) Correspondente de Zero Hora e Rádio Gaúcha e também Observador.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Imparcialidade da Imprensa!

http://namarianews.blogspot.com/2010/10/total-imparcialidade-da-imprensa-de.html

QUARTA-FEIRA, 20 DE OUTUBRO DE 2010


A total imparcialidade da imprensa de aluguel

Esta é a imagem da página UOL Eleições de hoje (20/10) às 17:22.
Veja a imparcialidade da nossa imprensa, o espetáculo de confiabilidade,
a ética exemplar,o rigor da mais pura e verdadeira informação.
Isso daí é tudo de bom. Observe, aprenda e não esqueça. É assim que se faz.

Serra: 29 aparições, obras completas. Óbvio, 4ever in blue.
Dilma: 10 aparições (com muita boa-vontade, espremendo,
tentando de tudo aqui e sem levar em conta outras semioticidades).



Clique na imagem e ela poderá ser vista em toda sua glória.
E você ainda paga UOL?

Ler mais: 
http://namarianews.blogspot.com/2010/10/total-imparcialidade-da-imprensa-de.html#ixzz12wjnWFAH

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Duas medidas num grande peso
Por Henrik Silter em 12/10/2010
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=611CID002
Quando uma resolução do TSE proibia os programas humorísticos de fazerem ironias com os candidatos à presidência da República, vários humoristas foram às ruas protestar contra o que consideravam censura. Quando o desembargador Dácio Vieira, do TJDFT, impediu o jornal Estado de S.Paulo de publicar matéria sobre o empresário Fernando Sarney, filho de José Sarney, o grito contra a censura foi uníssono, gerando debates em praticamente todos os veículos de comunicação e, consequentemente, na sociedade.
A censura incomoda. Prejudica a democracia e causa mal-estar na sociedade. Vozes se levantam em protesto. Pessoas se articulam para conter as forças que possam parecer autoritárias. Natural em um país que amargou 20 anos de terror. Mas, e quando essas mesmas vozes se omitem e a censura se impõe de outra forma? A que prejuízos a democracia está sujeita quando o silêncio se mantém diante da mesma face da censura?
"Dois pesos..."Quando as vozes da sociedade se levantam para falar em controle social da mídia, os donos da comunicação de massa colocam as suas tropas de choque para protestar, dizendo que a censura voltará ao Brasil. Bem municiados, vão à guerra e se protegem com o escudo constitucional da liberdade de imprensa e com a livre manifestação do pensamento. Mas e quando um veículo de comunicação demite um profissional por ele ter destoado de sua opinião? A tropa de choque da liberdade de imprensa e da livre manifestação se cala. Cinicamente, silencia o silêncio da omissão. Alguns admitindo com tamanha natureza que "a vida é assim" e outros consternados com a língua presa e as mãos atadas.
No início de outubro, a psicanalista e articulista do Estadão Maria Rita Kehl, que publicou o artigo "Dois pesos...", foi demitida sumariamente. O mesmo jornal que ecoou aos quatro ventos a censura sofrida mostrou no absurdo da contradição como se faz um discurso objetivo e prático diante dos seus interesses em conflito.
Valendo-se do seu instrumento de poder, o jornal demitiu Maria Rita Kehl e jogou no lixo um dos alicerces básicos do Jornalismo, a contraposição. Até onde sei, ainda é assim que os estudantes de Jornalismo aprendem nas universidades e depois colocam em prática nas redações, sempre utilizando na forma ideal o contraditório. (Ou mudaram esse critério e estou precisando de uma reciclagem? Se estiver errado, por favor, me avisem.)
Na verdade, a punição a Maria Rita, que resultou em censura, teve motivações políticas. O jornal declarou apoio a Serra e por isso, ao escrever sobre a "desqualificação" dos votos dos brasileiros mais humildes, cuja maioria praticamente é unânime em apoiar Lula e Dilma, a articulista foi deletada do jornal. Nos piores moldes, é claro. Nas palavras de Maria Rita Kehl, publicadas no site Terra Magazine, ela foi demitida "pelo que eles consideraram um delito de opinião".
Enquanto isso, as vozes da tropa de choque da liberdade de imprensa e da livre manifestação se calaram, se omitiram. Ficaram aquarteladas, esperando que o desfecho se desse como todos os outros, o esquecimento.
A força das novas mídiasFelizmente, a discussão tomou outros rumos nas redes sociais. As pessoas opinaram e criticaram a censura. No Twitter, o caso esteve por vários dias entre os temas mais discutidos pelos tuiteiros. Milhares de blogs também repercutiram a barbárie.
A impressão que fica é que a mídia e muitos dos seus profissionais não se mostram interessados em promover um debate democrático no Brasil. Preferem sobrepor a tudo e a todos a vontade daqueles que mandam e influenciam no conteúdo jornalístico.
Seja por meio da edição das imagens ou da abordagem semiótica de textos e fotografias no Jornalismo, os profissionais da comunicação constroem os argumentos que melhor confortem os interesses da corporação, e não os verdadeiros interesses democráticos de um povo. Resultado: uma notícia parcialmente verdadeira.
Na contramão dos veículos de radiodifusão e impressos, milhares de blogueiros e tuiteiros usam a internet para mostrar outra realidade. E muitos deles enchem os olhos, as mentes e corações daqueles que ainda acreditam numa democracia plural no Brasil. A internet, sim, com toda a sua anarquia, é um verdadeiro instrumento de liberdade das vozes que nunca se calam.
E é nesse território livre, onde milhões de pessoas estão a todo instante complementando a outra metade da notícia, que o Brasil está se tornando mais forte. É na internet que cada vez mais milhões de cidadãos estão se sentindo sujeitos ativos do processo político. E essa participação na construção diária de uma realidade brasileira mais democrática é fundamental e irreversível. Viva o mundo virtual.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

