Não importa se o seu filho é decente. Todos os pais somos culpados por essa juventude que nas últimas semanas chamou atenção do país para o nível de degradação moral e para os instintos perversos que passou a exibir em sua parcela “bem-nascida”, que, portanto, não tem desculpa como a dos jovens carentes para agir de forma anti-social.
Até por omissão, no mínimo permitimos que amigos ou parentes ensinassem aos filhos intolerância e preconceito. Assistimos impassíveis a pessoas que conhecemos começarem a mutilar na infância o caráter desses jovens que estão dando shows deprimentes de intolerância, de racismo, de xenofobia, de homofobia e sabe-se lá mais do quê.
Todos sabemos que essas barbaridades preconceituosas são ditas há muito tempo por pais dessa geração que agora dá esse espetáculo dantesco. Claro que tomavam cuidado de só dizer isso em festas fechadas ou em reuniões familiares. Todavia, quantas vezes, para não “criar caso”, assistimos a tais atitudes e condescendemos com elas?
Quem não tem aquele sogro, cunhado, genro, tio, vizinho reacionário, preconceituoso que, eventualmente, propõe separar o Sul-Sudeste do Norte-Nordeste, ou que se refere a nordestinos como “baianos” ou “paraíbas”, ou que diz, inclusive diante das crianças, que teve vontade de ser violento com um homossexual ou, no mínimo, de insultá-lo?
E o que fizemos? Dissemos às crianças ou adolescentes presentes que não deveriam imitar quem acabara de pregar condutas tão imorais? Para não nos incomodarmos, para não passarmos por “encrenqueiros” ou por “chatos”, talvez tenhamos até rido de piadas racistas, xenofóbicas ou homofóbicas diante de nossos filhos ou dos filhos de outrem.
Aí está o resultado. Nas redes sociais na internet pode-se encontrar legiões de milhares de jovens propagando tais sentimentos degenerados como se estivessem recitando poesias.
Para os que como nós, pais, pertencem a uma geração que acalentava ideais de liberdade, de igualdade e de fraternidade na juventude, é vergonhoso que tenhamos cedido às perversões que a maioria de nós combateu quando tinha a idade dessas pouco mais do que crianças que estão chocando o país com as suas condutas perversas.
O que fizemos com os nossos filhos? Será que imaginamos que aqueles que estão mais perto do poder – por suas condições sociais – nutririam, quando crescessem, esse desprezo tão estarrecedoramente completo pelos seus semelhantes?
Claro que grande parte dessa geração que está para chegar ao poder não compartilha as idéias pervertidas que temos visto se espalharem, mas, como dizia Martin Luther King, “O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons”.
É na omissão que nos tornamos todos cúmplices. Tanto os que deram tais exemplos aos seus filhos quanto os que não deram mas permitiram que amigos ou parentes dessem, e que não agiram para mostrar àqueles filhos que aquela conduta não poderia jamais ser imitada.
Talvez jogando a luz do Sol sobre essas criaturas gestadas nas trevas morais erguidas por pais irresponsáveis ganhemos tempo para salvar alguma coisa da mentalidade de uma juventude apática de ideais e de valores que só pensa em ganhar dinheiro e em se “posicionar” socialmente junto aos “vencedores”. Talvez, mas só talvez…
Eduardo Guimarães
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