domingo, 3 de abril de 2011

Líbia - Como e porque

Anna Malm
As resoluções 1970 e 1973 adotadas pelo Conselho de Segurança da ONU permitem à qualquer país bombardear a Libia.

Muitos dos que estão aplaudindo a destruição da Líbia, podem não ter entendido muito bem que eles próprios poderão ser as próximas vítimas de uma agressão internacional sancionada pelo Conselho de Segurança da ONU. Não nos enganemos quanto a aparencia superficial de legalidade. Essas duas resoluções são ilegais, uma vez que contradizem e confromtam os próprios estatutos da ONU. È como decretar leis nacionais que contradigam e confromtem o próprio Código Penal do país, e isso assim, sem maiores cerimonias ou explicações. * **

Ser amigo ou aliado subjugado dos interesses imperialistas, dessa vez claramente liderados pelos EUA-França-Inglaterra e dentro de poucas horas – NATO, não dá à ninguém razão de se sentir seguro e tranquilo. Uma constante dos Estados Unidos é a de não ser leal a ninguém, como a história já nos mostrou com suficiente claridade, como por exemplo com Saddam Hussein no Iraque e Hosni Mubarak no Egito. Dois “amigos” de por aí vinte à trinta e tantos anos.

Líbia: Quem são os insurgentes e quem são seus patrões? Introduzindo o assunto Peter Dale Scott [1] ressalta que o mundo está frente a uma situação muito imprevisível e perigosa, com os Estados Unidos já muito envolvido no Iraque e Afeganistão e com assaltos esporádicos ao Yemen e à Somalia, agora bombardeando ainda a mais um país, a Líbia, no norte da Africa. Obama, já deu indicações de que os Estados Unidos estão se encaminhando à uma guerra para mudança de regime no continente africano. Peter Dale aponta também para o fato de que essa guerra seria prolongada – compreenda se dolorosa, assim como a do Iraque nos mostrou como é que é, e com potenciais riscos de se extender bem para além da Líbia, na região compreendendo o norte da Africa e o Oriente Médio.

Muammar Al Gaddafi, aos 27 anos foi o chefe de um pequeno grupo de oficiais (que no espírito declarado por Abdel Nasser) tirou, através de um golpe de estado não sangrento, o então rei da Libia do poder. Depois disso os assaltos e ameaças à sua vida começaram. Esses assaltos e ameaças vieram de monarquistas, do Serviço de Inteligencia de Isarael (Mossad), de alguns desafetos palestinianos, do Serviço de Segurança da Arábia Saudita, da Fronte Nacioanl de Salvação da Líbia (NFSL na sigla inglesa), da Conferencia Nacional da Oposição Líbia (NCLO na sigla inglesa), do Serviço de Inteligencia Britanico, do antagonismo dos Estados Unidos e em 1995, do mais sério de todos:- de um grupo similar à Al-Qaeda, um grupo revolucionário Islamico conhecido como A- Jamaà al-Islamiyyah al-Muqatilah bi-Libya, (LIFG pelas siglas inglesas) [1]

Dessa lista ressalta-se abaixo os que são os insurgentes na Líbia hoje em dia.. Para facilitar a compreensão serão esses apresentados como 1), 2) e 3). Note-se que são grupos treinados e armados, sendo assim na Libia, uma situação muito diferente da que a que ocorreu tanto na Tunísia como no Egito.

1) A Frente Nacional para a Salvação da Líbia (NFSL). Com a intenção de tirar Kadafi do poder, Israel e os Estados Unidos treinaram rebeldes anti-Kadafi em diversos países africanos. Documentação oficial norte-americana indica que o financiamento para a guerra secreta contra a Libia, com base em Chad, também veio da Arabia Saudita, Egito, Marroco, Israel e Iraque. O NFSL também foi apoiado pelo Serviço de Inteligencia Francês, assim como pela CIA . [1]

2) Conferencia Nacional para Oposição na Líbia (NCLO):- A Frente Nacional para a Salvação da Líbia (NFSL) cooperou com esse movimento (o NCLO) e recursos britanicos foram, e estão sendo usados, para apoiar os mencionados e outros oposicionistas na Libia. O maior grupo chefiando a insurreição atual é exatamente esse under ponto 2), ou seja, a Conferencia Nacional –NCLO. O MI6 (Serviço de Inteligencia britanico) foi já no passado acusado de apoiar essa organização. O envolvimento do governo britanico com a NCLO, apesar de ser ponto de controversa, é claro quanto ao deixar o grupo LIFG (apontado acima como um grupo similar à Al-Qaeda) à desenvolver bases para suporte logístico, ou seja, comunicação transporte e moradia por ex , assim também como o levantamento de fundos na Inglaterra. [1]