José Serra, Heródoto Barbeiro, Gabrielo Priolli, TV Cultura, e a Liberdade de Imprensa?

 



Dois renomados jornalistas da TV Cultura, tutelada pelo governo paulista, foram demitidos nos últimos dias: Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli. Por mera coincidência, ambos questionaram os abusivos pedágios cobrados nas rodovias privatizadas do estado. A mídia demotucana, que tanto bravateia sobre a “liberdade de expressão”, evita tratar do assunto, que relembra a perseguição e a censura nos piores tempos da ditadura. Ela não vacila em blindar o presidenciável José Serra.
Heródoto Barbeiro, apresentador do programa Roda Viva, foi demitido após perguntar, ao vivo, sobre os altos pedágios. O ex-governador Serra, autoritário e despreparado, atacou o jornalista, acusando-o de repetir o “trololó petista”. Heródoto será substituído por Marília Gabriela, uma das estrelas da Rede Globo. Já Gabriel Priolli, que assumira a função de diretor de jornalismo da TV Cultura apenas uma semana antes, foi sumariamente dispensado ao pautar uma reportagem sobre o “delicado” assunto, que tanto incomoda e irrita os tucanos.
Risco à liberdade de expressão
Sua equipe chegou a entrevistar Geraldo Alckmin e Aloizio Mercadante, candidatos ao governo paulista. Mas pouco antes de ser exibida, a reportagem foi suspensa por ordens do novo vice-presidente de conteúdo da emissora, Fernando Vieira de Mello. “Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre viagens dos candidatos” e “Priolli foi demitido do cargo”, relata o sempre bem informado Luis Nassif, que também foi alvo de perseguições na TV Cultura.
Entre os jornalistas, não há dúvida de que mais estas demissões foram ordenadas diretamente por José Serra. Nas redes privadas de rádio e TV e nos jornalões e revistonas, o grão-tucano goza de forte influência. Ele costuma freqüentar as confortáveis salas dos barões da mídia. Ele também é conhecido por ligar para as redações exigindo a cabeça de repórteres inconvenientes. Depois os tucanos e a sua mídia ainda falam nos ataques à liberdade de expressão no governo Lula.
“Para quem ainda têm dúvidas, a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder da mídia, que já tem o poder de Estado”, alerta Nassif. Aguarda-se, agora, algum pronunciamento de Heródoto Barbeiro e Gabriel Priolli sobre o ditador José Serra, para o bem da dignidade dos jornalistas e do jornalismo.


