quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Os líbios recuperaram sua alma


“A libertação da Líbia é iminente. Entre a população já há um clima de festa, o ditador praticamente já não se faz ouvir e polícia e exército escolheram abertamente pelo lado do povo.” Omar Elkeddi, do departamento árabe da Radio Nederland, acredita piamente nisso e as últimas notícias da Líbia parecem confirmar o que ele diz.
Omar Elkeddi

Pressenza Trípoli, 2/23/11 Natural da Líbia, Omar vive desde 1999 na Holanda, para onde veio como refugiado político. Nestes últimos dias, ele tem falado continuamente com seus familiares e amigos na Líbia – ao menos quando as conexões permitem. A internet está no momento cortada e os telefones também não funcionam em grande parte do país.
Libertação
As palavras que Elkeddi usa para o que acontece neste momento em seu país são “revolução” e“libertação”. E alegria, pelo menos em algumas regiões.
“A população da Líbia está muito feliz, as pessoas nas ruas expressam sua alegria. Depois de 42 anos elas estão livres, se livraram do ditador. Mas não foi fácil. Muitos morreram e muitos ficaram feridos.”
O contraste com a situação de uma semana atrás é enorme. “A Líbia era uma ditadura totalitária sob o regime de Muamar Kadhafi. As pessoas não ousavam dizer nada. As únicas demonstrações eram a favor do regime. Agora o medo continua apenas na capital, Trípoli. O resto do país está nas mãos do povo”, diz Elkeddi.
Na noite de segunda-feira, Kadhafi apareceu rapidamente na televisão líbia declarando que estava em Trípoli e que não havia fugido para a Venezuela. Não está claro onde ele se encontra, mas aparentemente ele não quer entregar o poder. A situação ainda é muito tensa em várias partes do país. Mesmo em Benghazi, segunda maior cidade da Líbia, onde a revolta começou e que já está nas mãos de grupos anti-Kadhafi.
Inspiração
Os líbios foram inspirados pelos acontecimentos na Tunísia e no Egito, diz Elkeddi. Assim como nestes outros países, é uma revolução da juventude. A libertação da Líbia teve início com uma demonstração no dia 17 de fevereiro. A convocação foi divulgada via Facebook. Antes, demonstrações eram brutalmente reprimidas. O que mudou agora?
“O exército e a polícia foram para o lado do povo”, diz Elkeddi. Os militares teriam distribuído armas entre a população. Os únicos que ainda seguem Kadhafi, segundo o jornalista, são as brigadas de segurança, ao menos em parte. Mesmo membros destes grupos se afastaram.
Construção
Elkeddi ouviu dizer que membros dos temidos e odiados comitês revolucionários caíram nas mãos do povo. Não teriam sido mortos, mas estariam em prisão domiciliar.
“Até agora, em toda a área libertada, não há notícias sobre invasões de propriedade ou saques, nem nenhuma mulher foi violentada. Isso mostra que as pessoas recuperaram a alma que haviam perdido durante a ditadura.”
Elkeddi também acredita ser um bom sinal o fato de que mesmo na cidade natal do ditador, Sirte, os membros da tribo de Kadhafi não tenham sido molestados. E acha que não haverá guerra civil em seu país, pois segundo ele existe uma unidade nacional.
Omar Elkeddi nunca viu algo assim na Líbia e diz que gostaria de estar lá para participar e ajudar na construção da democracia. “Há muito o que fazer na Líbia.” Após 42 anos de ditadura, o país não tem Constituição ou partidos políticos, embora exista uma oposição ativa no exílio.

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