3) A Frente Islamica – Al-Jamaá al Islamiyya al Muqatilah bi-Libya (Libyan Islamic Fighting Group- (LIFG)O ataque de maior significancia dessa Frente Islamica foi a tentativa de assassinar Kadafi em 1996, quando jogaram uma bomba na comitiva dele, mas o grupo também age como guerrilhas contra as Forças de Segurança da Libia. Dirigentes desse grupo são considerados como envolvidos em criar um “Emirato Islamico” na agora chamado parte liberada, no noroeste da Libia. [1]

Nota-se que já em setembro de 1995, confrontações violentas ocorreram entre as forças de segurança de Kadafi e essa Frente Islamica –LIFG.[1]

Americanos, ingleses e franceses são agora camaradas em armas com esse grupo – não só similar a Al-Qaeda como também um elemento da mesma. Hillary Clinton admite que esses serão provavelmente mais anti americanos que Kadafi, mas é como diz o provérbio, os fins justificam os meios... [1]

Num estudo recente, Stephen Walt, à respeito do que a Libia nos ensina quanto as diferenças entre os neo-conservativos e os liberais nos Estados Unidos, argumenta que os atuais liberais- intervencionistas dos Estados Unidos (a administração de Obama, por exemplo) nada mais são que neo-cons com uma retórica mais agradável. [2]

Walt deduz que os Estados Unidos foram levados à guerra contra a Libia em grande parte pelos conselhos de liberais- intervencionistas como Susan Rice, atual embaixador para os Estados Unidos na ONU, Hillary Clinton, e os assistentes junto ao NSC (National Security Council- Conselho de Segurança Nacional) , Samantha Power e MichelMcFaul. Fato é que de acordo com muitos diferentes fontes e reportes, Obama leva o pais à guerra, apesar da objeção e oposição do próprio Secretário da Defesa norte-americano, Robert Gates, e de um, ao que entendi, importante conselheiro da Segurança Nacional, Tom Donilon. [2]



Por minha parte vi na televisão suéca que o próprio Secretário de Defesa norte-americano, Robert Gates, num encontro com altos dignatários da sua esfera, disse claramente que qualquer futuro oficial responsável pela segurança norte-americana, deveria deixar sua cabeça ser examinada por professionais competentes, se lhe passasse pela mesma iniciar qualquer outra ocupação ou agressão militar na Africa ou no Oriente Médio. Não se passaram mais que pouquissimos dias e lá estava a administração Obama a caminho de atolar-se na Libia, no norte da Africa, claramente e ativamente apoiado por Hillary Clinton.



De acordo com Stephen Walt [2] os neo-conservativos mostram desprezo pelas instituições internacionais, que eles veem como barreiras a uma maor aquisição de poder, enquanto os liberais intervencionistas (tipo Obama e Hillary Clinton) parecem ver as mesmas instituições como uma maneira certa e segura de poder legitimar uma dominancia norte-americana no mundo.

Liberais intervencionistas e neo-conservativos acreditam então que o poder militar norte-americano possa ser um instrumento altamente efetivo de imposição, assim também como ficam igual e profundamente alarmados frente à perspectiva de ter o poder atomico nas mãos de qualquer outros que não eles mesmos, e seus mais próximos aliados. [2]

Eu, por minha vez, fico profundamente alarmada vendo os Estados Unidos, que considero como o maior terrorista na face da terra, tendo justo isso. Acesso total as armas de destruição em grande escala. Se não usaram toda a escala no Iraque, usaram o uranio empobrecido, ou seja lixo atomico em escala massiva, com consequencias abomináveis para os iraquianos, fato esse que a média corporativa cúmplice, até hoje silencia e isso também em grande escala.