NOTA COMPLEMENTAR DA REDAÇÃO
Matéria original do blog do Luis Nassif, 08/07/2010 às 22h25, você encontra abaixo:


“Há uma semana, Gabriel Priolli foi indicado diretor de jornalismo da TV Cultura.
Ontem [quarta 07], planejou uma matéria sobre os pedágios paulistas. Foram ouvidos Geraldo Alckmin e Aluizio Mercadante, candidatos ao governo do estado. Tentou-se ouvir a Secretaria dos Transportes, que não quis dar entrevistas. O jornalismo pediu ao menos uma nota oficial. Acabaram não se pronunciando.
Sete horas da noite, o novo vice-presidente de conteúdo da TV Cultura, Fernando Vieira de Mello, chamou Priolli em sua sala. Na volta, Priolli informou que a matéria teria que ser derrubada. Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre as viagens dos candidatos.
Hoje, Priolli foi demitido do cargo. Não durou uma semana. Semana passada foi Heródoto Barbeiro, demitido do cargo de apresentador do Roda Viva devido às perguntas sobre pedágio feitas ao candidato José Serra.
Para quem ainda têm dúvidas: a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra juntasse ao poder de mídia, que já tem, o poder de Estado.”



Censura na TV Cultura a mando de José Serra, candidato à Presidência 
pelo PSDB]Dois renomados jornalistas da TV Cultura, tutelada pelo governo 
paulista, foram demitidos nos últimos dias: Heródoto Barbeiro e Gabriel 
Priolli. Por mera coincidência, ambos questionaram os abusivos pedágios 
cobrados nas rodovias privatizadas do estado. A mídia demotucana, que tanto 
bravateia sobre a “liberdade de expressão”, evita tratar do assunto, que 
relembra a perseguição e a censura nos piores tempos da ditadura. Ela não 
vacila em blindar o presidenciável José Serra. 


Heródoto Barbeiro, apresentador do programa Roda Viva, foi demitido após 
perguntar, ao vivo, sobre os altos pedágios. O ex-governador Serra, 
autoritário e despreparado, atacou o jornalista, acusando-o de repetir o 
“trololó petista”. Heródoto será substituído por Marília Gabriela, uma das 
estrelas da Rede Globo. Já Gabriel Priolli, que assumira a função de diretor 
de jornalismo da TV Cultura apenas uma semana antes, foi sumariamente 
dispensado ao pautar uma reportagem sobre o “delicado” assunto, que tanto 
incomoda e irrita os tucanos. 

*Risco à liberdade de expressão* 

Sua equipe chegou a entrevistar Geraldo Alckmin e Aloizio Mercadante, 
candidatos ao governo paulista. Mas pouco antes de ser exibida, a reportagem 
foi suspensa por ordens do novo vice-presidente de conteúdo da emissora, 
Fernando Vieira de Mello. “Tiveram que improvisar uma matéria anódina sobre 
viagens dos candidatos” e “Priolli foi demitido do cargo”, relata o sempre 
bem informado Luis Nassif, que também foi alvo de perseguições na TV 
Cultura. 


Entre os jornalistas, não há dúvida de que mais estas demissões foram 
ordenadas diretamente por José Serra. Nas redes privadas de rádio e TV e nos 
jornalões e revistonas, o grão-tucano goza de forte influência. Ele costuma 
freqüentar as confortáveis salas dos barões da mídia. Ele também é conhecido 
por ligar para as redações exigindo a cabeça de repórteres inconvenientes. 
Depois os tucanos e a sua mídia ainda falam nos ataques à liberdade de 
expressão no governo Lula. 


