segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Agressão à Mãe de Santo em Ilhéus


A mãe de santo Bernadete Souza, agredida por oito policiais militares em Ilhéus, no sul baiano, vai participar de uma audiência no Ministério Público Federal nesta terça-feira.

Uma sindicância para apurar a materialidade dos fatos já foi aberta pela Polícia Militar do Estado, que deve concluir as investigações hoje. Os agentes que jogaram a ialorixá em um formigueiro não tiveram os nomes revelados e continuam em serviço

Há uma expectativa de que Bernadete seja recebida pelo governador Jaques Wagner, nesta quarta-feira.

O caso

No final de outubro, a mãe de santo foi acusada de desacato à autoridade, jogada em um formigueiro depois de ter incorporado Oxóssi e arrastada por 600 metros. Bernadete foi levada à delegacia como louca e colocada numa cela com homens.

Ela teria questionado os policiais por terem entrado no assentamento do Incra e algemado um jovem, sem mostrar o mandado de segurança.


As denúncias de tortura, humilhação e discriminação sofridas pela ialorixá Bernadete Ferreira dos Santos no município de Ilhéus, no sul da Bahia, deverão ser apuradas pelo Grupo de Atuação Especial de Combate à Discriminação (Gedis) do Ministério Público estadual. Após ouvir o relato da vítima na última quinta-feira, dia 4, o coordenador do grupo, promotor de Justiça Cícero Ornellas, se comprometeu a acompanhar as investigações do caso conjuntamente com a Promotoria de Justiça de Ilhéus. Bernadete dos Santos e entidades representativas do movimento negro pediram o apoio do Ministério Público na apuração dos fatos denunciados e mostraram-se preocupados com a escalada de violência que as religiões de matriz africana vêm sofrendo na Bahia. Os fatos narrados são chocantes, afirmou Ornellas, salientando que, com a conclusão das investigações, o MP deverá adotar medidas efetivas para coibir a agressividade e impedir que ocorram fatos de intolerância semelhantes.

De acordo com a representação criminal entregue ao Ministério Público em Ilhéus no último dia 26 de outubro, Bernadete dos Santos foi vítima de agressões físicas e psíquicas cometidas por policiais militares, que também praticaram uma série de atos ilegais e arbitrários. Segundo o relato da vítima, no início da tarde do dia 23 de outubro, oito policiais fardados e armados entraram no Assentamento Don Helder Câmara, administrado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e seguiram para um matagal com um rapaz algemado. Na qualidade de representante da comunidade e acompanhada do esposo, Bernadete indagou aos policiais o que estava acontecendo e informou que ali trata-se de área federal, esclarecendo que eles não podiam adentrar no assentamento desprovidos de ordem judicial. A partir daí, inciaram-se as agressões à vítima, que teria sido algemada e torturada, chegando a ser puxada pelos cabelos e jogada em um formigueiro. Ainda de acordo com o relato, os policiais diziam que Bernadete estava possuída pelo Satanás e que iriam tirar o diabo do corpo dela, arrastado-a por 600 metros. Moradores do assentamento teriam presenciado todo o sofrimento da vítima, que ainda foi presa em uma cela por três horas, junto com homens, na cadeia pública de Ilhéus. De acordo com o promotor de Justiça Cícero Ornellas, a Polícia Militar abriu sindicância para apurar os fatos.

Autor: Aline D'Eça (MTb-BA 2594)



Na terça-feira, Bernadete participará em Ilhéus de audiência no Ministério Público Federal para tratar sobre a denúncia contra os oito policias militares. 

Jorge Gauthier
Red
ação CORREIO


A agressão sofrida pela mãe de santo Bernadete Souza Ferreira Santos, 42 anos, que foi jogada num formigueiro por policiais militares em Ilhéus, no Sul do estado, segundo o professor antropólogo Ordep Serra não é um fato isolado de intolerância religiosa na Bahia.

“Fiquei horrorizado com a brutalidade que fizeram com ela, mas esse caso não é único. Em pesquisa que estamos desenvolvendo já identificamos pelo menos 62 pessoas de santo que foram ou são vítimas de intolerância religiosa na Bahia. Isso forçou, inclusive, a Secretaria de Segurança Pública criar uma comissão especial para tratar desses casos”, destacou o professor de Antropologia da Universidade Federal da Bahia e membro do terreiro Casa Branca.

Em função das agressões ocorridas dentro do assentamento Dom Helder Câmara, que é uma área federal e não poderia ter ação da polícia militar, a mãe de santo será recebida quarta-feira pelo governador Jaques Wagner. “Espero que o governador possa nos dar uma posição sobre a violência que eu sofri”, disse a ialorixá que alega ter sido jogada num formigueiro quando os policiais perceberam que ela estava manifestada em Oxóssi, orixá do candomblé. “Disseram que era para me jogar no formigueiro para o demônio sair de mim”, lembra. 

Na terça-feira, Bernadete participará em Ilhéus de audiência no Ministério Público Federal para tratar sobre a denúncia contra os oito policias militares. Segundo a PM, o tenente coronel Manoel Amâncio Souza Neto preside sindicância sobre o assunto para apurar a materialidade dos fatos. Enquanto não há posição quando à violência, os oito policiais, que não tiveram os nomes revelados, continuam em serviço. A PM informou que a sindicância deve ser concluída até amanhã.
 

A advogada da mãe de santo, Adalice Gonçalves, que tornou pública a denúncia de tortura, informou que vai mover ação penal e de indenização contra o estado pela agressão praticada contra a ialorixá. Até o final do mês, a ouvidoria nacional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária realiza reunião para discutir o tema.

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