Constatamos agora que a guerra no Cosovo- Iugoslávia, em 1999, efetuada pela OTAN, foi a primeira grande guerra na história da humanidade na qual nenhuma operação de combate se efetuou entre os contraentes no campo de batalha, sendo também a primeira guerra sem qualquer e nenhuma perda, em combate, por parte do agressor. [3]

Desproporções vergonhosas vimos à partir de então no Iraque, Gaza, Afeganistão e entre muitos outros ataques furtivos como por ex. no Yemen e Somalia. Motivo de maior preocupação ainda, se isso fosse possível, seria essa, ao que parece, nova moda de agressões internacionais sendo ilegalmente sancionada pelo Conselho de Segurança da ONU.

Quanto a todos os porques da atual guerra nunca se pode saber ao certo, mas para além dos enormes interesses financeiros da atual coalição bombeando a Libia e que agora se voltam à OTAN para completar o serviço, existem ainda motivos com sequencia histórica, como apresentados abaixo em sequencia. [**]

1969, quando da tomada de poder por Kadafi. Na décima- quarta sessão da ONU, na Assembléia Geral, os embaixadores dos Estados Unidos e da Inglaterra foram notificados que a Libia não mais acomodaria as bases militares inglesas e americanas.

1970- O setor financeiro da Libia foi nacionalisado por Kadafi.

1973. Iraque, Algéria e Libia nacionalizarm suas indústrias energéticas petroleiras e Libia levou a agenda de nacionalização à OPEC (sigla inglesa para os países produtores de petróleo).

1977- A Libia de Kadafi proclama uma economia de “self-governance” (governo próprio), um tipo de socialismo, baseado no modelo Iugoslavo.

Ao apresentado acrescenta-se a tentativa de Kadafi de introduzir recentemente uma forma de moeda-ouro que naturalmente viria em detrimento do dólar como reserva de valuta mundial. O dólar como moeda de reserva mundial é, como sabemos, uma das duas pernas que ainda sustemtam o colosso derrocando. A outra perna sendo o abusivo poder militar do mesmo.

Ao histórico podemos acrescentar que depois de tudo- até mesmo depois das acusações levantadas contra Kadafi, tanto acusações de terrorismo como acusações, provavelmente baseadas em fatos, de financiamente de terrorismo, ocorridas mais ou menos até ano 2000- a situação mudou. Especialmente depois de 2003 as relações de Kadafi com as potencias imperialistas tomaram um novo rumo. Diz-se que em muitos aspectos por causa da atuação de um dos seus filhos. Os antigos colonistas, assim como as mais novas potencias emperialistas voltaram à Libia e lá estiveram até agora, de onde saem as pressas para voltar com bombas, mísseis, Tomahawks e coisas do genero. 

Pelo que vemos a tentativa de submissão da Libia não adiantou muito. O que essas ditas potencias querem é tudo e mais nada, sem ter que dar satisfações á nenhum governo dirigido por um coronel que pensa ser alguma coisa. Dessa vez pretendem conseguir isso com o avanço bélico da OTAN e pela cumplicidade ilegal do Conselho de Segurança da ONU.

REFERENCIAS E NOTAS:

* Beto Almeida, “Líbia, Obama, Dilma e o exemplo de Tancredo” em www.patrialatina.com.br

**Alexander Mezyaev, “UN Security Council on Libya: Killing the International Law” No original em www.strategic-culture.org : “The UN Security Council passed Resolution 1973 on Libya slapping new sanctions on the country and reinforcing the ones it endures due to Resolution 1970 dated February 26. The truth is that the new Resolution erodes the international law to the point of virtually killing it…What sense does it make to urge a government facing a mutiny to stop fighting and does the UN have the right to de fato side with the rebels trying to overthrow the administration in a UN member country?

[1] Peter Dale Scott, a former Canadian diplomat and English Professor at the University at the University of California. ( Peter Dale- ex diplomata canadense e professor na cátedra de inglês da Universidade da California) em www.globalresearch.ca

[2] Stephen Walt in www.raceforiran.com : “What Intervention in Libya Tell us About the Neocon-Liberal Alliance”

[3] Wilhelm Agrell, “Morgon-Dagens Krig”. Edição suéca. (As Guerras de Amanhã)

* Anna Malm escreve direto de Estocolmo na Suecia para o Pátria Latina
http://www.patrialatina.com.br/colunaconteudo.php?idprog=b3b4d2dbedc99fe843fd3dedb02f086f&codcolunista=69&cod=1981

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