“Para quem ainda têm dúvidas, a maior ameaça à liberdade de imprensa que 
esse país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, 
Serra juntasse ao poder da mídia, que já tem o poder de Estado”, alerta 
Nassif. Aguarda-se, agora, algum pronunciamento de Heródoto Barbeiro e 
Gabriel Priolli sobre o ditador José Serra, para o bem da dignidade dos 
jornalistas e do jornalismo. 


*NOTA COMPLEMENTAR DA REDAÇÃO* 
*Matéria original do blog do Luis Nassif, 08/07/2010 às 22h25, você encontra 
abaixo:* 


“Há uma semana, Gabriel Priolli foi indicado diretor de jornalismo da TV 
Cultura. 


Ontem [quarta 07], planejou uma matéria sobre os pedágios paulistas. Foram 
ouvidos Geraldo Alckmin e Aluizio Mercadante, candidatos ao governo do 
estado. Tentou-se ouvir a Secretaria dos Transportes, que não quis dar 
entrevistas. O jornalismo pediu ao menos uma nota oficial. Acabaram não se 
pronunciando. 


Sete horas da noite, o novo vice-presidente de conteúdo da TV Cultura, 
Fernando Vieira de Mello, chamou Priolli em sua sala. Na volta, Priolli 
informou que a matéria teria que ser derrubada. Tiveram que improvisar uma 
matéria anódina sobre as viagens dos candidatos. 


Hoje, Priolli foi demitido do cargo. Não durou uma semana. Semana passada 
foi Heródoto Barbeiro, demitido do cargo de apresentador do Roda Viva devido 
às perguntas sobre pedágio feitas ao candidato José Serra. 


Para quem ainda têm dúvidas: a maior ameaça à liberdade de imprensa que esse 
país jamais enfrentou, nas últimas décadas, seria se, por desgraça, Serra 
juntasse ao poder de mídia, que já tem, o poder de Estado.” 


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Palavras-chave: Gabriel 


Texto publicado em 09/07/2010 às 19:22 na(s) 
, Mídia <http://www.consciencia.net/pauta/midia/>. Acompanhe os comentários 
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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Maria Rita Kehl demitida do jornal Estado de SP após publicar texto

Blog do Prof. Luiz Assunção

QUINTA-FEIRA, 7 DE OUTUBRO DE 2010



A psicanalista paulista Maria Rita Kehl, reconhecida intelectual seja por suas contribuições à sua área de estudos e trabalho quanto às lutas políticas pela liberdade, democracia e contra os preconceitos sociais e de gênero,foi demitida na tarde de terça-feira, dia 05, pelo conselho editorial do jornal Estado de São Paulo por causa do artigo que publicou no sábado, véspera da eleição presidencial. 

O artigo, denominado “Dois pesos...”, inicia ressaltando a atitude do jornal Estado de São Paulo que explicitou seu apoio ao candidato Serra na presente eleição. No entanto Maria Rita Kehl vai desenvolver uma análise do Governo Lula e o papel político das classes, inclusive aquelas denominadas D e E, no contexto atual.

A reflexão parte de algumas mensagens correntes na internet e ao contrário do que falam essas mensagens, a autora mostra ponto por ponto como o Brasil mudou: “Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor”.

Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem.

Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem idéia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200?

O texto escrito com rigor e numa linguagem clara merece ser lido na sua totalidade. 

Em seu ultimo parágrafo afirma: Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

A partir da publicação do texto de Maria Rita Kehl e sua conseqüente demissão fica uma pergunta: qual é a liberdade de imprensa que os jornais reivindicam?

Para ler o texto acessar o jornal Estado de São Paulo no link:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101002/not_imp618576,0.php
DOIS PESOS
Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo
Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.
Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.
Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.
Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.
O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".
Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.
Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

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