sábado, 9 de julho de 2011

Estudo das línguas brasileiras

Minas Gerais fala o português de três formas diferentes


O jeito mineiro de falar, que já enriqueceu o anedotário nacional, ainda reserva algumas surpresas. Primeira: não há apenas um jeito mineiro de falar o português, mas três diferentes. Segunda: toda essa diversidade gerou um atlas linguístico, que mapeou onde se fala o quê. Não é um trabalho fácil. Esse levantamento finalmente concluído vem sendo feito desde a década de 70 pelo professor Mário Roberto Zágari do Departamento de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele reuniu as informações que colheu no livro do "Esboço de um Atlas Lingüístico de Minas Gerais". O trabalho, que já tem editado o primeiro volume e engatilhados os outros dois, foi apoiado pela Fapemig, que o divulgou em seu portal. Para o trabalho, Zágari reuniu mais de cinco mil horas de gravação em entrevistas com pessoas de diversos níveis sociais em 186 locais diferentes, alguns visitados diversas vezes.
A região norte do estado, que inclui cidades como Itamarandiba, Governador Valadares, Paracatu, Várzea de Palma e outras, mostrou um "falar abaianado", claramente influenciado pelo estado vizinho, a Bahia. Nessa região predominam no falar as vogais pretônicas (que surgem antes da sílaba tônica). Fala-se "córação", "lévando", "pérdido", "séreno", "mélado" etc. Além disso, as consoantes "t" e "d", quando surgem antes de "i" são mais concisas do que no resto do estado. Fala-se "saudadi" e "idadi", enquanto no resto de Minas fala-se "saudadji" e "idadji". Ocorre ainda a nasalidade fora da sílaba tônica: "jãnela", "cãneta" e "bãnãna".
Numa Segunda região, Zágari encontrou um "falar apaulistado", influenciado pelo também vizinho estado de São Paulo (cidades como Divinópolis, Pará de Minas e Lavras, Patos de Minas e São Gonçalo do Abaeté). O estilo dessa região contém o "r" retroflexo, ou seja, a letra sempre é pronunciada com a língua voltando-se mais para a garganta do que para os dentes, o que se assemelha muito ao falar do caipira paulista. Isso dá grande destaque ao "r" em palavras como "morte", "carta", "margem" e "cisterna".
Na terceria região é encontrado o falar mineiro mais típico, que não tem nenhuma das características anteriores. Nesta região, que fica entre as duas áreas citadas, a tendência é engolir ou trocar letras e sílabas, além de aglutinar palavras. Fala-se "ocê" (você), "pópegá" (pode pegar), "dexovê" (deixa eu ver), "mininu" (menino) e "chuvenu" (chovendo). Nessa região também desaparece o "d" e o "u" substitui o "o" em expressões de gerúndio, como em "andanu" (andando), "falanu" (falando) e "fazenu" (fazendo). Também se despreza os ditongos formados no meio das palavras, como em "pexe" (peixe), "faxa" (faixa) e "temoso" (teimoso) para que, paradoxalmente, se formem ditongos em sílabas finais quando a vogal é antecedida de "s" ou "z", como em "arroiz" (arroz), "feiz" (fez) e "treis" (três).
Embora tenha definido claramente as diferenças entre as três maneiras de falar, Zágari diz que é impossível determinar as fronteiras definitivas dos locais onde elas ocorrem porque há algumas áreas de intersecção e o nível de escolaridade também imprime diferenças nesses tipos de falar.
prometeu.com.br




OBS: Gostaria de acrescentar que existe mais uma forma de falar em Minas Gerais, o de Juiz de Fora, que está próximo do Rio de Janeiro, sofrendo por isso, grande influencia local. O reflexo é a utilização do S carioca. Como dizemos, lá na região de Juiz de Fora moram os mineiros que se acham cariocas. 

Um comentário:

Ygbere - Abaara disse...

Muito bom este texto, a língua brasileira é maravilhosa e deveríamos prestar mais atenção a isto.
Parabéns pela iniciativa.
Ygbere

Postagem em destaque

A importância do Ponto de Referência

O ÂNGULO QUE VOCÊ ESTÁ, MUDA A REALIDADE QUE VOCÊ VÊ Joelma Silva Aprender a modificar os nossos "pontos de vista" é u...