Hoje votei no sonho de um socialismo possível. Votei em DILMA ROUSSEFF.
A eleição de 2010 foi a mais apaixonante da história recente, mas infelizmente para todos nós exibiu-se como mera picuinha. Os dois candidatos majoritários primaram pela falta de propostas, projetos e substância. A campanha foi um jogo de aparências, como também é no mundo real, nas ruas, onde as pessoas se iludem mutuamente com cosméticos e falta de conteúdo. O que importava era ganhar a Copa do Mundo com mão na bola ou perder um jogo fácil para faturar o Campeonato Mundial de Vôlei.
Nessa eleição, não se falou em um projeto para o país e nem se deu importância aos Vices. O que houve foi uma briguinha de rua, uma rinha de galos disfarçada de campanha. E ao contrário do que se pensa, nunca esteve em jogo eleger a sucessora ou a eleita do presidente Lula, mas sim em escolher se o candidato era feio ou bonito, gordo ou magro, corintiano ou são paulino, evangélico ou católico, flamenguista ou vascaíno, homo ou hetero, colorado ou gremista, negro ou branco, cruzeirense ou atleticano, etc. A dualidade e a paixão tomaram conta deste pleito de uma forma que não via há tempos. Me recordou a campanha do Fernando Collor, cujos assessores pagaram à ex-mulher do então candidato Lula para que ela falasse sobre aborto. A senhora apareceu em nossas TVs alardeando que o candidato barbudo pedira a ela que praticasse um aborto. Isso incluiu no pleito, como não. No debate na Rede Globo, Collor, um garoto bem nascido, teve a desplante de afirmar que nem “som” (aparelho de) tinha em casa. Era chute na canela, nos testículos e na nossa inteligência. Era a campanha do feio e do bonito, do educado e do analfabeto, do preparado e do despreparado, era luta de classes.Brizola dizia que ele era o candidato certo para derrotar Collor, e que Lula não teria chances. Talvez tivesse razão. O Brasil seria melhor com o líder do PDT como presidente? Não sei, mas certamente seria outro, pois cada candidato, cada síndico, cada líder estudantil é único e dependendo do momento histórico, insubstituível. O Brasil seria outro, nem melhor nem pior, mas é fato de que o país precisou do regime militar, do Collor e do Fernando Henrique para amadurecer, crescer e se conhecer, não há dúvidas.
A Vitória de Dilma Rousseff não é a Vitória do Continuísmo, nem do PT, mas do próprio país, é o Ajuste de Contas Com A Nossa História, que precisava acertar os ponteiros com o seu povo, não apenas com um grupo específico nem com uma classe, mas com o conjunto dos brasileiros. Um país dividido em 50% de certos e 50% de errados não pode frutificar se não há compreensão do processo histórico.
Viajar para o interior do país é a melhor forma de conhecer a nossa realidade, conhecer a alma desse povo, ainda envergonhado de ser como é e orgulhoso das suas vitórias. Conhecer o Brasil não é assistir escola de Samba no Rio, nem presenciar o Boi no norte ou passar final de semana em resorts, é ver que ainda existem localidades sem luz e com famílias numerosas vivendo em casebres.
Dilma Rousseff significa muitas coisas, além da vitória feminina. Principalmente para mim, e talvez para a minha geração, ela simboliza o fechamento do ciclo da quartelada de 1964, que se encerra com o primeiro operário e a primeira mulher, presidentes. Muitos reclamam que os torturadores de verde-oliva não foram punidos pelos seus crimes, como ocorreu na Argentina, mas cada povo, cada rosto. A anistia assinada pelo então presidente Figueiredo em 28 de agosto de 1979, era de fato, um acórdão que limpava a barra dos torturadores e não pedia desculpa aos torturados, mas que dava trégua à luta, assim como a Princesa Isabel “anistiou” os escravos sem pagar as indenizações aos seus “donos”. Talvez por causa disso, os bens da família real foram confiscados pelos golpistas durante o banimento.
No Brasil as coisas sempre foram feitas pelos cantos e pela metade. Julgar o passado com os olhos do presente é mera falácia, mas comparar fatos é possível.
Rousseff entrou para a história para fazer as pazes com o passado recente. De agora em diante, estamos “quase” quites. Para mostrar que houve alguma evolução sim, em pouco mais de cem anos, listo seis exemplos que referendam este texto.
1) Essa é a primeira vez na história da República que tivemos 6 eleições diretas seguidas.
2) O Golpe Republicano que depôs os Bragança e o velho Dom Pedro II em 1889 não queria apenas mudar o Chefe da Nação ou a forma de governo, mas impedir que uma mulher, a Princesa Isabel, assumisse o comando, pois além de ser do sexo feminino, era casada com um estrangeiro. Inclua-se aí, que os netos do idoso Imperador eram imaturos e arrogantes. Mulher não tinha vez nesse país até agora, mas os preconceitos persistem, vide o que ocorre nesse momento na Argentina, onde todos falam que sem o marido, Cristina Kirchnernão conseguirá governar.
3) Celina Guimarães Viana foi a primeira mulher a votar em 1928, na cidade de Mossoró no Rio Grande do Norte.
4) Nascido no interior do próprio exército, o MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário) foi o primeiro grupo revolucionário pós-1964.
5) Quando o escritor Monteiro Lobato afirmou que havia petróleo no Brasil, na década de 30 do século XX , foi tratado como louco.
6) Todos os presidentes brasileiros, com exceção de Lula foram homens brancos, egressos das Elites dominantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário